![]() |
Montagem por Gladis Franck |
Em 2002 foram publicados dados de um trabalho que buscou
relacionar a dieta de progenitores com a suscetibilidade a doenças nos descendentes.
Como um dos resultados, foi verificado que se um pai não tinha comida
suficiente disponível para ele durante um período crítico em seu
desenvolvimento, pouco antes da puberdade, seus filhos tinham menos
probabilidade de morrer de doença cardiovasculares. Estes e outros achados
podem ser relacionados à epigenética.
O termo
epigenética designa algumas mudanças na expressão gênica, as quais não envolvem
mudanças na sequência de DNA herdada. Ou seja, ocorre uma mudança no fenótipo
sem uma mudança do genótipo!
A expressão
gênica define quais genes serão ativados ou
inativados ao longo do desenvolvimento ou em determinados tipos celulares.
Estas
mudanças epigenéticas desempenham um importante papel no processo de
diferenciação celular, permitindo que certos tipos de células mantenham
características estáveis e diferentes das demais, apesar de conterem o mesmo
material genômico.
As mudanças
epigenéticas são de ocorrência normal e natural, mas também podem ser
influenciadas por vários fatores, incluindo a idade, o meio ambiente, o estilo
de vida ou doenças.
As
alterações epigenéticas normais ocorrem, principalmente, durante o
desenvolvimento embrionário e são necessárias para que as células
indiferenciadas do embrião possam se transformar em células da pele, células do
fígado, células do cérebro, etc.
Por outro
lado, algumas mudanças epigenéticas podem ter efeitos prejudiciais e resultar
em doenças como o câncer, quando ocorrem fora da normalidade.
Além do
câncer, algumas doenças cujos sintomas incluem retardo mental estão sendo relacionadas
com mudanças epigenéticas na expressão de certos genes. Incluem-se neste rol as
seguintes síndromes: X Frágil , Rubenstein-Taybi, Coffin-Lowry, Prader-Willi,
Angelman, Beckwith-Wiedemann, ATR-X e síndromes de Rett.
São
reconhecidos, pelo menos três sistemas capazes de iniciar ou manter as
alterações epigenéticas da regulação gênica: metilação do DNA, modificações de
histonas e ação de RNAs não-codificantes (ncRNAs).
Uma linha
pesquisa busca descobrir o papel da epigenética em uma variedade de doenças
humanas, criando uma terapia.
O combate às doenças com a terapia epigenética
![]() |
Fonte da ilustração EpiBeat |
Pelo fato de
muitas doenças, como o câncer, envolverem mudanças epigenéticas, parece
razoável tentar contrariar essas modificações epigenéticas com tratamentos
específicos.
As
alterações epigenéticas parecem um alvo ideal de tratamento, porque elas são,
por natureza reversíveis, ao contrário das mutações na sequência do DNA. O mais
popular desses tratamentos visa alterar a metilação do DNA ou a acetilação das
histonas.
Os
inibidores da metilação do DNA podem reativar genes que foram silenciados. Dois
exemplos destes tipos de fármacos são 5-azacitidina e 5-aza-2'-desoxicitidina.
Estes medicamentos funcionam, agindo como os nucleotídeos de citosina e
incorporando-se ao DNA, enquanto ele está sendo replicado. Depois de serem
incorporados no DNA, as drogas bloqueiam a ação das enzimas DNMT, inibindo a
metilação de DNA.
Já as drogas
desacetilase de histona (HDAC) visam inibir a acetilação das histonas. As HDACs
são enzimas que removem os grupos acetila do DNA, os quais condensam a
cromatina, interrompendo a transcrição. Assim sendo, o bloqueio com os
inibidores de HDAC ativa a expressão do gene. Os inibidores de HDAC mais comuns
incluem ácido fenilbutírico, SAHA, depsipeptídeos e ácido valpróico.
São
necessários cuidados no uso de terapia epigenética porque os processos
epigenéticos e as mudanças são comuns e estão presentes no desenvolvimento
normal de um indivíduo. Nesse sentido, para ser bem sucedido, um tratamento à
base de terapia epigenética deve ser seletivo para as células irregulares; caso
contrário, ativando-se a transcrição de certos genes em células normais poder-se-ia
torná-las cancerosas, desencadeando os mesmos transtornos que está se tentando
combater.
Apesar desta
desvantagem possível, os pesquisadores estão buscando maneiras de atingir
especificamente as células anormais com o mínimo de danos para as células
normais, os avanços neste sentido levam a terapia epigenética a ser vista sob um olhar cada dia
mais promissor ( observação: o link da figura 2 leva a um site com informações sobre terapia epigenética).
Fonte:
SIMMONS, Danielle, Ph.D. Epigeneticinfluence and disease. Nature Education 1(1):6, (2008).
Este é mais um post inspirado pela Carmencita!
ResponderExcluirExiste a terapia epigenética sem o uso de medicamentos, ou seja, a partir somente da influencia dos fatores externos que contribuem para as transformações?
ResponderExcluirOlá,
ExcluirAs modificações epigenéticas são mudanças naturais em resposta ao ambiente, provavelmente algumas terapias naturais podem ter seus resultados em função de alterações epigenéticas, porém não há publicações sobre este tema.
Assim ficamos mais no campo das especulações do que das comprovações.
Infelizmente a ciência ainda não dispõe de tecnologia para estudos de terapias alternativas. Um bom exemplo é a homeopatia, que ainda gera muitas discussões, apesar de haver milhares de pessoas que se benefiaram com este tipo de tratamento.