21 fevereiro, 2012

Por que Darwin não se encantou com Fernando de Noronha?!

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Imagens lindas de Fernando de Noronha
Se no arquipélago de São Pedro e São Paulo, sem água doce ou uma única sombra sequer Darwin se demorou em "terra firme" o quanto pode, o contrário se passou em Fernando de Noronha, onde permaneceu poucas horas.

Sobre Fernando de Noronha Darwin escreveu o menor parágrafo de seu diário! Incrível não?

Para quem lê o Diário de Darwin, causa estranheza seu quase total desinteresse, já que, para os rochedos de São Paulo, um ambiente muito menos rico, ele não poupou palavras. Também, pode-se questionar: Por que será que o Beagle permaneceu tanto tempo junto aos rochedos, um lugar aonde os tripulantes do navio não se interessavam em desembarcar, como salientou o próprio Darwin, “[...]Sir W. Symonds, uma das poucas pessoas que desembarcaram aqui[...]”?

Por quais motivos, em Fernando de Noronha, “um cenário único formado por ilhotas rochosas, onde estão algumas das praias mais bonitas do Brasil e cuja beleza natural é tão incrível, que a palavra mais usada pelos visitantes para defini-la é: paraíso (Tucan Tour)” o Beagle ficou apenas poucas horas?

A explicação é simples: dos lugares visitados há 180 anos atrás, Noronha é uma exceção e se tornou bem melhor atualmente!

Darwin escreveu, simplesmente:

20 de fevereiro de 1831 - “Tanto quanto me foi possível observar durante as poucas horas que permanecemos neste lugar, a ilha é de constituição vulcânica, não, porém de data recente. O que há de mais notável em seu caráter é uma colina de forma cônica, elevando-se a cerca de trezentos e dez metros de altura, e tendo o cume excessivamente escarpado, um lado do qual se projeta fora da base. A rocha é monolítica e divide-se em colunas irregulares. Ao olhar uma destas massas isoladas, tem-se a princípio a impressão de que ela teria sido propelida bruscamente para cima num estado semifluido.

Em contrapartida, Américo Vespúcio, que chegou ao arquipélago no dia 10 de agosto de 1503, o havia descrito como: "infinitas águas e infinitas árvores; aves muito mansas, que vinham comer às mãos; um boníssimo porto que foi bom para toda a tripulação"(Gastronomia Brasil).

Para tentarmos responder a estas questões, vamos retroceder no tempo a 1832, ano em que o Beagle passou por lá. Como seria este “arquipélago cinco estrelas” nesse ano? Segundo sabemos de sua história “esse conjunto de 21 ilhas e ilhotas foi, por 201 anos, um presídio infernal” (folha UOL).

Um pouco de história:(Retomada da ilha em 1629 - Óleo de Wash Rodrigues )

Após a passagem de Vespúcio (1503) a ilha foi ocupada por holandeses de 1629 a 1654 Após a expulsão dos holandeses o arquipélago foi tomado por franceses de 1736 a 1737, quando foram expulsos.


A partir da expulsão dos franceses, Portugal iniciou sua colonização e a igreja de N.S. dos Remédios, marco da nova povoação, foi concluída em 1772 (Fernando de Noronha on line).


Os primeiros presos começaram a ser enviados para a ilha de forma ocasional
, mas essa destinação gerou medidas preventivas que vieram a alterar, profundamente, o meio ambiente insular. Houve a destruição de grande parte da cobertura vegetal para evitar fugas e esconderijos de presos. Além disso, houve a introdução de espécies estranhas ao local, causando modificações ambientais com consequências visíveis até os nossos dias (Fernando de Noronha on line).

A Vila de Nossa Senhora dos Remédios e a Vila da Quixaba contribuíram para a degradação do meio ambiente, pois foram construídas casas, igrejas e outras edificações. Neste processo, os presos eram utilizados como mão-de-obra para revestir de pedras todos os caminhos da ilha por onde passariam as autoridades (Gastronomia Brasil).

Ruinas da Vila Quixaba (por Paulo Hildebrand)


A imagem do arquipélago vista do dirigível Zepelin que o sobrevoou em 1933 evidencia seu aspecto degradado.


Somente em 1942, em plena segunda guerra mundial, Fernando de Noronha reinicia seu período de paz, porque se transformou em Território Federal, sendo os presos políticos e comuns transferidos para o presídio da ilha grande. Hoje Fernando de Noronha vive da exploração racional do turismo, dentro das limitações impostas pelo seu delicado ecossistema e da atividade pesqueira, que é do tipo artesanal e voltada para o consumo interno (Fernando de Noronha on line).

Se por uma lado a história de Fernando de Noronha explica o desinteresse de Darwin por um território degradado e habitado por prisioneiros. Por outro, ela aponta para a esperança, pois é um registro vivo de que através de políticas adequadas e ações concretas o ser humano é capaz de recuperar o paraíso!


Nota informativa: A Ilha tb serviu de base durante a II Guerra para as missões antisubmarino dos americanos e, nos anos, 50, como estação de rastreamento dos foguetes lançados do Cabo Canaveral (Kennedy) em direção ao Atlântico Sul (informação dada por Paulo J. Pinto, Coronel da Aeronáutica – aposentado)

Referência:
Darwin, C. Viagem de um Naturalista ao Redor do Mundo - Vol.1, Nova edição, 1871. Abril Cultural. Companhia Brasil Editora, São Paulo, s/d.

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