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Escultura de Masataka Koike (Artistas Recicladores)
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(Darwin): “Em várias ocasiões, observei com interesse os hábitos de um Octopus ou polvo. Embora comuns nas poças deixadas pelas vazantes, estes animais não se deixavam apanhar com facilidade. Com o auxílio de seus longos tentáculos e de suas ventosas , conseguiam esgueirar-se pelas fendas mais estreitas, de onde, uma vez ali firmados, para retirá-los era necessária uma força imensa. Às vezes, porém, céleres como uma flecha, lançavam-se para outra extremidade da possa, soltando, ao mesmo tempo, uma tinta castanho-escuro que turvava toda a água.”
Os Polvos adoram tocas e conseguem escapar por pequenos orifícios, pois não possuem esqueleto, por isso foram classificados no Filo dos Moluscos na classe dos cefalópodes.
Segundo um colega especializado em zoologia, atualmente se cogita a criação de um filo próprio para os Cefalópodes, pois apresentam muitas características distintas em relação aos demais moluscos, todavia ainda não encontrei material a respeito disponível ao público leigo.
Sua flexibilidade pela ausência de esqueleto e concha é destacada no vídeo abaixo, que mostra um polvo dentro de um pequeno frasco de vidro com o sifão bem visível e outro se escondendo numa toca a partir de uma estreita abertura.
(Darwin): ”Estes animais conseguem ainda passar despercebidos, pela extraordinária propriedade de mudar de cor, como sucede com os camaleões. Assim é que variam a cor de acordo com a natureza do ambiente em que se acham, assumindo uma tonalidade pardo-purúrea quando em água funda e passando a verde-amarelado quando em terra ou água rasa. Examinando-se mais atentamente, via-se que a cor era um cinzento salpicado de minúsculos pontos amarelos brilhantes que apareciam e desapareciam alternadamente sobre o fundo cinzento cuja intensidade era igualmente instável. Essas mudanças de cor operavam de tal forma que sobre o corpo do animal continuamente passavam nuvens que iam do vermelho-jacintino ao castanho-escuro.”

Imagem depPolvo mimetizando fundo por Oceanus Atlanticus
Os polvos podem ser considerados os reis do disfarce. O vídeo abaixo nos permite “compartilhar” com Darwin a fascinante visão da sua incrível capacidade de mudar de cor à medida que se locomovem.
Como destaca Cássio Leite Vieira em artigo da Revista Ciência Hoje de maio de 2005, em locais em que há abundância de coqueiros ocorre uma espécie de polvo que imita os cocos, enquanto outras espécies “se disfarçam” de tufo de algas. Tais espécies tem a estrutura do corpo alterada e sua locomoção é modificada.
Estes seriam bons exemplos que Darwin poderia ter usado para defender sua hipótese de seleção natural favorável a variantes surgidas nas populações, pois, embora não se locomovam com agilidade, em função das alterações físicas, em tais lugares estas formas conseguiram sobreviver camuflando-se para evitar a predação. Provavelmente ele teria feito isso se tivesse conhecido estes estranhos polvos. No artigo citado acima há maiores detalhes sobre estas duas espécies e no vídeo a seguir veja o polvo que imita a forma dos frutos do coqueiro.
Como fazem os polvos para mudar de cor?
(Darwin): “Qualquer parte do corpo a que se aplicasse um pequeno choque galvânico tornava-se quase negra, o mesmo acontecendo, porém em menor grau, com qualquer parte da pele que se riscasse com um estilete. Estas nuvens coloridas, segundo se acredita, são produzidas pela expansão e contração alternadas, de minúsculas vesículas contendo fluidos diversamente corados. Este polvo deu mostra de suas propriedades de camaleão, tanto quando se movia na água como quando estacionava no fundo.”
Quando Darwin realizou sua viagem ainda não havia sido postulada a Teoria Celular, por isso ele utilizou o termo vesículas. Atualmente é sabido que a mudança de cor, em função do ambiente, só é possível porque os animais capazes disso abrigam, sob a epiderme, células especializadas contendo pigmentos de cores diferentes. Se o ambiente é verde, dilatam-se as células contendo pigmento esverdeado, enquanto as outras se contraem. Os polvos estão entre os animais mais estudados neste quesito. É preciso ressaltar que, embora sem ter utilizado o conceito de célula e não dispondo de modernos microscópios, a descrição de Darwin foi muito aproximada da atual.
A surpreendente inteligência dos polvos
(Darwin): “Muito me divertiram os vários esforços que um deles empregou para fugir as minhas vistas, quando percebeu que eu o estava espiando. Depois de permanecer imóvel durante certo tempo, andou cautelosamente um passo ou dois como um gato atrás de um rato, ora mudando de cor, até que tendo alcançado uma parte mais funda, zarpou veloz, deixando atrás de si um rasto de tinta preta que escondia a entrada do buraco em que se metera.”
A expressão “passo a passo” usada por Darwin é um eufemismo, mas destaca a esperteza desses animais. Em experimentos de laboratório, os polvos aprendem a se deslocar por labirintos e até mesmo retirar a tampa de potes de vidro para pegar alimentos, tudo isso graças à sua inteligência e aos tentáculos que têm grande mobilidade. O vídeo abaixo mostra várias destas ações.
(Darwin): “Quando andava à procura de animais marinhos, com minha cabeça a meio metro acima das pedras da praia, fui mais de uma vez saudado por jato de água seguido de um ruído surdo de esfregamento que se fazia ouvir. A princípio não sabia a que atribuí-lo; mais tarde, porém, verifiquei que eram os polvos e, deste modo, não obstante estarem escondidos em buracos, consegui inúmeras vezes descobri-los. Que eles gozam da propriedade de produzir jatos de água é fora de dúvida, e pareceu-me que dirigindo o tubo ou sifão pela parte inferior do corpo, poderiam fazer ótima pontaria. Por causa da dificuldade que têm em sustentar a cabeça, não podem locomover-se desembaraçadamente, quando colocados no chão. Observei que um polvo que eu guardava em minha cabina era, no escuro, ligeiramente fosforescente.”
O sifão tem como principal função produzir uma corrente de água sobre as brânquias para melhorar as trocas gasosas, mas também auxilia a fuga dos polvos impulsionando a natação. A fosforescência pode se produzida pela ação de bactérias simbiontes ou por células especializadas do próprio molusco, isso varia nas diferentes espécies.
Porém, em relação ao comportamento fugidio observado por Darwin, cumpre destacar que nem todo polvo é fujão, pois alguns enfrentam até mesmo tubarões - o “Terror” dos mares. Veja o vídeo abaixo e revise seus conceitos.
Para concluir, o próximo vídeo mostra incíveis imagens de polvos “nascendo” e aprendendo a abrir um pote, as quais certamente encantariam ainda mais nosso jovem naturalista.
Referência e Notas:
[1] – Texto usado para as citações: Darwin, C., Viagem de um Naturalista ao Redor do Mundo - Vol.1, Nova edição, 1871. Abril Cultural. Companhia Brasil Editora, São Paulo, s/d.
[2] – A Teoria Celular : Em 1838 o botânico alemão Mathias Schleiden fez a seguinte generalização: "As plantas inferiores são constituídas por uma única célula, enquanto as superiores são constituídas por várias células." Em 1839 o fisiologista Theodor Schwann, baseado no estudo de vários zoólogos, estendeu a mesma generalização para os animais, concluindo que eles eram formados por células. A partir destas generalizações estabeleceu-se a TEORIA CELULAR. (fonte: AMABIS, J.M. ; MARTHO, G.R. Curso Básico de Biologia, vol.1, São Paulo : Ed. Moderna, 1985)
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