26 agosto, 2012

Darwin e o Método Científico

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Imagem de satélite da Terra do Fogo
Nenhuma teoria é elaborada sem um processo especulativo. Nesta para de seu Diário de Viagem, Darwin expressa suas especulações e destaca a busca de informações que fazia questionando marinheiros e oficiais sobre suas observações de naturalista.

Darwin: “No mar em torno da Terra do fogo e não longe da costa, tive a ocasião de observar algumas faixas estreitas de cor vermelho brilhante , que eram produzidas por crustáceos de forma um tanto análoga ao dos grandes camarões. Os caçadores de focas chamavam-nos de “comida de baleia”. Se as baleias se alimentam destes animais não sei dizer, mas gaivotas, corvos marinhos e focas gigantescas, que se arrastam aos milhares devem, em alguns lugares da costa, ter como principal meio de subsistência esses caranguejos nadadores”.

Atualmente sabemos que os marinheiros estavam certos e, de fato, estes pequenos crustáceos são comidos pelas baleias Franca que habitam os mares gelados do polo sul. Os espécimes observados por Darwin devia se tratardo Krill antártico, Euphausia superba, que vive em grandes grupos, por vezes atingindo densidades de 10 000 a 30 000 indivíduos por metro cúbico (Wikipedia).  Apesar de pequenos, são muito numerosos e nutritivos, constituindo-se na base da alimentação dessa espécie de baleias (Blogpaedia).

Krill antártico

Darwin: "Os marinheiros atribuem, invariavelmente, aos ovos de peixe a descoloração da água: entretanto somente em uma das ocasiões constatei ser esta a causa. A uma distância de várias léguas do arquipélago das Galápagos, o navio cruzou três faixas de água com aspecto lamacento de cor amarelo escura, medindo alguns quilômetros de comprimento, mas com apenas poucos metros de largura. A linha de separação da água comum era muito nítida se bem que sinuosa. A cor era produzida por pequeninas bolas gelatinosas contendo grande número de minúsculos ovos esféricos. Estes eram de duas qualidades distintas, uma tendo um matiz avermelhado e sendo de forma diferente da outra. Não posso fazer nenhuma conjectura sobre que duas espécies de animais sejam essas a que tenham pertencido estes óvulos. Afirma o Capitão Colnett que a sua presença é muito comum entre as ilhas Galápagos e que a direção que tomam as faixas é a mesma das correntes marítimas. No caso que acabei de descrever a direção fora dada pelo vento".

Atualmente, outras coisas não biológicas demarcam as correntes marítimas, como pode ser visto abaixo. No caso do lixo plástico, vê-se que também percorre grandes distâncias quando viaja através das correntes marinhas, indo empestar, por vezes, lugares muito distantes de onde foi produzido. Para evitar esse tipo de praga moderna Reduza, Reutilize e Recicle.

do mar... para praia

No tempo de Darwin, além dos ovos, confervas e infusórios havia outros organismos a tonalizar o mar...

Darwin: "A única outra aparência que tenho que mencionar é a de uma delgada película oleosa refletindo cores irisadas à flor da água. Pude ver na costa do Brasil uma considerável extensão do oceano assim coberta. Os marinheiros atribuem-na a matérias em decomposição oriundas de alguma carcaça de baleia que esteja, provavelmente, à tona em algum lugar não muito distante. Deixo como assunto de observações futuras umas pequeninas partículas gelatinosas frequentemente dispersas sobre a superfície da água, mas em abundância insuficiente para produzir nela qualquer alteração de cor".

Abaixo Darwin destaca o que mais lhe chamou a atenção nestas observações, expõem suas dúvidas e hipóteses de trabalho.

Darwin: "Há nos comentários acima duas circunstâncias que parecem notáveis: em primeiro lugar, de que maneira os vários corpúsculos que formam faixas com margens tão nítidas se conservam em contiguidade? No caso dos caranguejos nadadores, os movimentos se faziam com a mesma uniformidade de um regimento de soldados, mas no caso dos óvulos, das confervas ou dos infusórios não é provável que tal acontecesse em função de uma ação inteligente. Em segundo lugar, que causa pode produzir o comprimento e estreiteza das faixas? Há tanta semelhança entre essa aparência e a que se nota em toda grande torrente, onde a correnteza faz desenrolar em longas cintas a espuma colhida dos redemoinhos, que devo imputar o efeito a uma ação idêntica de correntes, quer aéreas quer marítimas".

Darwin: "Somos, nessa hipótese, forçados a crer que os vários corpúsculos são gerados em certos lugares favoráveis e dali removidos pela ação do vento e da água. Confesso, entretanto, que há grande dificuldade imaginar que há um lugar um local qualquer que pudesse ser o berço dos milhões de milhões de animálculos e confervas: pois, de onde teriam procedido os germes encontrados em tais pontos, se os corpúsculos paternos foram espalhados pelo vento e pelas ondas num oceano imenso? Em nenhuma outra hipótese poderia eu compreender o seu agrupamento linear. Posso acrescentar ainda que Scoresby informa que, em certas regiões do mar Ártico, invariavelmente se encontram áreas de água verde em que abundam animais pelágicos".

Darwin não levou em consideração a sucessão de gerações. Sabemos, por exemplo, que as migrações da borboleta Monarca envolvem mais de uma geração, de modo que os indivíduos que voam para o sul no inverno do hemisfério norte não são os mesmos que voltam, passado o inverno.

Monarca

Isso pode se aplicar a outras espécies, explicando as viagens de ida e volta do plâncton marinho. Podemos supor que uma geração seguiria para uma direção e apenas seus descendentes voltariam por outras correntes ao ponto de origem.

O certo é que para afirmarmos qualquer coisa é necessário estudar a fundo a biologia dos organismos e isso nem sempre é fácil, especialmente quando envolve migrações planetárias, pois os recursos necessários são grandes e nem sempre os órgãos financiadores compreendem o valor de alguns estudos. Assim sendo, em muitos casos ainda não conseguimos avançar em relação às especulações de Darwin, que teve o mérito de aceitar embarcar numa viagem de cinco anos, esteve atento a tudo e fez um registro detalhado de suas observações.

Referências:
Darwin, C., Viagem de um Naturalista ao Redor do Mundo - Vol.1, Nova edição, 1871. Abril Cultural. Companhia Brasil Editora, São Paulo, s/d.

ROCHA, Juliana. A viagem da monarca. Fiocruz. Disponível em: http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=773&sid=2 

Saiba mais sobre as borboletas Monarca lendo o artigo: “Lavouras RR também contribuem para o desaparecimento de borboletas monarca”. 

Glossário:
Confervas: O termo confervas era antigamente usado para designar várias espécies de algas e cianobactérias
Infusórios é uma antiga denominação dada aos ciliados e rotíferos, observáveis ao microscópio.

Fontes de ilustrações:
Turismo na Terra do Fogo (Foto de satélite - NASA)
Wikipedia (Krill antártico
Pense Eco (lixo no mar
Eco desenvolvimento. Org (lixo marinho global)
Centro de estudos ambientais (borboleta monarca)

Sugestão de leitura: Darwin no Brasil em HQ. Partes anteriores: *1* *2*  ... *11* *12**13**14*

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