![]() |
Hera, Deusa da Natureza. |
Para Aristóteles, tudo o que ocorre segundo a natureza é
naturalmente bom, como não poderia deixar de ser com qualquer arte dos deuses.
“Mas se é melhor ser feliz assim do que
por sorte, é razoável supor que é assim que se atinge a felicidade, pois tudo
que ocorre segundo a natureza é naturalmente tão bom quanto pode ser; o mesmo
acontece com tudo que depende da arte ou de qualquer causa racional,
especialmente se depende da melhor de todas as causas. Entregar à sorte o que
há de melhor e mais belo seria totalmente dissonante. (EN, 1099 b 21)”.
Como a categoria natureza abrange as criações dos deuses em
seu estado virginal, tornam-se possíveis dois tipos de ações: uma de acordo com
a natureza, e outra contrária à natureza. A dualidade das ações não implica na
formação pura e simples da dualidade bom/mal, já que algumas delas contra a
natureza são boas e outras, se tomadas ao sabor dela, são más. Para o
estabelecimento dos juízos de valor, há um desencadeamento ético sutil que
determinará o mérito das ações. Alguns produtos dessa ética são válidos até
hoje.
Os dons naturais
“A humanidade em massa
se assemelha totalmente aos escravos, preferindo uma vida comparável à dos
animais, mas ela vai buscar algumas razões em apoio ao seu ponto de vista no
fato de muitos homens alçados a elevadas funções de governo compartilharem dos
gostos de Sardanapalos. (EN,1095 b 22)”. Os indivíduos deixados aos ditames
da natureza dedicam suas vidas à satisfação dos prazeres, neste sentido são
escravos do elemento concupiscente, parte da parte irracional da alma.
O papel
da natureza é fornecer aos seres humanos ferramental necessário para que
produza a excelência, no entanto ela, por si mesma, não o ativa, ficando em
estado potencial: “... em relação a todas
as faculdades que nos vêm por natureza recebemos primeiro a potencialidade, e
somente mais tarde exibimos a atividade... (EN,1103 a 28)”. A ativação das
faculdades é condição necessária para transcender a condição de escravo dos
sentidos, e para isto é necessário a posse de dons naturais que são
responsáveis pelo desabrochar da excelência moral.
Qual é a origem destes dons?
![]() |
Freya é a Deusa regente da riqueza, do amor, da beleza, da fertilidade, da guerra, da morte, da música e das flores sendo também a líder das Valquírias e protetora do matrimônio e dos recém-nascidos. |
Aristóteles atribui-lhes origem divina e distribuição de acordo com a sorte: “Alguns estudiosos pensam que a natureza nos
fez bons, outros que nos tornamos bons pelo hábito, outros pela instrução. Os
dotes naturais evidentemente não dependem de nós, mas em decorrência de alguma
causa divina estão presentes nas pessoas verdadeiramente favorecidas pela
sorte. (1179 b 23)”.
Aristóteles estabelece três categorias de pessoas: aquelas
que se deixam levar ao sabor da natureza, aquelas que desabrocham os seus dons
naturais e se tornam excelentes profissionais e os filósofos que, de maneira
pouco esclarecida, transcendem aos limites impostos pela ação da natureza.
Assim sendo, até é possível alguém chegar a ser um bom juiz, seguindo suas
vocações naturais, mas jamais a um filósofo: “É por isto que se pensa que estas disposições são dotes naturais, e que
uma pessoa é um juiz compreensivo, ou tem bom entendimento, ou é inteligente
por natureza, ao passo que ninguém é filósofo por natureza. (EN,1143 b 9)”.
Que
circunstância é necessária para que alguém se torne filósofo? Isso não é
abordado em Ética Nicômaco, mas é forçoso deduzir que jamais se tornará
filósofo aquele que não desenvolve completa e equilibradamente todas as formas
de excelência moral ali analisadas.
No entanto, é indispensável que o filósofo tenha sido
aparelhado com fartos dons naturais ao nascer e, para alcançar o pleno
desenvolvimento das excelências morais, deve ter sido dotado de visão moral: “...cada pessoa deve ter nascido com uma
espécie de visão moral, graças à qual a pessoa forma um juízo correto e escolhe
o que é realmente bom, e será naturalmente bem dotado quem for bem dotado sob
este aspecto. De fato, esta visão moral é a dádiva maior e mais nobre da
natureza, e é algo que não podemos obter ou aprender de outras pessoas, mas devemos
ser tal como nos foi dado ao nascermos; ser bem e superiormente dotado sob este
aspecto constituirá a excelência perfeita e verdadeira em termos de dons naturais” (EN,1114 b 10).
Aristóteles
oferece três visões distintas sobre os dons naturais e a aprendizagem.
1ª A
humanidade por si só é semelhante aos escravos, apesar de cada indivíduo
possuir dons naturais, porque escolhe o caminho do usufruto das sensações e dos
prazeres carnais.
2ª Cada um tem os dons naturais que
ganha no nascimento, não sendo possível sua aquisição durante a vida. A
aprendizagem não permite o aparecimento de novos dons naturais.
3ª O filósofo é alguém que realizou
durante sua vida esforços (e aprendizados) que suplantaram o caminho natural da
escravidão e é necessariamente possuidor de muitos dons naturais e os usou
inteligentemente para suplantar a própria natureza e desenvolveu
equilibradamente todas as formas de excelência moral.
Supõe, Aristóteles, que
alguém pouco dotado de dons naturais, jamais chegará a ser filósofo, já que a
aquisição deles é impossível através da aprendizagem com outras pessoas.
Algumas
correntes do pensamento pedagógico postulam uma quarta visão em que o indivíduo
tem o poder de mudar ao longo da sua vida as suas deficiências de nascimento.
Segundo esses pressupostos, através de esforços próprios e da aprendizagem é
possível “produzir” inteligência não natural e adicionar dons, também não
naturais, ao cabedal pré-existente. Dá-se desta forma, maior ênfase à potencialidade
plástica do indivíduo, sem supervalorizar a bagagem de nascimento, numa
tentativa de rompimento do círculo vicioso em que os “bem nascidos” são os
únicos a ter acesso pleno aos sistemas educacionais, enquanto que aos menos dotados
resta a exclusão, ou o desempenho de atividades subalternas.
Infelizmente,
um olhar realista revela que a grande maioria dos sistemas de ensino dos países
reproduz as três primeiras visões. Seus cidadãos já nascem com o destino
traçado. Quando entram no maquinário escolar, estarão submetidos a um processo
seletivo em que o berço será o único crivo a lhes facultar o sucesso, ou a lhes
impor o fracasso.
Por Isaias Malta
Referência:
ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Brasília: Editora Universidade de Brasília,
1985.
Gladis via que voce comentava sobre sua evolção no piano, como anda o curso, parou? ainda continua? estou curioso, sucesso.
ResponderExcluirOlá,
ExcluirContinuo firme. Na última quinta (12/07/2012) eu consegui fazer exame do terceiro ano parcial e fui aprovada! Em agosto inicio o programa do terceiro ano final.
O terceiro ano é um avanço bem difícil, muitos desistem nesta fase em função dos estudos de Bertini. Para adultos trabalhadores, então, complica ainda mais.
Assim, estou em estado de graça por ter vencido, mais esta etapa, onde, por sinal, levei dois anos para vencer o conteúdo de um semestre, mas venci.
Até o final de julho ficarei como uma alpinista que parou para descansar e curte o quanto conseguiu escalar.
grata pelo interesse!
Olá fico feliz da sua caminhada, mas penso nesse inicio que nunca chega para mim, mas me sacia um curiosidade, com dois anos de piano, que tipo de musica se consegue tocar? nao me refiro a elaboradas peças mas essas musicas que agente ouve no radio já se consegue com facilidade tocar elas?
ExcluirFeliz mesmo com a teu sucesso e força de vontade, parabéns!
Olá,
ResponderExcluirO tempo no piano é relativo. Digamos que no ritmo normal no primeiro ano se faz a iniciação e no segundo o nível preparatório. Ao final de dois anos se ingressa no Primeiro Ano. Desde o preparátorio há belas peças adequadas a este nível, assim como há muitas versões facilitadas de peças mais conhecidas.
O compositor Mário Mascarenhas produziu várias peças fáceis e bonitas, que nos dão imenso prazer ao executar.
Não espere uma condição ideal para começar a estudar, crie esta condição, pois vale à pena.
abraços