05 dezembro, 2010

O verde urbano e a educação ambiental!

por
flora Köln caminho
Flora em Köln - Alemanha 2008.

 No dia 27/11/2010 participei como debatedora da Jornada Pedagógica “Educação Ambiental e o Manejo do Verde Urbano” que integrou a programação do XIV Congresso Brasileiro de Arborização Urbana.
A discussão temática se alicerçou sobre alguns pressupostos, dos quais se pode destacar:

1- Os seres humanos são humanizáveis, ou melhor, devem ser humanizados, como enfatizou Norbert Elias nos seus livros “O Processo Civilizador 1 e 2” e “A sociedade dos indivíduos”.

2- Não se cuida do que não se conhece.

3- Copiar o que é bom dá muito certo!

Assim sendo, este tipo de jornada promove a troca de experiências ao divulgar ações realizadas em diferentes municípios. A educação ambiental visa promover a transformação dos indivíduos, construindo conhecimentos que levem ao respeito pelo ambiente e ao desenvolvimento de uma cidadania consciente, que leve a escolhas acertadas hoje para garantir o amanhã.

Os palestrantes eram, em sua maioria, representantes das Secretarias Municipais de Meio Ambiente (SMAM), as quais foram ‘impostas’ aos municípios a partir da Constituição de 1988 que define o Meio Ambiente como “Bem Comum” dando direitos à comunidade e atribuindo deveres e responsabilidades de preservação aos proprietários de terras.
Estratégias de sobrevivência
Estratégia de sobrevivência.
Por isso, a educação ambiental como um processo civilizador é fundamental, pois os proprietários deixaram de ter plenos direitos de fazerem o que lhes der na telha nas suas propriedades. Eles precisam cumprir as leis municipais, estaduais e federais, por exemplo, quem tiver uma araucária no quintal da casa não poderá cortá-la sem uma autorização da respectiva SMAM, sob pena de ser multado, processado ou até mesmo cumprir prisão. A fim de evitar as penas maiores e de preservar o ambiente, as SMAMs têm setores de educação ambiental que visam educar os cidadãos, evitando que cometam crimes ambientais.

Um grave problema das cidades é que antes desta legislação, houve um crescimento desordenado e a ocupação urbana se deu sem um planejamento adequado. Assim, os novos empreendimentos imobiliários devem atender leis e critérios novos, ao mesmo tempo em que convivem com exemplos concretos de total falta do cumprimento dessas mesmas leis, pois as construções e padrões de ocupação urbana do passado ainda ferem o hoje.

Deve ser instituída uma nova ética urbana e isso não está acontecendo de forma ‘romântica’ ou lírica, por isso, algumas das atividades da educação ambiental precisam ser executadas em parceria com a polícia ambiental, pois muitos se revoltam contra a mudança de paradigma e querem continuar agindo como os seus antepassados sempre fizeram. Mas o mundo mudou e o crescimento populacional trouxe consigo outras necessidades que restringem as liberdades individuais em prol do bem comum.

Nessa batalha, os educadores ambientais contam com alguns inimigos na trincheira, pois as SMAMs são confrontadas com outras Secretarias que nem sempre compartilham os mesmos pressupostos.
Por outro lado, algumas pessoas de boa vontade investem em empreendimentos turísticos que exploram as belezas naturais e contribuem com a educação ambiental. Infelizmente, tais empreendimentos ainda não recebem os devidos incentivos, pois a efetivação das leis ambientais está mais centrada na punição do que no estímulo aos que contribuem com a mudança.

Na minha fala, sugeri que uma das ações municipais em prol do verde urbano e da educação ambiental deveria ser a preservação de mata nativa nas áreas urbanas, pois estas áreas, além de garantir a biodiversidade, podem criar espaços educativos diferenciados. Ilustrei a explanação relatando uma atividade de três alunas do Curso de Biologia - Camila Miguel, Sabrina Tolotti e Vânia Trevelin, que realizaram o Estágio IV com o grupo de escoteiros Ciretama de Bento Gonçalves. Elas trabalharam a temática de educação ambiental com o grupo de Lobinhos.

Uma das atividades desenvolvidas pelas estagiárias foi uma saída a campo no Ecoparque Sperry no Vale do Quilombo em Gramado (RS), que possuiu uma trilha ecológica fantástica. Como participei desta atividade, pude constatar a importância deste tipo de local que permite o contato humano com um ambiente preservado e possibilita aos universitários a realização de práticas educativas diferenciadas. Para isso são necessárias algumas condições:

Xiloteca do CIA - Imagem do site oficial do Ecoparque Sperry.
1- Neste tipo de parque deve haver um ambiente construído com infraestrutura de banheiros, local para alimentação e estacionamento de veículos. No caso do Ecoparque Sperry há também um Centro de Interpretação Ambiental, que foi criado para facilitar o conhecimento e a apreciação da natureza. Nele, encontram-se: xiloteca (coleção de madeiras), painéis e dioramas associados com materiais coletados localmente que abordam didaticamente a fauna, flora, geologia, cultura regional, etc. A interpretação destes elementos contribui tanto para acrescentar valor à experiência dos visitantes, quanto para despertar-lhes uma consciência ambientalista.
O centro de identificação ambiental do Ecoparque Sperry
Explicações prévias são dadas pelo biólogo Vitor Hugo Travi antes do início da trilha.
2- As trilhas devem oferecer segurança aos visitantes. As trilhas não podem ser inclinadas ou muito acidentadas e devem possuir um pavimento que evite a formação de lama. Além disso devem ter lagura suficiente para um passeio confortável.
A trilha na mata
Mesmo após uma noite chuvosa a trilha não apresenta lama.

A travessia de riachos deve ser realizada em pontes para evitar acidentes e quedas.
Pequena ponte sobre riacho
A pequena ponte permite a apreciação do riacho sem riscos aos visitantes.

3- A manutenção das trilhas deve ser constante tanto para a conservação das trilhas quanto para a retirado do lixo. Abaixo vemos uma das lixeiras em forma de cesto de vime que permite aos visitantes descartar possíveis embalagens sem sujar o ambiente. O formato da lixeira remete a uma das atividades típicas dos imigrantes europeus que colonizaram a região.
Lixeira em forma de cesto de vime
A graciosa lixeira em forma de cesto de vime.
4- É importante que o traçado da trilha permita a visualização ou o acesso lugares que promovam o encantamento.
A cascata do trombão
A cascata do Trombão fotografada de um seguro mirante.

Cachoeira da Usina no Ecoparque Sperry
Descanso na cascata da Usina.

5- Os educadores ambientais devem estudar o local e fornecer explicações relevantes ao longo do caminho.
O grupo acompanha as explicações da estagiária
A estagiária vai dando informações relevantes ao longo da trilha.

Os resultados deste tipo de atividade são bastante gratificantes. Entre eles se pode destacar a atenção dos alunos, pois as explicações enriquecidas pela observação direta de exemplares são muito mais interessantes.

Aprender pode ser muito interessante
Total atenção às explicações.
Além disso, pode-se ver que o tronco de uma árvore abriga diversas outras espécies. Abaixo a atenção foi capturada pelas estruturas reprodutivas de liquens.

Cada árvore é um microssistema
Como são interessantes os apotécios deste líquen!
O tronco nu de uma mirtácea também pode inspirar o olhar inquietador do fotógrafo, mostrando que há mais coisas entre o céu e a terra do que costumamos prestar a atenção.

O tornco nu da mirtácia


No ambiente natural até a decomposição pode manifestar-se de forma bela como ocorreu neste brotamento de cogumelos do fungo que está decompondo o galho caído.

observando fungos
Os espetaculares fungos e seu papel ecológico.
Por enquanto, as iniciativas de exploração ecológica do ambiente natural estão muito mais na esfera privada do que na pública. É desejável que as mesmas sejam melhor assistidas pelas políticas públicas e que também áreas de preservação sejam mais contempladas nos ambientes urbanos para que o crescimento das cidades não represente apenas uma chaga ambiental.

Leia também: O papel dos parques urbanos na educação ambiental.
Para conhecer mais o Ecoparque Sperry visite sua página aqui.

2 comentários:

  1. Anônimo29/3/11

    Ola Bom Dia !!!

    Gostei muito da sua reflexão, eu dou aulas de Planeamento Físico na faculdade de Arquitectura de Maputo, Moçambique.
    Também tenho dois filhos de 14 e 11 anos, a minha luta diária e não deitarem os papeis de rebuçados, chocolates, etc em cada canto ...e mais...reparei que nas nossas zonas peri-urbanas o chão esta limpinho, varrido todas as manhas, mas na zona de cimento temos o lixo a abarrotar, com os indivíduos que são curiosos e abrem constantemente os sacos de lixo para procurarem coisas...então nas áreas publicas temos o lixo exposto a frente dos banquinhos pois eles sentam-se a seleccionar o lixo.
    Não temos latas do lixo em canto algum porque roubam, desaparecem,a população na sua maioria não tem o que comer...e uma situação ciclica, não trabalham então sujam os passeios a procura de comida e outros...

    Enfim, vai ser muito difícil, mas eu continuo a pensar que e nas crianças que devemos investir...quem me dará ouvidos????
    Muito Obrigada !!!

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  2. Ola,

    Este comentário foi muito interessante para conhecermos um pouco mais da realidade de Moçambique!

    De fato, a fome e a miséria dificultam a questão ambiental, mas a solução de ambas passa pela solução dos problemas ambientais. Uma cidade mais bem cuidada atrai mais turistas e com isso chegam mais recursos para a população.

    Quando se vive um círculo vicioso de fome e degradação ambiental fica difícil decidir em que ponto ele deveria ser quebrado.

    Espero que lhe dem ouvidos, porque o que tens a dizer vale á pena.

    Fico grata pelo seu comentário que enriqueceu o artigo.

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