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Hera: deusa da moralidade, tradição e poder, interpretada por Honor Blackman* |
A excelência moral pode ser
constituída por natureza?
Porém, numa passagem anterior há uma abordagem exaustiva,
que defende a origem da excelência moral através da habitualidade: “Como já vimos, há duas espécies de
excelência: a intelectual e a moral. Em grande parte a excelência intelectual deve
tanto o seu nascimento quanto o seu crescimento à instrução (por isto ela
requer experiência e tempo), quanto à excelência moral, ela é o produto do
hábito, razão pela qual seu nome é derivado, com uma ligeira variação, da
palavra “habito”. É evidente, portanto, que nenhuma das várias formas de
excelência moral se constitui em nós por natureza, pois nada que existe por natureza
pode ser alterado pelo hábito. (EN,1103 a 10)”.
Aristóteles assevera que em
assunto de natureza tão imprecisa não se pode exigir as mesmas respostas em circunstâncias
diferentes por que: “Cada tipo de
afirmação, portanto, deve ser aceito dentro dos mesmos pressupostos; os homens
instruídos se caracterizam por buscar a precisão em cada classe de coisas
somente até onde a natureza do assunto permite, da mesma forma que é insensato
aceitar raciocínios apenas prováveis de um matemático e exigir de um orador
demonstrações rigorosas. (EN,1094 b 26).
Ao ler Ética a Nicômacos,
pode-se supor que há possibilidade da excelência moral ser originada naturalmente
e pela habitualidade.
No momento que se admite essa última hipótese, o papel do
aprendizado na formação do indivíduo agiganta-se, uma vez que “...a excelência moral se relaciona com o
prazer e o sofrimento, é por causa do prazer que praticamos más ações, e é por
causa do sofrimento que deixamos de praticar ações nobilitantes. Daí a
importância, assinalada por Platão, de termos sido habituados adequadamente,
desde a infância, a gostar e desgostar das coisas certas; esta é a verdadeira
educação. (EN, 1104 b 23)”.
Longe de esgotar o assunto, Aristóteles
considera a origem da excelência moral, ora constituída por natureza, ora por
habitualidade e também “...nem por
natureza nem contrariamente à natureza a excelência moral é engendrada em nós,
mas a natureza nos dá a capacidade de recebê-la, e esta capacidade se aperfeiçoa
com o hábito. (EN,1103 a 22)”.
Esta última hipótese
engloba as outras e torna possível a oscilação entre as duas primeiras,
legitimando a gênese dos dons naturais.
A habitualidade pode
produzir tanto o bem, quanto o mal, porque “toda
a excelência moral é produzida e destruída pelas mesmas causas e pelos mesmos
meios, tal como acontece com toda arte, pois é tocando cítara que se formam
tanto os bons quanto os maus citaristas... (EN,1103 b 11)”, mas não é o
nascimento que determina se alguém será bom ou mau “com efeito, se não fosse assim não haveria necessidade de professores,
pois todos os homens teriam nascido bem ou mal dotados para as suas profissões.
Logo, acontece o mesmo com as várias formas de excelência moral... (EN,1103 b
15)”.
Por Isaías Malta
Por Isaías Malta
Referência Bibliográfica
ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1985.
*nota: O filme em que Honor blackman interpreta Hera é "Jasão e os Argonautas" de 1963.
*nota: O filme em que Honor blackman interpreta Hera é "Jasão e os Argonautas" de 1963.
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