22 abril, 2014

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E O ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA EM UMA PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR (ensaio)

Pinéis coletivos Instituo Garatuja (informativo - 2012
Na década de 90, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional sugeriu um processo de reforma no ensino brasileiro, atingindo a educação em todos os níveis. Isto foi proposto, pois o mundo produtivo exige que os cidadãos consigam realizar inúmeras tarefas a partir da realidade em que estão inseridos, que sejam aptos a tomar decisões, assumir lideranças, desenvolver atividades em equipe, atuarem na resolução de diversos problemas.

 A descontextualização do ensino de ciências e de matemática pode ser um dos motivos pelo qual o estudante não estabelece relações com sua realidade. Os conteúdos científicos são apresentados como um produto “pronto e acabado”, sem dar nenhuma importância ao processo de construção por parte dos estudantes.

Nas aulas expositivas que tradicionalmente são utilizadas para ensinar ciências e matemática, os estudantes não conseguem perceber qual foi o problema que originou a aquisição dos conhecimentos apresentados, nem como utilizar tais conhecimentos em outros problemas reais.

 A contextualização da vida do estudante e a interdisciplinaridade devem ser utilizadas como motivação e criatividade. Desta forma, é necessário que ocorram em todos os momentos da formação educacional, para que professores e estudantes possam se valer do conhecimento e da capacidade criativa para repensar, projetar e desenvolver inovações, novas ferramentas que ampliam a capacidade dos mesmos de fazerem descobertas ou invenções.

Professores e estudantes envolvidos em atividades que desenvolvam e incentivem habilidades criativas tem mais chances de estarem trabalhando em equipes que contribuam com as descobertas das ciências naturais e da matemática.
 
Robotica educacional (leitura de bolso, 2007)

Uma destas atividades, que desenvolvem competências e habilidades nos estudantes é a Robótica. Quando esta é aplicada ao processo de ensino e aprendizagem, ela ganha um significado educacional, que Lieberknecht [1] considera ser um subsídio educacional no desenvolvimento de competências, como: trabalho em equipe, autodesenvolvimento, capacidade de solucionar problemas, senso crítico, exposição de pensamentos, criatividade, autonomia e responsabilidade.

O trabalho com a Robótica Educacional permite a constituição de um ambiente favorável ao desenvolvimento de aplicações práticas e à interdisciplinaridade de diversas áreas de conhecimento. Presta-se a atividades de simulação e representação do mundo real, sendo possível ao estudante explorar conceitos, investigar e solucionar problemas.

Através da robótica o educando passa a construir seu conhecimento por meio de suas próprias observações, e aquilo que é aprendido pelo seu esforço próprio tem muito mais significado para ele e se adapta melhor às suas estruturas mentais.

A utilização de contextos que representem o mundo real também poderia ser uma forma de interligar as várias áreas do conhecimento. Pois, é raro que apenas uma área do conhecimento seja capaz de entender toda a complexidade de um problema do mundo real.

Por isso, certos projetos que num primeiro momento parecem dizer respeito apenas a ciências naturais, quando planejados vê-se nitidamente a necessidade de articulá-los a outros componentes curriculares.

Juntas as diversas áreas do saber se complementam, e podem facilitar a compreensão, e as relações entre os conceitos e os conteúdos.

Uso de telescópio (Brasil Escola)
Este também é o caso da astronomia, campo de conhecimento de geografia e ciências, mas que integra muitas outras áreas do conhecimento, como a matemática, geometria, etc.

Estas ações interdisciplinares permitem ainda que o estudante seja orientado, mesmo no Ensino Fundamental, a iniciação à pesquisa (através dos relatos das montagens de experimentos, relatos das observações, analise dos resultados, ...) para isso, faz-se necessário uma ação aceita, planejada e acompanhada em conjunto com os professores do ano e da escola.

O que por um lado pode parecer mais trabalhoso, provoca uma maior cumplicidade e responsabilidade pela aprendizagem de cada estudante, em especial, os com maior dificuldade cognitiva.

A característica fundamental da atitude interdisciplinar “é a ousadia da busca, da pesquisa, é a transformação da insegurança num exercício do pensar, num construir” e reconhece que a solidão de uma insegurança inicial e transmutar-se na troca, no diálogo, no aceitar o pensamento do outro” [2].

Um ensino descontextualizado e compartimentado da ciência e da matemática, por modelos científicos, pode provocar nos estudantes a impressão de que estes componentes curriculares não interessam, não servem para nada ou que ela trata das coisas que só interessam aos cientistas.

As concepções prévias dos estudantes também podem interferir na aprendizagem de conceitos científicos, o mesmo acontece com as concepções prévias dos professores.

A realidade do estudante deve ser o objeto da educação. Para isso, a alfabetização Científica e Técnica pode ser uma estratégia pedagógica e epistemológica para tratar do ensino nas ciências, pois tal alfabetização é definida por um contexto onde os saberes científicos geram autonomia e possibilitam ao aprendiz ter capacidade de negociar suas decisões.

Aprendendo Ciências (ALC)
Aprender ciências é adquirir conhecimentos que são considerados válidos, úteis, frutíferos, mas é também admitir o caráter aproximativo, parcial e provisório do conhecimento de um mundo que não podemos apreender em toda sua complexidade.

A alfabetização científica pode ser alcançada através de um processo de construção de modelos didáticos, que respondam às necessidades educativas, além de manter contato com os modelos científicos, permitindo a compreensão da realidade.

Outra consideração interessante sobre a interdisciplinaridade, ou uma possibilidade de a termos, seria como é dito por Paviani [3]: “A verdadeira interdisciplinaridade permite resultados novos que não seriam alcançados sem esse esforço comum e, desse modo, modifica a natureza das disciplinas tradicionais.”

Podemos diferenciar a interdisciplinaridade científica que apresenta como finalidade a produção de novos conhecimentos científicos e a busca de respostas às inúmeras necessidades sociais da interdisciplinaridade escolar. Esta última apresenta, como principal finalidade, a difusão do conhecimento e a formação de atores sociais, criando condições para a promoção de um processo de integração de aprendizagens e conhecimentos escolares.

Em um sentido restrito, a interdisciplinaridade é a construção de representações do mundo estruturadas e organizadas em função de um projeto humano ou de um problema a resolver, num contexto específico e para destinatários específicos.

A realização de um trabalho interdisciplinar na escola se localizaria no interior de um processo que prevê e mantém a adoção de enfoques disciplinares, articulados coerentemente entre o conhecimento disciplinar e interdisciplinar.

Também, compreenderia a construção do conhecimento junto com o educando, levando em consideração as suas concepções prévias, a fim de atingir uma alfabetização científica que contemple um recorte epistemológico fundamentado na Pós-modernidade e no pensamento complexo [4].

Contudo destaca-se a necessidade de que os cursos de formação inicial ou continuada de professores de Ciências e de Matemática levem em consideração as características de um ensino interdisciplinar, implementando medidas que possibilitem a formação de profissionais reflexivos e dando maior ênfase à condução do processo de ensino e de aprendizagem de forma significativa, com abertura para o trabalho com atitude interdisciplinar e para a avaliação coletiva por parte dos professores e participativa para os estudantes.

Interdisciplinaridade (European Popular Musics)
A atitude interdisciplinar é uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor; atitude de espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio, desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho – atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas nelas envolvidas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, enfim, de vida [5].

É fácil vermos que quase todos os avanços científicos e tecnológicos advêm do trabalho de uma diversidade de profissionais e especialistas trabalhando conjuntamente para a solução de um problema. Portanto, esse tipo de atividade precisa começar durante a formação escolar e acadêmica do indivíduo, especialmente do professor.

Autoras: Daiana Pellenz, Elisiane da Costa Moro, Janete Maria Scopel, Lisiane de Souza e Roseli Fornaza.
 Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (UCS)
 Disciplina: Seminários de Pesquisa e Projeto Integrador

REFERÊNCIAS:
[1] LIEBERKNECHT, Eduardo Augusto. Robótica Educacional. 2009. Disponível em: http://www.portalrobotica.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=4&Itemid=2 Acesso em: 01 dez. 2013.

[2] FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade: um projeto em parceria. São Paulo: Loyola, 1991. Coleção Educar. v. 13. (p. 18, grifos da autora).

[3] PAVIANI, J. Interdisciplinaridade: Conceitos e Distinções. Porto Alegre: Educs, 1. ed. P.41, 2005

[4] LAVAQUI, Vanderlei; BATISTA, Irinéa de Lourdes. Interdisciplinaridade em ensino de ciências e de matemática no ensino médio. Ciência & educação, v. 13, n. 3, p. 399 -420, 2007.

[5] FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus, 1994.

Leituras Complementares:

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Secretaria de Educação Básica. Orientações  Curriculares para o ensino médio. Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: 2008

NEHRING, C. M., SILVA,C. C., TRINDADE, J. A. O., PIETROCOLA, M. P., LEITE, R. C. M.,PINHEIROS, T. F. As ilhas de racionalidade e o saber significativo: o ensino de ciências através de projetos. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, v. 2, n. 1, p. 99-122, 2008. 

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