02 abril, 2012

A geologia brasileira e o olhar instigador de Darwin.

por
Sedgwick  e o interesse de Darwin pela Geologia.

Através de seus diários, Darwin procurou explorar as evidências que apoiariam sua “controvertida” teoria da evolução das espécies. Nesse sentido, a Geologia é uma das ciências que contribui muito com evidências que apoiam as ideias evolucionistas. Assim, Darwin realizou descrições geológicas bastante detalhadas, incluindo a geologia brasileira.


Nesta parte do diário, Darwin buscou mais questionar do que explicar, provavelmente para instigar o pensamento evolucionista nos leitores.
Josiah Wedgwood

Sabe-se que Darwin já tinha aprontado seu manuscrito de 231 páginas sobre a origem das espécies desde 1844, mas queria morrer antes da sua publicação.

Todavia ele decidiu tornar públicas suas ideias, em 1848, quando recebeu carta de Alfred Wallace, que chegara às mesmas conclusões, informando que divulgaria a mesma hipótese sobre a “transmutação” das espécies (atualmente usamos o termo Evolução em vez de transmutação) (2).

Porém, mesmo antes de embarcar no Beagle, Darwin já estava com seu olhar influenciado pelas ideias de seus avós paterno e materno.

 Seu avô paterno, Erasmus Darwin, acreditava na transmutação das espécies,  e seu avô materno, Josiah Wedgwood, atribuía o surgimento das espécies e da mente humana a causas exclusivamente físicas (2).

Enquanto Darwin estudou Medicina em Edimburgo, conviveu com ideias evolucionistas apoiadas por evidências de que a Terra e os seres vivos tem se transformado ao longo do tempo e que os ambientes são bastante distintos entre si.

Além disso, em 1831, Adam Sedgwick, professor de geologia na Universidade de Cambridge e Presidente da Sociedade Geológica levou Charles Darwin para uma curta, mas altamente educativa e influente, prática de campo em  geologia no País de Gales (expedição Welch, organizada por John Stevens Henslow).

Darwin recebeu o convite para participar da expedição do Beagle, imediatamente depois disso. Assim Sedgwick definiu as bases para do olhar de Darwin para a geologia .

A importância e influência desta expedição geológica pode ser inferida na carta que Darwin escreveu do Rio de Janeiro, em 1832, a Henslow: "Diga ao Professor Sedgwick que ele não sabe o quanto eu sou grato a ele para a expedição Welch - ela me despertou um interesse pela geologia, impedindo que eu desista de tecer qualquer consideração. Eu não acho que eu já passado tempo mais delicioso do que as três semanas que estive percorrendo as montanhas NW" (6). 

Apesar da importância que teve na formação científica de Darwin, após a publicação do livro a origem das espécies, Sedgwick escreveu uma carta contundente de desaprovação a ele, mas isto é assunto para outra postagem.

Em seu diário, Darwin fez as seguintes observações e comentários sobre a geologia brasileira:

(Darvin -29.fev.1832)“Ao longo de toda a costa do Brasil numa extensão de 2000 milhas e, certamente, sobre uma considerável superfície do litoral, onde quer que se encontre uma rocha sólida esta é de formação granítica. 

Muitas reflexões curiosas ocorrem da circunstância desta vastíssima área ser constituída de materiais que a maioria dos Geólogos acredita ter-se cristalizado quando submetidos ao calor sobre pressão. 

Teria esse efeito sido produzido nas profundezas de um insondável oceano? Ou ter-se-ia dado o caso de um estrato primitivo que cobrisse a região e fosse subsequentemente removido? Pode-se conceber alguma força que, atuando durante quase um eternidade, tivesse conseguido desnudar o granito sobre tantos milhares de léguas quadradas?”

Os questionamentos acima buscavam desacomodar os leitores dos diários, para que vissem a condição mutável da natureza e percebessem a “avançada” idade da Terra, que se contrapunham as ideias criacionistas, da época, que propunham a criação de um mundo pronto e estabelecido, havia apenas alguns milhares de anos.

(Adão e Eva de William Blake)
Abaixo, Darwin faz a descrição da beleza das rochas reveladas pelo polimento realizado pelas águas. Isso faz lembrar o trabalho de Bez Batti, que tem descoberto inúmeras cores e criado formas no Basalto, uma rocha que atesta o fato do nordeste de Rio Grande do Sul ter sido o local da Terra com a mais intensa atividade vulcânica. Um quadro muito diferente do que vemos na atualidade.

Bez Batti 02

(Darvin- 29.fev.1832): “Num local não distante da cidade, onde um riacho deságua no mar, observei um fato que se relaciona com um assunto discutido por Humboldt (3). Nas cataratas dos grandes rios Orenoco, Nilo e Congo, as rochas sieníticas são cobertas de uma substância negra que lhes dá a aparência de um polimento com plombagina (4). 

A camada é extremamente fina e consistindo de óxido de manganês e ferro, segundo análise de Berzelius (5). No Orenoco esta ocorrência se verifica sobre os rochedos periodicamente lavados pelas inundações e somente nas localidades em que a correnteza é muito rápida. “As rochas são negras onde a água é branca”, no dizer dos índios. 

Nestes rochedos, porém, a camada ao invés de ser negra é de um pardo rico e parece consistir de matéria ferruginosa. Espécimes portáteis não dão a idéia do que são estas pedras de polimento pardo, que cintilam aos raios solares. Observam-se apenas nos limites das ondas da preamar, e, visto que este riacho serpenteia vagarosamente é na violência da maré que devemos procurar o agente de polimento, representado os grandes rios pela força das cataratas. 

De modo idêntico, a enchente e a vazante provavelmente substituem as inundações periódicas, produzindo assim os mesmos efeitos em circunstâncias análogas, se bem que aparentemente diversas. A origem destas camadas de óxido metálico, que parecem cimentadas sobre as rochas, não é, contudo compreendida e, não creio que se possa atribuir a nenhuma causa o fato da espessura permanecer constante.”


Notas e Referências:
1- Trechos do Diário de Darwin: Darwin, C., Viagem de um Naturalista ao Redor do Mundo - Vol.1, Nova edição, 1871. Abril Cultural. Companhia Brasil Editora, São Paulo, s/d.

2- ABRANTES, P.C.C. Darwin foi um materialista? Ciência Hoje. São Paulo : SBPC, v. 44, n.261, p. 50-55, 2009.

3- Humboldt: Friedrich Heinrich Alexander, Barão de Humboldt (Berlim, 14 de setembro de 1769 — Berlim, 6 de maio de 1859), mais conhecido como Alexander von Humboldt, foi um naturalista e explorador alemão [1]. e o irmão mais jovem do ministro e lingüista prussiano Wilhelm von Humboldt. Ele foi um naturalista de uma polivalência que, desde sua morte, nunca mais se observou. Desenvolveu e se especializou em diversas áreas: foi etnógrafo, antropólogo, físico, geógrafo, geólogo, mineralogista, botânico, vulcanólogo e humanista, tendo lançado as bases de ciências como a Geografia, Geologia, Climatologia e Oceanografia (Wikipedia).

4- Plombagina: Grafite em pó. Serve para tornar condutor qualquer objeto não condutor. Muito usado para depositar camadas metálicas em estatuetas, medalhas e outros objetos (Adalberto S).

5- Berzelius: Jöns Jacob Berzelius (1779-1848) químico sueco, se afirmou como um dos fundadores da moderna Química, formulando alguns dos seus conceitos fundamentais. Estudou medicina na Universidade de Uppsala e foi professor de medicina, farmácia e botânica no Instituto Karolinska de Estocolmo. Num período de dez anos estudou em torno de dois mil compostos químicos, descrevendo vários elementos até então desconhecidos como: cério, selênio, tório, tendo isolado pela primeira vez o silício, o zircônio e o titânio. Estruturou a atual notação química e a introduziu os conceitos de isomeria, halogênios, ação catalítica e radical orgânico, o que faz dele um dos fundadores da moderna Química (Wikipedia).


6- Texto original da carta de Darwin a Henslow: “Tell Prof: Sedgwick he does not know how much I am indebted to him for the Welch expedition.— it has given me an interest in geology, which I would not give up for any consideration.— I do not think I ever spent a more delightful three weeks, than in pounding the NW mountains”. Fonte: THROUGH THE SANDGLASS. In high spirits - Darwinon geology (3) publicado em 11/02/2009.

Fontes das ilustrações:
1-A escultura de Bez Batti foi fotografadas por Isaias Malta
2-Adão e Eva de William Blake disponibilizada por Divas e Contrabaixos
3- Erasmus Darwin disponibilizado por DLM
Partes anteriores: *1* *2* *3* ... *7* *8* *9**10*

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