03 agosto, 2014

O que é o câncer?

por
1- Alterações nos núcleos de células tumorais do pulmão comparadas às células normais (Fonte: nature.com)

Uma pergunta equivalente a esta seria: O que é um animal?

Animal é a designação de um dos Reino de seres vivos, que engloba organismos bastante diferentes, mas que possuem em comum as seguintes características: são multicelulares e heterótrofos. 

Deste Reino, podemos destacar os Metazoários que constituem um sub-reino, incluindo todas as espécies animais de formas multicelulares caracterizadas por um sistema digestório e camadas separadas de células que são diferenciadas em vários tecidos.

Desse modo, apesar de muito diferentes:


  • As planárias são organismos multicelulares, heterótrofos com sistema digestório e tecidos, ou seja, são Metazoários, assim como a maioria dos invertebrados
    Planária (Fonte: Ciências na Mosca
  • Os peixes são organismos multicelulares, heterótrofos com sistema digestório e tecidos, ou seja, são Metazoários, assim como todos os vertebrados.
    Peixe palhaço (Fonte: culturamix.com
  • Os anfíbios são organismos multicelulares, heterótrofos com sistema digestório e tecidos, ou seja, são Metazoários, assim como todos os vertebrados
    Pererecas da família Hylidae (Fonte: CanalNatureza) 
  • Os répteis são organismos multicelulares, heterótrofos com sistema digestório e tecidos, ou seja, são Metazoários, assim como todos os vertebrados
    Camaleão (Fonte: Mundo Interessante
  • As aves são organismos multicelulares, heterótrofos com sistema digestório e tecidos, ou seja, são Metazoários, assim como todos os vertebrados
    Águia (Fonte: Animal pics)
  • Os mamíferos são organismos multicelulares, heterótrofos com sistema digestório e tecidos, ou seja, são Metazoários, assim como todos os vertebrados.
    Ser humano (fonte: Papel de parede)
Além destas características, todos os metazoários tem em comum a suscetibilidade para desenvolver câncer. Voltamos então à pergunta: o que é o câncer?

Câncer é um grande grupo de doenças que têm em comum a formação de tumores pela multiplicação descontrolada de células. Assim, todos os tipos de câncer são disfunções do processo de mitose ou multiplicação celular.

A multiplicação celular é parte essencial do processo natural de transformação da célula-ovo em embrião, que culmina no desenvolvimento de um indivíduo adulto. Quando este estágio é alcançado, a maioria dos tecidos apresenta menor capacidade de proliferação.

A organização temporal e espacial desse processo pode, entretanto, ser perturbada, em determinadas circunstâncias, pelo aparecimento de tumores que subvertem a ordem proliferativa, sendo capazes de levar o indivíduo à morte.

Algumas causas de câncer: vírus e oncogenes

Pesquisas sobre tumores, ao longo do tempo, revelaram a existência dos vírus tumorais, assim chamados por estarem diretamente envolvidos na origem de alguns tipos de sarcomas e leucemias. Há dois grandes grupos de vírus tumorais: aqueles cujo material genético é o ácido desoxirribonucleico, e aqueles cujo material genético consiste em uma única molécula de ácido ribonucleico de fita simples (RNA).

A virologia tumoral já pôde demonstrar que os retrovírus causadores de leucemias e sarcomas possuem uma enzima especial denominada transcriptase reversa. Esta enzima, tomando por modelo o RNA viral, constrói uma fita de DNA que tem a capacidade de se inserir em algum dos cromossomos da célula hospedeira. Daí por diante, o vírus passa a utilizar toda a maquinaria celular para fabricar as partículas virais “filhas”. Só que, além dos genes necessários à formação da partícula viral, alguns retrovírus possuem também um gene sobressalente, cujo produto foi diretamente relacionado com sua capacidade de tornar a célula tumoral.


(Fonte: Transparências de Lourde Luengo)

Foi também descoberto que as células livres de vírus, apresentavam sequencias gênicas muito semelhantes àquelas típicas dos oncogenes virais. E, ainda mais significativo e provocante, verificou-se que elas apresentam elevado grau de conservação ao longo da evolução, o que indica que são provavelmente produtos gênicos essenciais para o crescimento ou a sobrevivência e a diferenciação do organismo.

Concluiu-se, portanto, que os oncogenes virais tiveram origem em proto-oncogenes celulares. Estes, que nas células normais têm sua expressão rigidamente controlada, ficam, nas partículas virais, sob o comando viral, o que resulta na sua expressão extemporânea e na formação de tumores.

Estudos recentes indicam que diversos oncogenes celulares podem estar sob o controle de uma proteína repressora, que os mantêm “silenciosos”. Esse quadro se baseia em duas linhas de evidência:

Uma parte do caso do retinoblastoma, tumor ocular maligno que afeta crianças de 0 a 6 anos, no qual a banda 13q 14 do cromossomo 13 está ausente. Recentemente, o gene Rb relacionado com o retinoblastoma, foi isolado, clonado e teve seu produto caracterizado.


Retinoblastoma (Fonte: Portal dos Olhos
A segunda linha se baseia nos estudos de dois laboratórios, que trabalhavam, independentemente, com os vírus tumorais SV40 e adenovírus. Eles verificaram que os produtos dos oncogenes virais encontravam-se fortemente associados a determinada proteína da célula invadida pelo vírus.

A contra prova foi utilizar um anticorpo específico contra a proteína Rb para analisar o lisado de células infectadas com SV40. Neste caso, o anticorpo reconheceu não só a banda proteica associada à Rb mas também a proteína viral correspondente.
Vírus SV40 (Fonte: Wikipedia)

Por outro lado, os lisados de células infectadas com vírus SV40, incapazes de causar transformação maligna, não apresentam co-precipitação da proteína viral LT e da proteína celular Rb, indicando que mutações que afetam essa região do RNA viral comprometem também o potencial tumorogênico do vírus.

Esses trabalhos tiveram grande impacto por permitirem a formulação de uma hipótese unificadora: a expressão de genes essenciais para a proliferação celular seria controlada por reguladores do tipo Rb. Quando esses repressores são perdidos ou inativados a transcrição deixa de ser reprimida e os produtos dos oncogenes aparecem na célula.

Desvendar quais componentes controlam a proliferação celular e identificar as interações que mantêm entre si são passos decisivos para o planejamento racional da terapia de tumores.

Referências para complementar os conhecimentos:
1- RIBEIRO, Enilze M. S. F. e FREIRE-MAIA, Newton. Câncer: causas prevenção e tratamentos, 2002.  

2- BORGES, Jerry. Assassinassilenciosas, 2007, atualizado em 2009. 

3- AMORIM, Aline Rodrigues. Genética do Câncer. Monografia, 2002. 

4- Quimioterapia e câncer: uma complexa relação, 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails