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Noite do Rio em 2013 por Pontos Turísticos. |
Quem atualmente vive ou conhece a cidade do Rio de Janeiro,
não imagina quanto bucólica já foi esta agitada metrópole brasileira. Através
dos olhos de Darvin pode-se viajar no tempo e reencontrá-la ainda em seu estado
“virginal”, repleta de pirilampos, há quase duzentos anos, entre abril e junho de 1832.
Darwin: A essas
horas, veem-se os pirilampos acender sua luzinha aqui e acolá. A luz, em noites
escuras, é visível a cerca de duzentos passos de distância. É digno de nota
que, em todas as diferentes espécies de insetos luminosos, elatérios reluzentes
e animais marinhos (como crustáceos, medusas, nereidas e coraliários dos
gêneros Clytia e Pyrosoma) que observei, a luz tem sido de uma cor verde muito
acentuada.
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Clytia noliformis por NaturaMalta.com |
Darwin: Todos os
insetos luminosos que apanhei, aqui, pertencem à família Lampyridae (na qual se
acham incluídos os que se veem na Inglaterra), constituindo o maior número de
espécimes do Lampyris occidentalis.
Verifiquei que os insetos emitiam seu maior brilho quando
eram irritados, ficando escuros nos intervalos os anéis abdominais. O brilho
era quase simultâneo nos dois anéis, mas a princípio apenas perceptível no anel
anterior. A substância luminosa era fluida e muito adesiva, e, nos lugares onde
a pele havia sido tirada, continuavam pequenos pontos a brilhar com ligeira
cintilação, ao passo que as partes intactas permaneciam obscuras. Decapitado o
inseto, os anéis mantinham-se com brilho ininterrupto, não tão intenso, porém,
como antes: a excitação local com o estilete sempre intensificava a vivacidade
da luz.
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Espécime da Família Lampyridae (wordnik) |
Darwin: Numa das experiências, os anéis retiveram sua propriedade
luminosa durante quase vinte e quatro horas depois da morte do inseto. Conclui-se
da observação destes fatos, que o animal tem apenas o poder de ocultar ou
extinguir a luz durante curtos intervalos, e que, fora disso, a emissão de luz
é involuntária.
Atualmente,
é sabido que na bioluminescência há uma transdução quimiofísica, ou seja, uma
transformação de energia química em energia luminosa. O estudo bioquímico desse
fenômeno revelou que é extremamente variável, dependendo em geral da ação de
uma enzima, a luciferase, sobre um substrato, a luciferina. Ambas reagem entre
si, com a oxidação de um substrato pelo oxigênio, liberando luz. Nos insetos,
como no caso do vaga-lume, além de luciferina e luciferase é necessária a
presença de ATP, consumido durante a emissão de luz (Infoescola).
Darwin: No
cascalho úmido e lamacento dos caminhos encontrei um grande número de larvas
deste Lampyris, que muito se pareciam
com as fêmeas dos ingleses. As larvas possuíam apenas fraco poder luminoso e, contrário
aos insetos adultos, aparentavam ao mais leve contato, o estado de morte,
deixando de brilhar. Nenhuma excitação conseguia fazer reaparecer a
luminosidade.
Guardei
por algum tempo várias larvas vivas. A cauda é um órgão bastante singular, por
isso que representa, por meio de dispositivo adequado, o papel de ventosa ou
órgão de fixação, ao mesmo tempo que funciona como reservatório de saliva, ou
líquido semelhante. Dei-lhes várias vezes como alimento carne crua, e sempre
pude notar que, de momento em momento, a extremidade da cauda procurava a boca
do animal e deixava uma gotícula de um fluido qualquer sobre a carne, no
instante em que esta ia ser consumida. Apesar desse movimento se processar tão frequentemente,
a cauda parece não poder dirigir-se sobre a boca diretamente, o pescoço sendo
invariavelmente tocado em primeiro lugar, talvez como ponto de reparo.
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Larva de vagalume (lifebiologi) |
Vaga-lumes são insetos coleópteros das famílias Elateridae,
Phengodidae ou Lampyridae. Dependendo da espécies, observa-se que as larvas
alimentam-se principalmente de vegetais e outros insetos menores, consumindo
também “piolho-de-cobra” ou gongolos e caramujos (Wikipedia).
Darwin: Quando
estávamos na Bahia, o inseto luminoso que parecia ser mais comum era o Pyrophorus luminosus, IIlig
(cuja luminosidade também se tornava mais intensa com a excitação do animal). Passei,
um dia, momentos distraídos estudando o poder de saltar de que goza este inseto,
propriedade que, parece-me, não foi ainda convenientemente descrita.
Quando se
achava de costas, preparando-se para o salto, o animal recolhia a cabeça e o
tórax de modo que a espinha peitoral sobressaía e tocava a borda da invaginação.
Na continuação desse movimento para trás, a espinha se curvava como uma mola,
sob a ação dos músculos, e o inseto tomava apoio com a extremidade da cabeça e
dos élitros. A cessação brusca dessa tensão fazia com que a cabeça e o tórax se
projetassem para cima, e a reação do choque da base dos élitros contra a área
de sustentação, lançava o inseto num salto de três ou cinco centímetros. As
saliências torácicas e a bainha da espinha contribuíam a manter o equilíbrio do
corpo durante o salto.
Nas descrições que tenho lido, nunca se chamou
suficientemente a atenção para a elasticidade da espinha: uma mola tão súbita
não poderia ser o resultado de simples contração muscular, sem auxílio de algum
dispositivo mecânico.
Infelizmente, no século XXI, os vaga-lumes correm risco de extinção, pela forte iluminação das cidades, pois quando
entram em contato com ambientes muito iluminados, sua bioluminescência é
anulada interferindo fortemente na reprodução. O desaparecimento dos
vaga-lumes poderia causar desequilíbrios ambientais, uma vez que eles ajudam a
controlar a população de outros insetos.
Elatério (do grego elatérion) é um termo utilizado em botânica
com diferentes significados, mas principalmente se refere a plantas americanas
da família das Cucurbitáceas que possuem um fruto capaz de expelir suas
sementes como ocorre na “maria-sem-vergonha”. Também se refere a uma estrutura
em forma de hélice presente no interior dos esporângios, a qual auxilia na
dispersão dos esporos amadurecidos, arremessando-os à distância (Dicionário online Português e Wikipedia) Também se refere à superfamília Elateroidea à qual pertencem os vagalumes da
família Lampyridae observados por Darwin (wordnik)
Referência:
Referência:
DARWIN, C. Viagem de um Naturalista ao Redor do Mundo - Vol.1, Nova edição, 1871. Abril Cultural. Companhia Brasil Editora, São Paulo, [1937].Google books.
Imagens muito interessantes, simplesmente fantásticas.
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