14 janeiro, 2013

Leviatã de Thomas Hobbes

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Capa do Livro "Leviatã" de Hobbes

1) Biografia.
Thomas Hobbes nasceu em 5 de abril do ano de 1588 em Westport, nas cercanias de Malmesbur, Inglaterra. Em 1603 iniciou seus estudos de filosofia escolástica e lógica na Universidade de Oxford, onde se graduou em 1608. Nesse mesmo ano se tornou preceptor do filho de William Cavendish, Conde de Devoshire.

Hobbes realizou três viagens de estudo pelo continente europeu acompanhando seus tutorados, nestas viagens tomou consciência da persistente influência da escolástica medieval sobre vários âmbitos do conhecimento humano. Numa delas, entra em contato na Itália com Galileu Galilei, o quê lhe reforça a intenção de aplicar os mesmos métodos das ciências naturais e geometria às ciências sociais.

Em 1647 exilou-se na França em virtude da irrupção da guerra civil na Inglaterra, pois os revoltosos não se posicionavam apenas contra Carlos I, mas, também, aos seus escritos pró-monarquia . Na França, Hobbes se tornou professor de matemática do futuro Rei Carlos II, do trono inglês. Ainda no exílio, em 1651, ele publicou sua obra mais importante, o Leviatã, uma teoria sobre a soberania em que se mostra um defensor ferrenho do absolutismo.

Thomas Hobbes, tutor de Carlos II
 Em 1679, aos 91 anos ele morreu no seio da família Cavendish. Seus últimos anos foram marcados pelo silêncio imposto às suas obras de caráter político e por sua frustração de nunca ter sido admitido na “Real Society”, a real academia de ciências inglesa. Ironicamente, ele teve menor liberdade de expressão com a restauração da monarquia de Carlos II, seu ex-aluno, do que sob o governo republicano de Cromwell.

2) Resumo das idéias principais da obra Leviatã.

Homem artificial.

Hobbes inicia o Leviatã estabelecendo um curioso mecanismo de justificativa de uma ciência social exata. O homem, imitando a arte de Deus, torna possível a criação de um animal artificial. O estado que a todos representa, é um vasto autômato, constituído por ocasião da criação do pacto social. A razão da artificialização do Leviatã foi o desejo de Hobbes de aplicar às investigações políticas e sociais as mesmas regras da geometria. Uma vez conhecidas as causas, o seriam também os resultados.


Perspectiva mecanicista.

A base da filosofia hobbesiana é reconhecidamente mecanicista, exposta já na primeira página do livro, enfatizado ao longo do texto pela ênfase dada aos diversos tipos de movimento. Além do caráter mecânico atribuído ao autômato Leviatã, a própria “criatura racional, a mais excelente obra da natureza, o homem” (Hobbes, Thomas, p.9) tem seu viés mecânico, uma vez que no capítulo I, da sensação, as sensações não passam de pressões exteriores sobre os órgãos, movimentos que produzem movimentos, o que remete às engrenagens de uma máquina.

Análise do poder.

Há dois estados contrastantes: um é o estado de natureza em que os homens viviam em completa barbárie e onde o poder era exercido pelo mais forte. Nesse estado há a guerra de todos contra todos, em virtude da fragmentação do poder. Outro é aquele originário do pacto social onde os homens renunciam ao seu direito de tomar tudo aquilo que ele acha que é seu, em prol de um soberano que não deixará que os outros façam com ele aquilo que ele renunciou fazer aos outros.

Contrariamente a Aristóteles, Hobbes defende a origem convencional da sociedade civil, que é criada como um recurso dos fracos que não sobreviveriam de outra forma aos caprichos dos seus semelhantes. À lei da autopreservação natural, que leva os homens a um eterno conflito é oposta àquela da busca da paz e da segurança, somente possível quando há o pacto social para a constituição do estado.

A abstração e secularização do poder do estado.

Há pela primeira vez na história da filosofia política a sistematização da separação entre as coisas em si e a sua simbologia.

Graças ao engenhoso processo de artificialização do estado, Hobbes criou uma entidade supranatural, um deus mortal sem existência corporal capaz de lidar com as crescentes complexidades da textura social pós renascença. Para tanto, ele rechaça qualquer “ficção do espírito”, ou seja, a imaginação que deriva de uma sensação reduzida, não é capaz de apreender o conhecimento da própria coisa.

Apesar de condenar as metáforas há uma curiosa contradição no pensamento hobbesiano, pois a sua figura do Leviatã é, na verdade, uma grande metáfora, extraída da antiga tradição bíblica, que serve para designar a forma, o pacto estabelecido entre os homens para a consecução do Estado Moderno.

Hobbes lança os pressupostos teóricos da separação definitiva entre igreja e estado, tornando-a mero cliente como qualquer outro agente social e fornece subsídios para a construção abstrata da máquina estatal num outro nível de existência, a institucional.

A origem da soberania está no contrato, longe de ser somente entre o soberano e os súditos, mas sim entre indivíduos que decidem constituir um soberano. Longe de restringir a soberania, o contrato a cria.

3) Ponto importante.

Thomas Hobbes, mais jovem
 O verdadeiro pai do estado moderno foi Hobbes. Hoje quando se fala da “força das instituições”, fala-se de algo inédito até o século XVII, até lá predominava a percepção grega da convivência dentro de uma polis, onde a estrutura de poder era pessoalizada.

No momento em que ele aplicou o método racionalista sobre um objeto de investigação considerado até então como “vago e impreciso”, segundo Aristóteles “As ações boas e justas que a ciência política investiga parecem muito variadas e vagas... (EN,1094b,16)”, inaugurou um caminho novo nas ciências sociais em que é possível estabelecer os rigores da pesquisa científica até no estudo da política das nações.

4) O que ainda é atual no texto.

A visão do modelo de estado laico e moderno começou com Hobbes e perdura até os dias de hoje. A separação óbvia entre as pessoas que são investidas de poder e os seus cargos, tão entronizada atualmente, foi intuída de maneira genial na obra deste pensador.

5) Contribuição para a minha formação política.

Fiquei surpreso ao tomar conhecimento de uma doutrina que legitima o absolutismo, despindo-o, ato contínuo, de toda a sua justificação divina, onde Deus foi substituído pela necessidade.

Não é de causar espanto que Hobbes tenha sido muito mais aceito na extinta União das Repúblicas Soviéticas do que no Reino Unido.

Por outro lado, é inegável a beleza da singela simplicidade com que justifica a constituição do pacto social; a segurança em primeiro lugar. O estado brasileiro está carecendo de uma maior objetividade, ao estilo hobbesiano.

6) Crítica.

Um autor maldito como Hobbes já recebeu ainda em vida todas as críticas possíveis, nem só por suas opiniões políticas, mas também como pelas suas desastrosas incursões em tentativas de solucionar os três problemas clássicos de geometria que perduravam desde séculos antes de Cristo: a quadratura do círculo, a duplicação do cubo e a trissecção do ângulo (Sireira, José Montesinos).

A principal crítica a Hobbes  vista com olhos de hoje é a sua fixação em explicações monolíticas, tão em desacordo com a nossa visão relativizada que não aceita mais as “verdades racionais”.

Afora isto, o seu postulado do estado natural de guerra de todos contra todos hoje continua valendo, já que apesar da humanidade ter evoluído em termos técnicos e científicos, continua se engalfinhando em intermináveis disputas bélicas causadoras de tantos genocídios, provando, infelizmente, a falta de superação das teses de um autor do século XVII.

7) Bibliografia.
1- ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985.
3- Sirera, José Montesinos. Hobbes y la quadratura Del círculo. Fundacíon Canária Orotava de Historia de la Ciencia. Seminário «Orotava» de Historia de la Ciencia – Año XI-XII. 

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