Um amigo meu nunca se esqueceu de uma frase que ouviu de um professor de sociologia: “O opressor está na mente do oprimido!” Para alguns casos de parasitismo isto é um fato, pois alguns parasitas conseguem gerar substâncias neurotóxicas que transformam o comportamento dos hospedeiros, transformando alguns em zumbis!
Este é o caso de parasitas que ‘não se importam’ com a morte do hospedeiro. Em geral, os hospedeiros se caracterizam por terem uma alta taxa reprodutiva e assim não correm o risco de exterminar sua fonte de sobrevivência. Entre os parasitas zumbificantes destacam-se as vespas.
As vespas parasitas estão divididas em muitas espécies e os adultos se alimentam de néctar e pólen, mas para o desenvolvimento de suas larvas, elas dependem de outros organismos que forneçam um suporte proteico adequado.
A vespa e a barata.
A Ampulex compressa cujo nome popular é Vespa Joia, utiliza as baratas comuns (Periplaneta americana) como fonte de alimento e “berçário” de suas larvas.
Primeiro elas dão uma ferroada que paralisa as pernas dianteira da barata que é bem maior do que a vespa.
Após, com uma segunda e precisa ferroada elas injetam uma dose de dopamina diretamente no gânglio cerebral da barata que se torna extremamente calma e permanece assim enquanto é devorada pela larva.
A vespa e a lagarta.
No vídeo da National Geografic abaixo vemos microvespas que endoparasitam uma larva (lagarta) de Lepidoptera já nos últimos estágios de desenvolvimento.
As vespas pertencem a subfamília Braconidae (Hymenoptera: Ichneumonoidea), que são os principais parasitas de insetos holometábolos como os lepidópteros.
Através de microcâmeras é filmado o celoma da lagarta e podemos ver que as larvas da vespa nadam diretamente na hemolinfa de onde “abocanham” ou “bebem” diretamente os líquidos circundantes, enquanto a lagarta continua se alimentando “tranquilamente”.
Também são filmadas as larvas saindo de dentro da lagarta para formarem suas pupas. A saída das larvas não mata a lagarta, mas as substâncias produzidas fazem com que ela mude seu comportamento e se dedique a proteger as pupas do ataque de outras vespas que parasitam vespas. Ela para de se alimentar e passa a se dedicar “de corpo e alma” aos seus parasitas, como se fossem seus próprios “filhos”.
Ao final, a lagarta morre (provavelmente “feliz”).
Como as larvas da conseguem viver no interior do corpo da lagarta sem serem atacadas pelas células de defesa do hospedeiro?
As espécies endoparasitas, frequentemente, exibem elaboradas adaptações fisiológicas para aumentar a sobrevivência das larvas no interior do hospedeiro.
Uma delas é a presença de vírus endossimbióticos que comprometem as defesas imunológicas do hospedeiro. Assim, os vírus suprimem o sistema imunológico e permitem que o parasita cresça dentro do hospedeiro sem ser detectado.
Um estudo publicado em 2009 sugere que esta simbiose entre vírus e vespas tenha ocorrido há milhões e atualmente o DNA do vírus esteja incorporado ao DNA das vespas.
Como as vespas encontram as larvas?
Algumas dessas vespas encontram seus hospedeiros de uma forma bastante sofisticada. Certos tipos de plantas têm compostos que interagem com a saliva de lagartas.
Quando a saliva da lagarta e os sucos da planta se misturam, uma fragrância é exalada, atraindo a vespa parasita específica. De certa forma, esta é uma forma de mutualismo entre a planta e a vespa.
Bônus: Vespas e pulgões.
O vídeo abaixo mostra uma microvespa parasitando pulgões. Neste caso, apenas um ovo é colocado em cada pulgão.
As larvas transformam o próprio corpo do pulgão em casulo do qual eclode o adulto.
O fungo e a formiga zumbi.
Outro exemplo de parasita que manipula o comportamento do hospedeiro é o fungo Ophiocordyceps unilateralis que transforma formigas em zumbis.
O vídeo da BBC abaixo mostra que a formiga infectada altera de tal forma seu comportamento que acaba sendo expulsa e carregada para longe do formigueiro.
“Sem lar” ela vaga e procura um ambiente úmido e alto, ideal para o desenvolvimento e a dispersão do fungo. Ao chegar num bom local, a formiga se imobiliza prendendo suas quelíceras nos vasos de condução de ramos ou folhas.
Nesta posição ela morre, enquanto o fungo produz seu corpo frutífero que lançará os esporos capazes de infetar e ‘zumbificar’ outras formigas.
Ao final do vídeo são apresentadas outras imagens de fungos parasitas e suas vítimas específicas.
Nota:
Insetos holometábolos são aqueles que apresentam metamorphose total, ou seja dos ovos saem larvas que crescem e fazem mudas até atingirem o tamanho máximo para a espécie, após o que elas formam pupas das quais emergem os adultos, cuja aparência é totalmente diferente da larva.
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Metamorfose holoblástica do bicho da seda. |
Referências e links:
1- Drezen, Jean-Michel; Lanzrein, Beatrice; Volkoff, Anne-Nathalie; Huguet, Elisabeth; Dupuy, Catherine; Periquet, Georges; Pfister-Wilhem, Rita; Belghazi, Maya; Heller, Manfred; Roditi, Isabel; Wincker, Patrick; Bernard-Samain, Sylvie; Gyapay, Gabor; Wetterwald, Christoph; Herbinière, Juline; Annaheim, Marc; Bézier, Annie (February 13, 2009). "Polydnaviruses of Braconid Wasps Derive from an Ancestral Nudivirus". Science (Science Magazine) 323 (5916): 926–930. doi:10.1126/science.1166788. PMID 19213916. Retrieved 2009-02-13.
2- Johansen, Kacie Jo, "CREATING AN INTERACTIVE AND DICHOTOMOUS KEY TO THE WORLD SUBFAMILIES OF BRACONIDAE" (2010). Masters Theses. Paper 79.
3- NEUROPHILOSOPHY. Brainwashed by a parasite, 20 de novembro, 2006.
4- Rosenberg, L. A., Glusman, J. G. and Libersat, F. (2007). Octopamine partially restores walking in hypokinetic cockroaches stung by the parasitoid wasp Ampulex compressa. J. Exp. Biol. 210,4411 -4417.
5- WIKIPEDIA, Braconidae.
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