Por Luís César Minozzo
O que é vida? O
aspecto físico da célula viva seguido de mente e matéria e fragmentos
autobiográficos de Erwin Schrödinger é uma obra que se
apresenta em vinte seções, dividida em dois grandes capítulos e organizada da
seguinte forma: Introdução; Prefácio; O
que é vida? O aspecto físico da célula viva, dividido em sete subcapítulos;
Epílogo; Mente e Matéria: As conferências
de Turner, dividido em seis capítulos e Fragmentos autobiográficos.
A obra completa
apresenta 193 páginas. Ainda possui introdução de Riger Perroso (agosto de
1991) e Prefácio de E.S. (Dublin).
O livro proporciona uma leitura a partir de
alguns questionamentos e comparações entre a física e a biologia, dando ênfase
a algumas teorias como a de Charles Darwin, por exemplo.
A passagem a ser
estudada, especificamente do capítulo
Mente e Matéria, as conferências de Turner, é o subcapítulo 2 – O futuro da compreensão, onde o autor relata dúvidas e
faz comparações com relação à compreensão do indivíduo, levando em conta
aspectos evolutivos. O objetivo do autor é levar o leitor a questionar aspectos
relacionados à evolução da vida na Terra, de forma simples e compreensível.
O primeiro subcapítulo
em questão – Um beco sem saída biológico
– tem como objetivo situar a evolução dos seres vivos, utilizando suas
capacidades cerebrais e função do pensamento em relação às mudanças herdadas a
partir da constituição física. Ainda aqui são discutidas, e comparadas, as
formações físicas dos insetos e dos mamíferos, dando ênfase ao ser humano.
Por
fim, são trazidas ao texto discussões acerca do equilíbrio populacional humano,
onde “[...] adultos e crianças de ambos os sexos morrem de fome, de frio, de
epidemias”, sem contar com as guerras que configuram “[...] uma matança
indiscriminada, da mesma forma que os avanços na medicina e cirurgia que
resultaram num salvamento indiscriminado de vidas”.
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Imagem do filme Guerramundial Z de Marc Forster, no qual pessoas contaminadas por uma doença se tornam zumbis e atacam os seres humanos normais. |
O objetivo do segundo
subcapítulo – A aparente melancolia do
darwinismo – é fazer uma comparação entre o processo evolutivo a partir do
acaso, as alterações características adquiridas no ambiente e a teoria de
Lamarck. O autor relata a teoria de Lamarck, que deu origem à teoria de Darwin,
e considera que “[...] a adaptação substancial produzida em qualquer órgão
[...] não será perdida, mas transmitida, pelo menos em parte, à descendência
[...]”.
Já durante a passagem sobre a teoria de Darwin, o “puro acaso” serve
como ponto de partida para uma reflexão acerca da pouca influência do indivíduo
sobre a sua carga hereditária, “[...] já que significa que uma mutação
favorável aumenta a perspectiva de o indivíduo sobreviver e gerar a
descendência, para a qual transmite a mutação em questão [...]”. Por fim, o
autor lança o darwinismo como melancolia, concluindo que o lamarckismo é
insustentável do ponto de vista hereditário.
No terceiro
subcapítulo – O comportamento influencia
a seleção – é apresentada a contraposição do autor ao que foi discutido nos
parágrafos anteriores, levando em consideração que “[...] apenas o ‘mecanismo’
pelo qual as coisas acontecem é mais complicado que aquele imaginado por
Lamarck”.
Ainda, são apresentados detalhes acerca das características mutantes,
nas mais diversas espécies de seres vivos, como o que ocorre com as plantas com
características adaptativas, e as vantagens seletivas a partir de mudanças no
meio onde cada espécie vive. O ponto principal desta passagem é a
especialização dos seres vivos para a sobrevivência, surgindo como suas
características particulares, suas exceções e a seleção de espécies.
No quarto subcapítulo,
Lamarckismo dissimulado, o autor traz
a influência seletiva do ambiente e tem como objetivo principal o contexto favorável
e desfavorável de sobrevivência. No contexto favorável são utilizados exemplos
de adaptações que facilitam a sobrevivência das espécies. Esta situação “[...]
facilita o acesso a certas fontes ou reduz o perigo de determinadas
adversidades ou ambas as coisas”. Já no contexto desfavorável, “[...] a
situação como um todo é extremamente dinâmica, a luta é muito dura [...]”.
Nesta descrição são discutidos os valores seletivos a partir de adversidades,
como as guerras, que fazem com que a espécie humana também sofra certa “seleção
natural”.
No subcapítulo Fixação genética de hábitos e habilidades,
o objetivo é explicar a compreensão do darwinismo com exemplos e comparações,
assim como os hábitos herdados nas espécies. Em contraposição a tudo o que foi
encontrado na obra, aqui se tem a comparação entre o uso apropriado de
determinado órgão de um indivíduo, que é utilizado frequentemente e que sofre
adaptações segundo a teoria de Lamarck, levando o autor a dar créditos a esta
teoria.
Assim, o texto parte do princípio de que, primeiramente existiria um
enorme contraste entre teorias evolucionistas, porém as inferências e as
afirmações nos levam a crer que este contraste não é tão significativo.
Neste momento é
apresentada a evolução histórica das bicicletas, que são constantemente
melhoradas e não podem ser comparadas com os primeiros exemplares.
Imagem: Paulo Fernando Vieira de Almeida |
No sexto e último
subcapítulo, Perigos para a evolução
intelectual, o autor retorna ao início do capítulo para concluir seus
questionamentos e indicar, como objetivo principal, o comportamento do ser
humano e o desenvolvimento biológico.
Aqui é importante salientar “[...] a
crescente mecanização e ‘estupidificação’ em que a maioria dos processos de
manufatura envolvem o grave perigo de uma degeneração geral de nosso órgão da
inteligência [...]”. Percebe-se que o autor deixa claro que, atualmente,
pensamos muito nos processos de evolução física, porém medidas de bem-estar e
segurança também podem ser motivos de preocupação com os processos evolutivos.
“[...] É possível defender fortemente a posição de que o cuidado com o nosso
presente bem-estar deveria se sobrepor às preocupações com o nosso futuro
evolutivo [...]”.
Para finalizar esta
resenha, o desafio proposto pelo autor nos leva a repensar e sobrepor visões
diferenciadas das que já conhecemos, a partir de um capítulo em que Schrödinger
conversa com o leitor de forma simplificada e com contrapontos extremamente
fundamentados. É praticamente impossível pensarmos no nosso planeta sem que
haja a seleção natural, em todas as espécies.
É importante olharmos para a
evolução como uma meta alcançada por determinada espécie a fim de proteger-se e,
talvez, perpetuar-se. Assim, o autor finaliza o capítulo considerando que o
bem-estar sempre deve se sobrepor ao futuro do planeta, porém, infelizmente,
“[...] ao lado da necessidade, o tédio tornou-se o pior flagelo de nossas vidas
[...]”.
Referência:
SCHRÖDINGER, Erwin. O aspecto físico da célula viva seguido de
Mente e matéria e fragmentos autobiográficos. São Paulo: UNESP, 1997.
Dados do autor:
Luís César Minozzo é Licenciado em Ciências – Habilitação Biologia pela
Universidade de Caxias do Sul (UCS), Campus da Região dos Vinhedos.
Especialista em Educação Ambiental pelo Serviço Nacional do Comércio (SENAC) e
especialista em Supervisão Escolar pela Faculdade Guilherme Guimbala (FGG).
Mestrando em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade de Caxias do
Sul, Rio Grande do Sul, vinculado à linha de pesquisa Tecnologias, recursos e
materiais didáticos para o ensino de Ciências e Matemática. E-mail: lcminozz@yahoo.com.br
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