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Imagem de Estádiovip |
As manifestações contra a Copa do
Mundo denunciam a remoção de comunidades da periferia, os gastos exorbitantes,
a morte de trabalhadores, a corrupção da FIFA, a violenta repressão. Elas são
legítimas e necessárias.
Ser consciente disso impede
levantar a bandeira e comemorar o gol da seleção?
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Gol comemorado por Alagoas Web |
Creio que não. Quer queira, quer
não, a Copa é um momento importante de celebração mundial, coletiva, e de rua.
Mas além disso, é parte das nossas memórias e subjetividades.
(Aliás, para muitos, abdicar da
Copa significaria um outro tipo de violência. Um amigo, marxista ortodoxo e
corintiano roxo, decidiu não torcer como forma de apoiar os movimentos. Anda
tomando remédio pra depressão. Um tio tucaníssimo, que na Copa passada viajou
para a África do Sul vestido de canarinho, este ano virou antiCopa por ser
antiDilma. E no último jantar de família decretou que futebol era tema tabu. Minha
tia deu-lhe uma vuvuzelada... E o abandonou.)
É importante o incômodo vivido
pelos brasileiros nesta Copa. O “torcer ou não torcer, eis a questão!” revelou
um novo olhar político, legado das manifestações de junho de 2013, que vem demonstrando
que a política do pão e circo talvez já não seja mais suficiente no país da feijoada e do futebol.
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Imagem da torcida na Copa 2014 - fonte Paulo Moreira Leite |
Agora... Criticar
o modelo de desenvolvimento adotado pelo governo brasileiro – do qual a Copa faz
parte e que inclui a construção de megaprojetos que impactam negativamente as
populações da periferia, os povos tradicionais e o meio ambiente; assim como a
omissão diante do genocídio indígena e do retrocesso no que diz respeito aos
seus direitos – não tem absolutamente nada a ver com a cena protagonizada pela
área VIP do Itaquerão, durante a cerimônia de abertura do Mundial. Que
bebericando Chandons e petiscando foie gras sugeria elegantemente à presidenta
do seu país ir “tomar no cu”.
Na área VIP também estava a
nobreza do Plin-plin, para quem o conceito de “público” – alheia que está ao seu
significado em forma de transporte, saúde e educação – restringe-se à plateia
que alimenta seus egos e índices de audiência, entre a leitura de Caras e a audiência ao Domingão do Faustão. Este, aliás, alertou
claramente em seu último programa: “Você, minha senhora, que está aí no sofá. Fica
experta porque a corrupção corre solta! Mas só depois da Copa, hein?”
Ou seja: depois da Copa e antes
das eleições. Período em que a Globo vai mostrar todas cenas de violência que
estão ocorrendo durante as manifestações, invisibilizadas hoje. E vai fazer
isso com um objetivo claro: não o de apoiar a demanda dos movimentos sociais,
mas o de derrubar o atual governo e fazer brilhar o dono do baile real. Ah é?
Ah é sim! Ah é sim!
Mas os brasileiros que lutam
diariamente pela ampliação dos seus direitos e por uma vida mais digna sabem
que possuem uma margem de ganho significativa pressionando um governo que, apesar
dos problemas, aposta no setor público e na redução das desigualdades sociais. E
que essa luta vai ser bem diferente se for realizada, a partir do ano que vem,
em um contexto de desmantelamento do Estado e de redução das políticas públicas,
contra um novo governo que prima pela concentração de riqueza e de poder.
E se a mídia golpista sair
vitoriosa desse outro jogo que o Brasil está vivenciando, sorrateiro, sofrerão todos,
incluindo grande parte da elite. De fato, a área Vip não. Mas o resto do Brasil
lamentará, muito e mais do que a tristeza coletiva que abateu o país naquela
França de 1998, quando o Brasil perdeu o penta. E centenas de cabeçadas de
Zidane se abaterão sobre nós...
Mas ainda há tempo! De evitar um
tremendo retrocesso no plano político, econômico e cultural.
(E de quebra, por que não, de conquistar
o hexa!)
Bruna Muriel
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Observação editorial:
Os
artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião deste Blog, mas abrem
espaços para a reflexão crítica dos leitores. Desse modo, como o texto acima
explicita um posicionamento político, recomenda-se a busca pelo pensamento
contraditório para uma análise mais complexa. Sugere-se a leitura de Chico Alencar: Já somos Hexa.
Gladis Franck da Cunha
Mais uma primorosa contribuição da Bruna Muriel ao Teliga! Uma crítica inteligente utilizando uma linguagem caracteristicamente poética!
ResponderExcluirParabéns pelo texto bruna Muriel! Indicarei-o para meus colegas lerem.
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