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Os répteis de Escher |
I. A história e o nada.
O percurso da filosofia é marcado pela tematização em
diversos níveis, metafísico, histórico, ontológico, dialético, científico, etc.
Em nível histórico, a recorrência mais amiúde é estabelecer
ligações entre o pensamento antigo e as atuais questões. Para que não seja
cometido o erro grosseiro da rejeição pura e simples dos antigos pressupostos,
é necessário que os fundamentos da filosofia grega sejam vistos sob um ponto de
vista amplo que contemple desde o contexto sociopolítico daquela época até a
precariedade dos nossos atuais paradigmas.
Visto desta maneira, o processo histórico é uma ação
continuada de tentativa de resolução de problemas, sem, contudo, jamais ter
chegado à materialidade das utopias.
As aulas de filosofia devem ser marcadas por movimentos
sistólicos quando se mergulha no passado e diastólicos quando a volta ao
presente se faz imperiosa para a promoção das devidas correlações, repetindo em
pequena escala o pulsar da própria história.
Além disso, o leitmotiv das discussões deve propiciar que as
mentes tais quais naus singrem outros mares levando ao quase naufrágio quando
surge a tempestade do NADA. Assunto sempre comovente e arrebatador, que pode
provocar um estado de clímax entre os debatedores, com suas bochechas vermelhas
e riso nervoso geral frente aos entes assombrosos com quem se pode vir a
digladiar, nestas horas: o não-ser, o infinito e as asperezas daquilo que
jamais virá a ser.
II. Das palavras gregas às preocupações com a Natureza.
Para quem se atrever a estudar filosofia, as palavras
“gregas” deixarão de ser tão gregas, apesar da ininteligibilidade dos
caracteres na língua original. É possível um bom nível de compreensão a partir das transliterações de arete, episteme, doxa, dianoia, eudaimonia,
eidos, noesis, monada, logos, logoi, ousia, polis, eudaimonia, physis.
Estas são palavras que frequentam com naturalidade as
leituras dos textos filosóficos. Mas, apesar das palavras serem gregas para o
vulgo, as ideias que elas representam estão profundamente inculcadas no senso
comum, assim como os romanos foram engolidos pela cultura grega, continuamos a
respirar os mesmos ares que animaram Parmênides, Zenão, Anaxágoras, Protágoras,
Sócrates, Demócrito e tantos outros.
Percebe-se cada vez mais o quanto o pensamento grego está
arraigado na psique ocidental, pois a nossa metafísica é grega, como se lá
dentro de cada um, o espírito ostentasse as mesmas vestes longas e pregueadas
das estátuas antigas.
A primeira década do século XXI comportou uma onda de
renascimento da filosofia no Brasil, que
voltou com força aos currículos escolares, principalmente no ensino
particular. Na mídia, o exemplo foi o programa Fantástico da Globo(2005) que
abriu um quadro sobre filosofia.
Este renascimento tem suas raízes na retomada de problemas
de fundo que haviam sido esquecidos. O principal deles é a volta do foco das
preocupações sobre a natureza. Séculos de uso da natureza como fornecedora de
meios de sobrevivência e produtora de objetos de prazer, geraram uma filosofia
ufanizadora do domínio humano sobre os elementos naturais.
Atualmente, o ser humano se dá conta de que a sua pretensa
supremacia sobre a natureza não passava de castelos de areia. Uma nova
problemática surgiu desde que se começou a falar insistentemente que a ação
humana esteja desencadeando as mudanças climáticas globais.
Tais discussões põem o homem diante da consequência dos seus
atos e, paulatinamente, o levam a descobrir que ele desencadeou um descontrole em
sistemas, os quais sempre foram considerados regulares e previsíveis. Nesses
momentos retorna a necessidade da reflexão filosófica, para que se vislumbre
uma direção e não se tropece sobre os próprios passos.
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