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Capa do Livro "Leviatã" de Hobbes |
1) Biografia.
Thomas
Hobbes nasceu em 5 de abril do ano de 1588 em Westport, nas cercanias de
Malmesbur, Inglaterra. Em 1603 iniciou seus estudos de filosofia escolástica e
lógica na Universidade de Oxford, onde se graduou em 1608. Nesse mesmo ano se
tornou preceptor do filho de William Cavendish, Conde de Devoshire.
Hobbes realizou
três viagens de estudo pelo continente europeu acompanhando seus tutorados, nestas
viagens tomou consciência da persistente influência da escolástica medieval
sobre vários âmbitos do conhecimento humano. Numa delas, entra em contato na
Itália com Galileu Galilei, o quê lhe reforça a intenção de aplicar os mesmos
métodos das ciências naturais e geometria às ciências sociais.
Em 1647 exilou-se
na França em virtude da irrupção da guerra civil na Inglaterra, pois os
revoltosos não se posicionavam apenas contra Carlos I, mas, também, aos seus escritos
pró-monarquia . Na França, Hobbes se tornou professor de matemática do
futuro Rei Carlos II, do trono inglês. Ainda no exílio, em 1651, ele
publicou sua obra mais importante, o Leviatã, uma teoria sobre a soberania em
que se mostra um defensor ferrenho do absolutismo.
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Thomas Hobbes, tutor de Carlos II |
2) Resumo das idéias principais da obra Leviatã.
Homem artificial.
Hobbes
inicia o Leviatã estabelecendo um curioso mecanismo de justificativa de uma
ciência social exata. O homem, imitando a arte de Deus, torna possível a
criação de um animal artificial. O estado que a todos representa, é um vasto
autômato, constituído por ocasião da criação do pacto social. A razão da
artificialização do Leviatã foi o desejo de Hobbes de aplicar às investigações
políticas e sociais as mesmas regras da geometria. Uma vez conhecidas as causas,
o seriam também os resultados.
Perspectiva mecanicista.
A base da
filosofia hobbesiana é reconhecidamente mecanicista, exposta já na primeira
página do livro, enfatizado ao longo do texto pela ênfase dada aos diversos
tipos de movimento. Além do caráter mecânico atribuído ao autômato Leviatã, a
própria “criatura racional, a mais
excelente obra da natureza, o homem” (Hobbes, Thomas, p.9) tem seu viés
mecânico, uma vez que no capítulo I, da sensação, as sensações não passam de
pressões exteriores sobre os órgãos, movimentos que produzem movimentos, o que
remete às engrenagens de uma máquina.
Análise do poder.
Há dois
estados contrastantes: um é o estado de natureza em que os homens viviam em
completa barbárie e onde o poder era exercido pelo mais forte. Nesse estado há
a guerra de todos contra todos, em virtude da fragmentação do poder. Outro é
aquele originário do pacto social onde os homens renunciam ao seu direito de
tomar tudo aquilo que ele acha que é seu, em prol de um soberano que não deixará
que os outros façam com ele aquilo que ele renunciou fazer aos outros.
Contrariamente
a Aristóteles, Hobbes defende a origem convencional da sociedade civil, que é
criada como um recurso dos fracos que não sobreviveriam de outra forma aos
caprichos dos seus semelhantes. À lei da autopreservação natural, que leva os homens
a um eterno conflito é oposta àquela da busca da paz e da segurança, somente
possível quando há o pacto social para a constituição do estado.
A abstração e secularização do poder do estado.
Há pela
primeira vez na história da filosofia política a sistematização da separação
entre as coisas em si e a sua simbologia.
Graças ao
engenhoso processo de artificialização do estado, Hobbes criou uma entidade supranatural,
um deus mortal sem existência corporal capaz de lidar com as crescentes
complexidades da textura social pós renascença. Para tanto, ele rechaça
qualquer “ficção do espírito”, ou seja, a imaginação que deriva de uma sensação
reduzida, não é capaz de apreender o conhecimento da própria coisa.
Apesar de
condenar as metáforas há uma curiosa contradição no pensamento hobbesiano, pois
a sua figura do Leviatã é, na verdade, uma grande metáfora, extraída da antiga
tradição bíblica, que serve para designar a forma, o pacto estabelecido entre
os homens para a consecução do Estado Moderno.
Hobbes lança
os pressupostos teóricos da separação definitiva entre igreja e estado,
tornando-a mero cliente como qualquer outro agente social e fornece subsídios
para a construção abstrata da máquina estatal num outro nível de existência, a
institucional.
A origem da
soberania está no contrato, longe de ser somente entre o soberano e os súditos,
mas sim entre indivíduos que decidem constituir um soberano. Longe de
restringir a soberania, o contrato a cria.
3) Ponto importante.
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Thomas Hobbes, mais jovem |
No momento
em que ele aplicou o método racionalista sobre um objeto de investigação
considerado até então como “vago e impreciso”, segundo Aristóteles “As ações boas e justas que a ciência
política investiga parecem muito variadas e vagas... (EN,1094b,16)”,
inaugurou um caminho novo nas ciências sociais em que é possível estabelecer os
rigores da pesquisa científica até no estudo da política das nações.
4) O que ainda é atual no texto.
A visão do
modelo de estado laico e moderno começou com Hobbes e perdura até os dias de
hoje. A separação óbvia entre as pessoas que são investidas de poder e os seus
cargos, tão entronizada atualmente, foi intuída de maneira genial na obra deste
pensador.
5) Contribuição para a minha formação política.
Fiquei
surpreso ao tomar conhecimento de uma doutrina que legitima o absolutismo,
despindo-o, ato contínuo, de toda a sua justificação divina, onde Deus foi substituído
pela necessidade.
Não é de
causar espanto que Hobbes tenha sido muito mais aceito na extinta União das
Repúblicas Soviéticas do que no Reino Unido.
Por outro
lado, é inegável a beleza da singela simplicidade com que justifica a
constituição do pacto social; a segurança em primeiro lugar. O estado brasileiro
está carecendo de uma maior objetividade, ao estilo hobbesiano.
6) Crítica.
Um autor
maldito como Hobbes já recebeu ainda em vida todas as críticas possíveis, nem
só por suas opiniões políticas, mas também como pelas suas desastrosas incursões
em tentativas de solucionar os três problemas clássicos de geometria que
perduravam desde séculos antes de Cristo: a quadratura do círculo, a duplicação
do cubo e a trissecção do ângulo (Sireira,
José Montesinos).
A principal
crítica a Hobbes vista com olhos de hoje
é a sua fixação em explicações monolíticas, tão em desacordo com a nossa visão
relativizada que não aceita mais as “verdades racionais”.
Afora isto,
o seu postulado do estado natural de guerra de todos contra todos hoje continua
valendo, já que apesar da humanidade ter evoluído em termos técnicos e científicos,
continua se engalfinhando em intermináveis disputas bélicas causadoras de
tantos genocídios, provando, infelizmente, a falta de superação das teses de um autor do século XVII.
7) Bibliografia.
1- ARISTÓTELES.
Ética a Nicômacos. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1985.
2- Hobbes,
Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poderde um Estado Eclesiástico e Civil.
3- Sirera, José Montesinos. Hobbes y la quadratura Del círculo. Fundacíon Canária Orotava de
Historia de la Ciencia. Seminário «Orotava» de Historia de la Ciencia – Año
XI-XII.
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