No ano em que Darwin esteve no Brasil havia conflitos no nordeste: a Cabanada em Pernambuco e Alagoas e movimento separatista no Recôncavo Baianao. Porém, alheio aos conflitos, seus os diários apenas revelam aspectos da natureza e do cotidiano de um povo que vivia sob a égide do 10º maior império da história da humanidade, durante seu período regencial que durou de 1831 a 1840 (Wikipédia).
Esse cotidiano já havia sido pintado por artistas franceses, como Debret entre 1815 e 1820, mas ao olhar de Darwin receberia outras 'tintas', que ainda assim retratariam cenários semelhantes e tristes relacionados à escravidão negra no Brasil.
Darwin: 4 de abril a 5 de julho de 1832 – Alguns dias depois da nossa chegada, travei conhecimento com um inglês, dono de uma fazenda situada ao norte de Cabo Frio, a mais de 160 km de distância da capital. Como estivesse preparando-se para visitá-la, convidou-me a lhe fazer companhia, o que aceitei de bom agrado.
Darwin: 8 de abril – A nossa caravana consistia de sete pessoas. O primeiro percurso foi muito interessante. O dia estava excessivamente quente, e ao passarmos pelos bosques encontramos tudo imóvel, com exceção de algumas borboletas grandes e brilhantes que, preguiçosamente, esvoaçavam de um lado para o outro. O panorama que se descortinava das colinas de detrás da praia Grande (Niterói) era deslumbrante, pela intensidade das cores em que prevalecia um tom azul escuro: embaixo as águas tranquilas da baía (Guanabara) disputavam com o céu a supremacia do esplendor. Depois de havermos atravessado algumas áreas de terra cultivada, embrenhamo-nos por uma floresta, cujos recantos eram de inexcedível grandiosidade.
Darwin: Ao meio dia chegamos a Itacaia, pequena aldeia situada numa planície. Em torno da casa principal ali existente, viam-se as choupanas dos negros. A forma e a posição desses casebres fizeram lembrar-me das gravuras que vi de habitações hotentotes na África do Sul. Como a lua nascesse cedo, resolvemo-nos a partir na mesma tarde a fim de pernoitarmos na lagoa Maricá.
Durante este caminho Darwin conhece um pouco da trágica história dos quilombos, que até os dias de hoje possuem alguns remanescentes, como retratados na imagem abaixo (Fotografia e Cinema)
Darwin: É notório este lugar, pelo fato de ter sido, durante muito tempo, o quilombo de alguns escravos fugidos que, cultivando pequeno terreno próximo à vertente, conseguiram suprir-se do necessário sustento. Mas foram, um dia, descobertos e reconduzidos dali por uma escolta de soldados. Uma velha escrava, no entanto, preferindo a morte à vida miserável que vivia, lançou-se do alto do morro, indo despedaçar-se contra as pedras da base. Se se tratasse de alguma matrona romana, esse gesto seria interpretado como nobilitante amor à liberdade, mas, numa pobre negra, não passava de simples caturrice de bruto.
Essa história, certamente, afetou negativamente o humor do jovem Darwin colocando-o num estado de melancolia que se refletiu na descrição do ambiente, durante o restante do percurso:
Darwin: Continuamos cavalgando várias horas. No decurso dos primeiros quilômetros a estrada emaranhava-se por um deserto de lagunas e pântanos dando ao cenário banhado de luar o aspecto mais desolador que se podia imaginar. Alguns pirilampos cruzavam o ar perto de nós, e a nosso ouvido chegava o gemido da narceja, que fugia à nossa passagem. As ondas que se quebravam nas praias longínquas mandavam-nos, através do silêncio da noite, o seu marulhar surdo e monótono.
Referências e fonte das imagens:
Darwin, C., Viagem de um Naturalista ao Redor do Mundo - Vol.1, Nova edição, 1871. Abril Cultural. Companhia Brasil Editora, São Paulo, s/d.
CASA DA CIÊNCIA - Caminhos De Darwin no Rio de Janeiro -
HISTÓRIA BRASILEIRA. Missão artística francesa.
HISTÓRIA DE MINAR GERAIS
IMPÉRIO DO BRASIL. Cidade do Rio de Janeiro - História e Evolução - séc. XIX.
Paraibarama
Portal Baía de Guanabara
O Globo - cultura
Wikipedia – Narceja comum
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