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Pinéis coletivos Instituo Garatuja (informativo - 2012) |
Na década de 90, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
sugeriu um processo de reforma no ensino brasileiro, atingindo a educação em
todos os níveis. Isto foi proposto, pois o mundo produtivo exige que os
cidadãos consigam realizar inúmeras tarefas a partir da realidade em que estão
inseridos, que sejam aptos a tomar decisões, assumir lideranças, desenvolver
atividades em equipe, atuarem na resolução de diversos problemas.
A descontextualização do ensino
de ciências e de matemática pode ser um dos motivos pelo qual o estudante não
estabelece relações com sua realidade. Os conteúdos científicos são
apresentados como um produto “pronto e acabado”, sem dar nenhuma importância ao
processo de construção por parte dos estudantes.
Nas aulas expositivas que tradicionalmente são utilizadas para ensinar
ciências e matemática, os estudantes não conseguem perceber qual foi o problema
que originou a aquisição dos conhecimentos apresentados, nem como utilizar tais
conhecimentos em outros problemas reais.
A contextualização da vida do
estudante e a interdisciplinaridade devem ser utilizadas como motivação e
criatividade. Desta forma, é necessário que ocorram em todos os momentos da
formação educacional, para que professores e estudantes possam se valer do
conhecimento e da capacidade criativa para repensar, projetar e desenvolver
inovações, novas ferramentas que ampliam a capacidade dos mesmos de fazerem
descobertas ou invenções.
Professores e estudantes envolvidos em atividades que desenvolvam e
incentivem habilidades criativas tem mais chances de estarem trabalhando em
equipes que contribuam com as descobertas das ciências naturais e da matemática.
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Robotica educacional (leitura de bolso, 2007) |
Uma destas atividades, que desenvolvem competências e habilidades nos estudantes
é a Robótica. Quando esta é aplicada ao processo de ensino e aprendizagem, ela
ganha um significado educacional, que Lieberknecht [1] considera ser um
subsídio educacional no desenvolvimento de competências, como: trabalho em
equipe, autodesenvolvimento, capacidade de solucionar problemas, senso crítico,
exposição de pensamentos, criatividade, autonomia e responsabilidade.
O trabalho com a Robótica Educacional permite a constituição de um
ambiente favorável ao desenvolvimento de aplicações práticas e à
interdisciplinaridade de diversas áreas de conhecimento. Presta-se a atividades
de simulação e representação do mundo real, sendo possível ao estudante
explorar conceitos, investigar e solucionar problemas.
Através da robótica o educando passa a construir seu conhecimento por
meio de suas próprias observações, e aquilo que é aprendido pelo seu esforço
próprio tem muito mais significado para ele e se adapta melhor às suas
estruturas mentais.
A utilização de contextos que representem o mundo real também poderia
ser uma forma de interligar as várias áreas do conhecimento. Pois, é raro que
apenas uma área do conhecimento seja capaz de entender toda a complexidade de
um problema do mundo real.
Por isso, certos projetos que num primeiro momento parecem dizer
respeito apenas a ciências naturais, quando planejados vê-se nitidamente a
necessidade de articulá-los a outros componentes curriculares.
Juntas as diversas áreas do saber se complementam, e podem facilitar a
compreensão, e as relações entre os conceitos e os conteúdos.
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Uso de telescópio (Brasil Escola) |
Este também é o caso da astronomia, campo de conhecimento de geografia
e ciências, mas que integra muitas outras áreas do conhecimento, como a
matemática, geometria, etc.
Estas ações interdisciplinares permitem ainda que o estudante seja
orientado, mesmo no Ensino Fundamental, a iniciação à pesquisa (através dos
relatos das montagens de experimentos, relatos das observações, analise dos
resultados, ...) para isso, faz-se necessário uma ação aceita, planejada e
acompanhada em conjunto com os professores do ano e da escola.
O que por um lado pode parecer mais trabalhoso, provoca uma maior
cumplicidade e responsabilidade pela aprendizagem de cada estudante, em
especial, os com maior dificuldade cognitiva.
A característica fundamental da atitude interdisciplinar “é a ousadia
da busca, da pesquisa, é a transformação da insegurança num exercício do
pensar, num construir” e reconhece que a solidão de uma insegurança inicial e
transmutar-se na troca, no diálogo, no aceitar o pensamento do outro” [2].
Um ensino descontextualizado e compartimentado da ciência e da matemática,
por modelos científicos, pode provocar nos estudantes a impressão de que estes
componentes curriculares não interessam, não servem para nada ou que ela trata
das coisas que só interessam aos cientistas.
As concepções prévias dos estudantes também podem interferir na
aprendizagem de conceitos científicos, o mesmo acontece com as concepções
prévias dos professores.
A realidade do estudante deve ser o objeto da educação. Para isso, a
alfabetização Científica e Técnica pode ser uma estratégia pedagógica e epistemológica
para tratar do ensino nas ciências, pois tal alfabetização é definida por um
contexto onde os saberes científicos geram autonomia e possibilitam ao aprendiz
ter capacidade de negociar suas decisões.
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Aprendendo Ciências (ALC) |
Aprender ciências é adquirir conhecimentos que são considerados
válidos, úteis, frutíferos, mas é também admitir o caráter aproximativo, parcial
e provisório do conhecimento de um mundo que não podemos apreender em toda sua
complexidade.
A alfabetização científica pode ser alcançada através de um processo de
construção de modelos didáticos, que respondam às necessidades educativas, além
de manter contato com os modelos científicos, permitindo a compreensão da
realidade.
Outra consideração interessante sobre a interdisciplinaridade, ou uma possibilidade
de a termos, seria como é dito por Paviani [3]: “A verdadeira interdisciplinaridade
permite resultados novos que não seriam alcançados sem esse esforço comum e,
desse modo, modifica a natureza das disciplinas tradicionais.”
Podemos diferenciar a interdisciplinaridade científica que apresenta
como finalidade a produção de novos conhecimentos científicos e a busca de
respostas às inúmeras necessidades sociais da interdisciplinaridade escolar.
Esta última apresenta, como principal finalidade, a difusão do conhecimento e a
formação de atores sociais, criando condições para a promoção de um processo de
integração de aprendizagens e conhecimentos escolares.
Em um sentido restrito, a interdisciplinaridade é a construção de
representações do mundo estruturadas e organizadas em função de um projeto
humano ou de um problema a resolver, num contexto específico e para destinatários
específicos.
A realização de um trabalho interdisciplinar na escola se localizaria
no interior de um processo que prevê e mantém a adoção de enfoques
disciplinares, articulados coerentemente entre o conhecimento disciplinar e
interdisciplinar.
Também, compreenderia a construção do conhecimento junto com o
educando, levando em consideração as suas concepções prévias, a fim de atingir
uma alfabetização científica que contemple um recorte epistemológico
fundamentado na Pós-modernidade e no pensamento complexo [4].
Contudo destaca-se a necessidade de que os cursos de formação inicial
ou continuada de professores de Ciências e de Matemática levem em consideração
as características de um ensino interdisciplinar, implementando medidas que possibilitem
a formação de profissionais reflexivos e dando maior ênfase à condução do
processo de ensino e de aprendizagem de forma significativa, com abertura para
o trabalho com atitude interdisciplinar e para a avaliação coletiva por parte
dos professores e participativa para os estudantes.
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Interdisciplinaridade (European Popular Musics) |
A atitude interdisciplinar é uma atitude diante de alternativas para
conhecer mais e melhor; atitude de espera ante os atos consumados, atitude de
reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo – ao diálogo com pares
idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo – atitude de humildade diante da
limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar
novos saberes, atitude de desafio, desafio perante o novo, desafio em redimensionar
o velho – atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as
pessoas nelas envolvidas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da
melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas sobretudo, de alegria,
de revelação, de encontro, enfim, de vida [5].
É fácil vermos que quase todos os avanços científicos e tecnológicos
advêm do trabalho de uma diversidade de profissionais e especialistas
trabalhando conjuntamente para a solução de um problema. Portanto, esse tipo de
atividade precisa começar durante a formação escolar e acadêmica do indivíduo,
especialmente do professor.
Autoras: Daiana Pellenz,
Elisiane da Costa Moro, Janete Maria Scopel, Lisiane de Souza e Roseli Fornaza.
Programa de Pós-Graduação em Ensino de
Ciências e Matemática (UCS)
Disciplina: Seminários de Pesquisa e Projeto
Integrador
REFERÊNCIAS:
[1] LIEBERKNECHT,
Eduardo Augusto. Robótica Educacional.
2009. Disponível em: http://www.portalrobotica.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=4&Itemid=2
Acesso em: 01 dez. 2013.
[2] FAZENDA,
Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade:
um projeto em parceria. São Paulo: Loyola, 1991. Coleção Educar. v. 13. (p.
18, grifos da autora).
[3] PAVIANI,
J. Interdisciplinaridade: Conceitos e
Distinções. Porto Alegre: Educs, 1. ed. P.41, 2005
[4] LAVAQUI,
Vanderlei; BATISTA, Irinéa de Lourdes. Interdisciplinaridade em ensino de
ciências e de matemática no ensino médio. Ciência & educação, v. 13, n. 3,
p. 399 -420, 2007.
[5] FAZENDA,
Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas:
Papirus, 1994.
Leituras Complementares:
MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO, Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o ensino médio. Ciências da
natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: 2008
NEHRING,
C. M., SILVA,C. C., TRINDADE, J. A. O., PIETROCOLA, M. P., LEITE, R. C.
M.,PINHEIROS, T. F. As ilhas de
racionalidade e o saber significativo: o ensino de ciências através de
projetos. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, v. 2, n. 1, p. 99-122,
2008.
Parabéns a todas pelo belissimo trabalho.
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