18 novembro, 2012

O modelo antropocêntrico atual como divergência à Ética a Nicômacos



Aristóteles buscou investigar a excelência moral, para ele, condição “sine qua non” para se atingir a felicidade, erigindo um modelo de homem voltado para o cultivo das virtudes.

As discussões sobre a natureza continuam e estão longe de um consenso. Antigos termos sofreram modificações ao longo do tempo, atualmente fala-se em herança genética ao invés de dons naturais.

Não obstante as modificações linguísticas, os velhos problemas continuam a ser debatidos, mesmo com uma nova roupagem.

A pesquisa empírica não quantificou de maneira conclusiva o quanto do homem é natural e o quanto dele é “feito” pelo meio. Nunca se determinou empiricamente os pesos do fator genético e da bagagem social/cultural. Os construtos éticos refletem essa imprecisão e acabam apresentando uma variabilidade inaceitável, considerando que para um povo, ações eticamente condenáveis podem ser lícitas e desejáveis para outro.

Algumas implicações dos pressupostos que levaram os diversos países a produzir respostas sob a forma de regramento jurídico são: O caráter já é definido no nascimento? Caso assim seja, as pessoas já nascem boas ou más, o quê justificaria os dispositivos de pena de morte nos códigos penais, caso não, significaria que o convívio social produz o criminoso, o quê tornaria viável a sua recuperação. Caso se nasça com um caráter pré-definido, mas a vida em sociedade seja capaz de alterá-lo, justificaria as intervenções com vistas a uma “reprogramação” do caráter do indivíduo através das instâncias familiar e educativa.

O “produto” legal nasce de um longo debate sobre as questões aqui abordadas. Independentemente da densidade das reflexões filosóficas que os geraram, as sociedades constroem modelos de homem, de natureza, de Deus, de bem, de conduta, etc.

Um modelo de homem antropocêntrico e plenipotenciário, soberano da natureza, tem conduzido a civilização humana a devastações planetárias sem precedentes na história.

Na esfera jurídica, tem gerado consequências desastrosas sob a forma de constituições divorciadas da realidade dos países.

Na educação, o antropocentrismo criou sistemas pedagógicos excludentes e fomentadores de abismos sociais.

Contrariamente ao preconizado em Ética a Nicômacos, o nosso atual modelo desvencilha-se de qualquer perspectiva virtuosa e moral restritiva e se atira ao livre cometimento de ações que visam unicamente a satisfação do ter e ao reconhecimento social.

Para lidar com um agente ético dissonante ao antigo ideal de virtude, surgiu uma ética utilitarista capaz de justificar as ações de um sujeito que, sob o prisma esboçado por Aristóteles, seriam vistas como deficiências morais.

Por Isaias Malta

Referência Bibliográfica
ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985.

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