27 outubro, 2012

A natureza da excelência moral, segundo Aristóteles.

Hera: deusa da moralidade, tradição e poder, interpretada por Honor Blackman*

A excelência moral pode ser constituída por natureza?
 Para Aristóteles, aparentemente sim,  “Com efeito, a excelência moral e a deficiência moral respectivamente preservam e destroem a razão, e em matéria de conduta o objetivo final é o ponto de partida das ações, da mesma forma que as hipóteses em matemática; mas nem no caso da ética nem no da matemática a razão nos ensina o ponto de partida; é a excelência moral, seja ela natural ou produzida pelo hábito que ensina a opinar corretamente acerca dos pontos de partida na esfera moral. (EN,1151 a 22)”,

Porém, numa passagem anterior há uma abordagem exaustiva, que defende a origem da excelência moral através da habitualidade: “Como já vimos, há duas espécies de excelência: a intelectual e a moral. Em grande parte a excelência intelectual deve tanto o seu nascimento quanto o seu crescimento à instrução (por isto ela requer experiência e tempo), quanto à excelência moral, ela é o produto do hábito, razão pela qual seu nome é derivado, com uma ligeira variação, da palavra “habito”. É evidente, portanto, que nenhuma das várias formas de excelência moral se constitui em nós por natureza, pois nada que existe por natureza pode ser alterado pelo hábito. (EN,1103 a 10)”.

Aristóteles assevera que em assunto de natureza tão imprecisa não se pode exigir as mesmas respostas em circunstâncias diferentes por que: “Cada tipo de afirmação, portanto, deve ser aceito dentro dos mesmos pressupostos; os homens instruídos se caracterizam por buscar a precisão em cada classe de coisas somente até onde a natureza do assunto permite, da mesma forma que é insensato aceitar raciocínios apenas prováveis de um matemático e exigir de um orador demonstrações rigorosas. (EN,1094 b 26).

Ao ler Ética a Nicômacos, pode-se supor que há possibilidade da excelência moral ser originada naturalmente e pela habitualidade. 

No momento que se admite essa última hipótese, o papel do aprendizado na formação do indivíduo agiganta-se, uma vez que “...a excelência moral se relaciona com o prazer e o sofrimento, é por causa do prazer que praticamos más ações, e é por causa do sofrimento que deixamos de praticar ações nobilitantes. Daí a importância, assinalada por Platão, de termos sido habituados adequadamente, desde a infância, a gostar e desgostar das coisas certas; esta é a verdadeira educação. (EN, 1104 b 23)”.

 Longe de esgotar o assunto, Aristóteles considera a origem da excelência moral, ora constituída por natureza, ora por habitualidade e também “...nem por natureza nem contrariamente à natureza a excelência moral é engendrada em nós, mas a natureza nos dá a capacidade de recebê-la, e esta capacidade se aperfeiçoa com o hábito. (EN,1103 a 22)”.

Esta última hipótese engloba as outras e torna possível a oscilação entre as duas primeiras, legitimando a gênese dos dons naturais

A habitualidade pode produzir tanto o bem, quanto o mal, porque “toda a excelência moral é produzida e destruída pelas mesmas causas e pelos mesmos meios, tal como acontece com toda arte, pois é tocando cítara que se formam tanto os bons quanto os maus citaristas... (EN,1103 b 11)”, mas não é o nascimento que determina se alguém será bom ou mau “com efeito, se não fosse assim não haveria necessidade de professores, pois todos os homens teriam nascido bem ou mal dotados para as suas profissões. Logo, acontece o mesmo com as várias formas de excelência moral... (EN,1103 b 15)”.

Por Isaías Malta

Referência Bibliográfica
ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985.

*nota: O filme em que Honor blackman interpreta Hera é "Jasão e os Argonautas" de 1963.

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