30 julho, 2013

Compreendendo o futuro biológico a partir do olhar de SCHRÖDINGER (resenha).

Por Luís César Minozzo


O que é vida? O aspecto físico da célula viva seguido de mente e matéria e fragmentos autobiográficos de Erwin Schrödinger é uma obra que se apresenta em vinte seções, dividida em dois grandes capítulos e organizada da seguinte forma: Introdução; Prefácio; O que é vida? O aspecto físico da célula viva, dividido em sete subcapítulos; Epílogo; Mente e Matéria: As conferências de Turner, dividido em seis capítulos e Fragmentos autobiográficos.

A obra completa apresenta 193 páginas. Ainda possui introdução de Riger Perroso (agosto de 1991) e Prefácio de E.S. (Dublin). 

O livro proporciona uma leitura a partir de alguns questionamentos e comparações entre a física e a biologia, dando ênfase a algumas teorias como a de Charles Darwin, por exemplo.

A passagem a ser estudada, especificamente do capítulo Mente e Matéria, as conferências de Turner, é o subcapítulo 2 – O futuro da compreensão, onde o autor relata dúvidas e faz comparações com relação à compreensão do indivíduo, levando em conta aspectos evolutivos. O objetivo do autor é levar o leitor a questionar aspectos relacionados à evolução da vida na Terra, de forma simples e compreensível.

O primeiro subcapítulo em questão – Um beco sem saída biológico – tem como objetivo situar a evolução dos seres vivos, utilizando suas capacidades cerebrais e função do pensamento em relação às mudanças herdadas a partir da constituição física. Ainda aqui são discutidas, e comparadas, as formações físicas dos insetos e dos mamíferos, dando ênfase ao ser humano. 

Por fim, são trazidas ao texto discussões acerca do equilíbrio populacional humano, onde “[...] adultos e crianças de ambos os sexos morrem de fome, de frio, de epidemias”, sem contar com as guerras que configuram “[...] uma matança indiscriminada, da mesma forma que os avanços na medicina e cirurgia que resultaram num salvamento indiscriminado de vidas”.
 
Imagem do filme Guerramundial Z de Marc Forster, no qual pessoas contaminadas por uma doença se tornam zumbis e atacam os seres humanos normais.
O objetivo do segundo subcapítuloA aparente melancolia do darwinismo – é fazer uma comparação entre o processo evolutivo a partir do acaso, as alterações características adquiridas no ambiente e a teoria de Lamarck. O autor relata a teoria de Lamarck, que deu origem à teoria de Darwin, e considera que “[...] a adaptação substancial produzida em qualquer órgão [...] não será perdida, mas transmitida, pelo menos em parte, à descendência [...]”. 

Já durante a passagem sobre a teoria de Darwin, o “puro acaso” serve como ponto de partida para uma reflexão acerca da pouca influência do indivíduo sobre a sua carga hereditária, “[...] já que significa que uma mutação favorável aumenta a perspectiva de o indivíduo sobreviver e gerar a descendência, para a qual transmite a mutação em questão [...]”. Por fim, o autor lança o darwinismo como melancolia, concluindo que o lamarckismo é insustentável do ponto de vista hereditário.

No terceiro subcapítulo – O comportamento influencia a seleção – é apresentada a contraposição do autor ao que foi discutido nos parágrafos anteriores, levando em consideração que “[...] apenas o ‘mecanismo’ pelo qual as coisas acontecem é mais complicado que aquele imaginado por Lamarck”. 

Ainda, são apresentados detalhes acerca das características mutantes, nas mais diversas espécies de seres vivos, como o que ocorre com as plantas com características adaptativas, e as vantagens seletivas a partir de mudanças no meio onde cada espécie vive. O ponto principal desta passagem é a especialização dos seres vivos para a sobrevivência, surgindo como suas características particulares, suas exceções e a seleção de espécies.


No quarto subcapítulo, Lamarckismo dissimulado, o autor traz a influência seletiva do ambiente e tem como objetivo principal o contexto favorável e desfavorável de sobrevivência. No contexto favorável são utilizados exemplos de adaptações que facilitam a sobrevivência das espécies. Esta situação “[...] facilita o acesso a certas fontes ou reduz o perigo de determinadas adversidades ou ambas as coisas”. Já no contexto desfavorável, “[...] a situação como um todo é extremamente dinâmica, a luta é muito dura [...]”. Nesta descrição são discutidos os valores seletivos a partir de adversidades, como as guerras, que fazem com que a espécie humana também sofra certa “seleção natural”.

No subcapítulo Fixação genética de hábitos e habilidades, o objetivo é explicar a compreensão do darwinismo com exemplos e comparações, assim como os hábitos herdados nas espécies. Em contraposição a tudo o que foi encontrado na obra, aqui se tem a comparação entre o uso apropriado de determinado órgão de um indivíduo, que é utilizado frequentemente e que sofre adaptações segundo a teoria de Lamarck, levando o autor a dar créditos a esta teoria. 

Assim, o texto parte do princípio de que, primeiramente existiria um enorme contraste entre teorias evolucionistas, porém as inferências e as afirmações nos levam a crer que este contraste não é tão significativo.

Neste momento é apresentada a evolução histórica das bicicletas, que são constantemente melhoradas e não podem ser comparadas com os primeiros exemplares.
Imagem: Paulo Fernando Vieira de Almeida

No sexto e último subcapítulo, Perigos para a evolução intelectual, o autor retorna ao início do capítulo para concluir seus questionamentos e indicar, como objetivo principal, o comportamento do ser humano e o desenvolvimento biológico. 

Aqui é importante salientar “[...] a crescente mecanização e ‘estupidificação’ em que a maioria dos processos de manufatura envolvem o grave perigo de uma degeneração geral de nosso órgão da inteligência [...]”. Percebe-se que o autor deixa claro que, atualmente, pensamos muito nos processos de evolução física, porém medidas de bem-estar e segurança também podem ser motivos de preocupação com os processos evolutivos. “[...] É possível defender fortemente a posição de que o cuidado com o nosso presente bem-estar deveria se sobrepor às preocupações com o nosso futuro evolutivo [...]”.

Para finalizar esta resenha, o desafio proposto pelo autor nos leva a repensar e sobrepor visões diferenciadas das que já conhecemos, a partir de um capítulo em que Schrödinger conversa com o leitor de forma simplificada e com contrapontos extremamente fundamentados. É praticamente impossível pensarmos no nosso planeta sem que haja a seleção natural, em todas as espécies. 

É importante olharmos para a evolução como uma meta alcançada por determinada espécie a fim de proteger-se e, talvez, perpetuar-se. Assim, o autor finaliza o capítulo considerando que o bem-estar sempre deve se sobrepor ao futuro do planeta, porém, infelizmente, “[...] ao lado da necessidade, o tédio tornou-se o pior flagelo de nossas vidas [...]”.

Referência:
SCHRÖDINGER, Erwin. O aspecto físico da célula viva seguido de Mente e matéria e fragmentos autobiográficos. São Paulo: UNESP, 1997.

Dados do autor: Luís César Minozzo é Licenciado em Ciências – Habilitação Biologia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Campus da Região dos Vinhedos. Especialista em Educação Ambiental pelo Serviço Nacional do Comércio (SENAC) e especialista em Supervisão Escolar pela Faculdade Guilherme Guimbala (FGG). Mestrando em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, vinculado à linha de pesquisa Tecnologias, recursos e materiais didáticos para o ensino de Ciências e Matemática. E-mail: lcminozz@yahoo.com.br

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