Durante sua viagem ao redor do mundo, Darwin explorou e desenvolveu seus conhecimentos em geologia, botânica, antropologia e biologia. Como parte de seu ferramental de estudos, ele utilizou um pequeno microscópio de baixo custo, da imagem abaixo, como qual fez muitas observações (JARDINE, 2009).
Darwin: Mencionarei aqui outras observações sobre a descoloração do mar devido a causas orgânicas. Na costa do Chile, poucas léguas ao norte de Concepción, o Beagle passou, um dia, por grandes zonas de águas lamacentas, exatamente parecidas com água de inundação fluvial; novamente, um grau ao sul de Valparaíso e a cinquenta milhas da costa, este aspecto estava ainda mais extenso. Num vaso de vidro esta água apresentava um matiz vermelho pálido, e numa gota sob o microscópio viam-se fervilhar minúsculos animálculos, muitos dos quais explodiam frequentemente.
As descrições de Darwin sobre tais "animálculos" são imprecisas e pouco detalhadas, assim é arriscado tentar identificá-los, mas, pelas descrições, pode-se supor que não eram animais, mas sim protozoários ciliados. Porém, os relatos de Darwin sobre o comportamento e explosões de tais animálculos, se guindada ao mundo macroscópico, poderia servir como um bom argumento de filme de ficção. De fato, a publicação de seus diários foi um sucesso que demandou uma segunda edição, fato notável se considerarmos a irrisória porcentagem de pessoas que sabiam ler e podiam comprar livros em meados do século dezenove!
Darwin: [os minúsculos animálculos] São de forma oval e contraídos na parte central por um anel formado de cílios curvos vibráteis. Era, entretanto, muito difícil examiná-los cuidadosamente, visto que no instante que cessava o movimento, ou mesmo ao atravessarem o campo da ocular, os corpúsculos explodiam. Às vezes as duas extremidades explodiam ao mesmo tempo, outras vezes uma só e projetava-se, então, uma substância granulosa tosca e pardacenta.
(Argh! Quem não se enojaria ao ser atingido por uma substância granulosa tosca e pardacenta?)
O vídeo abaixo mostra um protozoário que parece explodir, eliminado de seu interior substâncias granulosas:
Darwin: Um instante antes de explodir o animal expandia-se a quase o dobro do tamanho normal, e a explosão ocorria dentro de quinze segundos depois de cessado o rápido movimento de progressão. Em alguns casos, a explosão era, durante curto intervalo, precedida de um ângulo de rotação em torno do grande eixo. Assim pereciam, em dois minutos, quantos indivíduos se vissem isolados em uma gota de água.
O Heliozoário do vídeo abaixo também parece explodir em função da pulsação de seu citoplasma que envolve uma espécie de esqueleto interno.
Heliozoários são protozoários ameboides, aproximadamente esféricos com uma espécie de esqueleto interno que apoia projeções chamadas axopodes, que se irradiam para fora, a partir da superfície da célula, dando-lhes um aspecto de sol. Eles podem ser encontrados tanto em água doce e ambientes marítimos.
Na sequência de seu relato, Darwin estima o tamanho dos protozoários observados como menor do que vinte e cinco milésimo de milímetro quadrado! Pelo jeito, havia mais recursos do que poderíamos imaginar na sua apertada cabine no HMS Beagle (como pode ser comprovada nas reproduções em escala 1:1 como abaixo).
Darwin: Os animais locomoviam-se com o ápice estreito voltado para frente, por meio dos cílios vibráteis e, em geral, deslocando-se rápida e subitamente. São excessivamente pequenos e invisíveis ao olho desarmado, não ocupando senão o espaço de vinte e cinco milésimos de milímetro quadrado. E o seu número é infinito, pois que na gota mais reduzida que eu podia colher sempre havia uma grande quantidade.
Este tipo de encontro com explosões de seres vivos que mudam a cor do mar aconteceu em vários momentos da viagem, como prosseguiu em seu diário...
Darwin: Outra ocasião atravessamos dois lugares no mar em que a água se via assim turvada, sendo que um deles deveria cobrir uma área de várias milhas quadradas. Que número incalculável de animais microscópios! Vista de longe a cor da água fazia pensar num rio que havia transbordado em algum distrito de barro vermelho, mas, à sombra do navio, escurecia-se como chocolate. Estava perfeitamente distinta a linha de junção da água vermelha com a água azul. Havia alguns dias que o tempo se mantinha calmo e o oceano, num grau fora do comum, pululava de criaturas vivas.
Referências:
DARWIN, C., Viagem de um Naturalista ao Redor do Mundo - Vol.1, Nova edição, 1871. Abril Cultural. Companhia Brasil Editora, São Paulo, s/d.
JARDINE, Boris. 'Charles Darwin's microscopes', Explore Whipple Collections, Whipple Museum of the History of Science, University of Cambridge, 2009. Disponível em http://www.hps.cam.ac.uk/whipple/explore/microscopes/darwinsmicroscopes/ acesso em 20 Mar 2010.
Imagens dos Diários usados a bordo do Beagle disponibilizadas por Ruins.
Réplica da Cabine de Darwin em Kent disponibilizada por English Heritage
Réplica da Cabine de Darwin no Sedgwick Museum of Earth Sciences and the University Museum of Zoology disponibilizada por Paul Garner no The New Creationism
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