01 novembro, 2010

O cérebro humano tem menos células do que se imaginava!

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Neurocientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) coordenados por Suzana Herculano-Houzel e Roberto Lent desenvolveram um método inovador que mudou alguns números “clássicos” sobre a quantidade de neurônios e das células da glia no cérebro humano.

Tudo começou com os questionamentos: haverá mesmo 100 bilhões de neurônios no cérebro humano? Que evidências científicas haveria para isso?

A intenção inicial dos pesquisadores era testar a exatidão do número de neurônios estimado para o cérebro humano em todos os livros de neurociência. Esse número foi sempre considerado “tão verdadeiro”, que o próprio Roberto Lent se sentiu seguro em dar esse título a um livro que havia publicado há oito anos e a uma coluna que assina na Ciência Hoje On-line.

Todavia, na literatura especializada não havia evidências científicas sólidas para esse número.
Além disso, havia uma segunda questão sobre as células da glia ou neuroglia. A neuroglia compreende diferentes tipos de células encaixadas entre os neurônios, com função de apoio. Seus diversos tipos celulares possuem diferenças morfológicas, embriológicas e funcionais.

Os mesmos livros que alegavam haver 100 bilhões de neurônios sugeriam que haveria 10 células da glia para cada neurônio. E, também neste caso, não havia nenhuma evidência científica.

O problema é que a contagem de neurônios não é fácil, já que a arquitetura do tecido nervoso é complexa e varia muito nas diferentes áreas cerebrais. Por isso os métodos clássicos de contagem a partir de cortes histológicos são muito trabalhosos e menos precisos.


O que os neurocientistas da UFRJ fizeram foi desenvolver um novo método de contagem!


Eles inventaram um método de contagem absoluta de células do cérebro de qualquer animal, com alto grau de confiabilidade. Testaram o método em ratos, depois em diferentes espécies de roedores e em diferentes espécies de primatas.

Em que consiste este novo método?


Os pesquisadores não fazem cortes histológicos, mas conseguem analisar fragmentos inteiros usando uma técnica para a contagem de núcleos celulares. Eles socam os fragmentos em uma espécie de ‘pilão’ de vidro, rompendo as membranas celulares sem romper as membranas nucleares (cariotecas) que são mais resistentes.

Este processo gera uma pasta contendo os núcleos intactos. Tal pasta é lavada e misturada a um líquido de volume conhecido, sendo misturada até atingir um grau apreciável de homogeneidade. Algumas gotas desta mistura são transferidas para uma lâmina de vidro com quadrículas, para ser examinada ao microscópio (é o mesmo tipo de lâmina usada para contagem de células de sangue).

Núcleos corados.
Após contados todos os núcleos da amostra e sabendo-se o volume da mesma e o volume total inicial, o número total de células é calculado usando uma regra de três.

Para serem contados, os núcleos são corados com uma substância fluorescente que marca o DNA de todas as células. Além disso é adicionado um segundo corante que marca apenas os núcleos dos neurônios, assim, do total de células é possível identificar quais são neurônios e quais são células gliais (na imagem ao lado todos os núcleos são marcados com o corante azul, na figura de baixo, na mesma lâmina, estão marcados apenas os núcleos dos neurônicos pelo corante vermelho).

Usando este mesmo tipo de procedimento, Frederico A. C. Azevedo em sua pesquisa de Mestrado contou o número de neurônios e células gliais de cérebros humanos. Para isso analisou fragmentos de cérebros masculinos fornecidos pelo Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), pertencentes a homens de 50-70 anos de idade, falecidos de causas não-neurológicas e sem comprometimento mental de qualquer tipo.

Ele levou um ano para padronizar a técnica para o material humano e, no ano seguinte, conseguiu determinar o número médio de neurônios: 86 bilhões, abaixo do “número mágico” aceito até o momento. E mais: não era verdade que o número de células não neuronais seria 10 vezes maior do que o de neurônios. Encontrou-se, em vez disso, uma proporção de 1 para 1. Outro mito desfeito.

Em resumo, as pesquisas realizadas por neurocientistas brasileiros revelaram duas informações cruciais: 

1- O número de neurônios no cérebro é menor do que se calculava: são apenas 86 bilhões e não 100 bilhões, como se acreditava.

2- O número de células gliais é MUITO menor do que se calculava: são apenas 86 bilhões e não 1 trilhão, como se acreditava.

Será mesmo? Sempre é bom ficar com um pé atrás já que estas novas descobertas foram possíveis quando pesquisadores questionaram algumas “verdades” científicas amplamente difundidas.

A ciência é um produto humano que muda ao longo do tempo. Para que ocorram progressos científicos é necessário sempre manter acesas algumas dúvidas, pois tanto quanto saber as respostas é importante nunca deixar de fazer as perguntas.

 (para saber mais detalhes da pesquisa e descobertas realizadas consulte as referências).

Referências:
LENT, Roberto. Afinal, quantas células tem o cérebro humano? Ciência Hoje On-line. Publicado em 27/02/2009 | Atualizado em 15/12/2009. Disponível em : http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/bilhoes-de-neuronios/afinal-quantas-celulas-tem-o-cerebro-humano
 
LENT, R. ; AZEVEDO, F.A.C. ; NEVES, W.A. Quantos neurônios tem o cérebro? Ciência Hoje, n 274, vol. 46 p36-43, SBPC, setembro 2010.

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