O cérebro humano deveria melhor ser chamado no plural “cérebros humanos”, pois seus dois hemisférios são bastante diferentes. Isso não é uma particularidade exclusivamente humana, pois os organismos com um sistema nervoso bilateral simétrico devem integrar as funções entre os dois lados de modo a coordenadar o corpo como um todo integrado.
No cérebro humano, a conexão entre os dois hemisférios possibilita a integração de grande número de "módulos" cognitivos que são diferencialmente lateralizados. Descobriu-se que o cérebro era ‘dividido’ em pacientes, que tiveram a maioria das conexões entre os dois hemisférios cerebrais cortada a fim de tratar algumas formas de epilepsia refratária. Estes pacientes, inicialmente estudados por Roger Sperry e colegas, ficaram, em essência, com dois cérebros dentro de um mesmo crânio, duas mentes, em parte, independentes.
A integração entre os dois lados do sistema nervoso é mediada por fibras nervosas que se projetam de um lado para o outro, através de uma estrutura chamada “corpo caloso”. As fibras nervosas são constituídas por diferentes células do tecido nervoso: os nerônios e as células gliais. Neste caso, os neurônios são os responsáveis pela transmissão do impulso nervoso e as células gliais fornecem uma estrutura funcional na constituição destas fibras.
Os neurônios são as células que executam as funções básicas do sistema nervoso e relacionam-se uns com os outros por conexões denominadas sinapses. Além dos neurônios há a neuroglia, constituída pelas células da glia (do grego "cola"), as quais são células do sistema nervoso central que proporcionam suporte e nutrição aos neurônios.
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conexões nervosas |
Através das sinapses, o impulso passa do axônio de uma célula para os dendritos de outra, usando mediadores químicos denominados de neurotransmissores (veja detalhes no texto “Os neurônios e o impulso nervoso”).
Em diferentes regiões cerebrais podem ser usados diferentes neurotransmissores. Além disso, um mesmo neurônio pode ter receptores para diferentes neurotransmissores. Dependendo da quantidade dos receptores sinápticos ele será mais sensível a um tipo de estímulo do que a outro.
Em outras palavras, o mesmo neurônio pode se ligar a diferentes neurônios e em cada sinapse apresentar receptores sensíveis a um tipo de neurotransmissor.
Ou seja, suas sinapses são diferentes, desse modo ele pode receber sinais que o estimulam (ativam) e sinais que o bloqueiam (desativam). Assim, é possível modular o funcionamento cerebral, ativando ou bloqueando o mesmo neurônio em circunstâncias diferentes.
Porém nenhum cérebro funciona apenas com neurônios. Por décadas, neurocientistas acreditaram que os neurônios eram os únicos responsáveis por toda a comunicação no cérebro e sistema nervoso e que as células gliais, apenas os alimentavam. Todavia, novas técnicas de pesquisa mostram que as células gliais são capazes de modificar os sinais entre os neurônios e podem até mesmo influenciar o local da formação das sinapses. Devido a essa proeza, as células gliais podem ser essenciais para o aprendizado e para a construção de lembranças, além de importantes na recuperação de lesões neurológicas (Wikipedia). Por muito tempo se acreditou que o número de células gliais fosse cerca de 10 vezes maior do que o número de neurônios, porém uma recente pesquisa brasileira aponta dados diversos, indicando que as quantidades de neurônios e neurgoglia se equivalem (em breve faremos uma postagem específica sobre o tema).
Além disso, os neurônios não devem ser analisados de forma individualizada ou em pequenos grupos, pois eles formam redes neurais muito complexas e com diferentes níveis de interação. As ações complexas sempre envolvem várias redes diferentes. Uma ação complexa é, por exemplo, ler e interpretar um texto, pois estaremos usando as redes visuais para identificar letras ou imagens e, ao mesmo tempo, ativando redes da memória para estabelecer relações com coisas que já conhecemos, a fim de compreender o significado do que estamos lendo.
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Concepção de rede neural por Mike Fiel |
Podemos imaginar algumas cenas que se assemelhem à complexidade cerebral. Neste caso, imaginemos o cérebro como uma reunião de diferentes orquestras com estilos e instrumentos variados, cada qual regida por seu respectivo maestro, sendo que, no mínimo, duas devem tocar simultaneamente para cada obra musical.
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Reunião de diferentes orquestras |
Se já seria bastante complicado fazer funcionar, ou pelo menos, entender o funcionamento de orquestras assim reunidas, bem mais difícil é imaginar o cérebro como um todo. Por isso ele costuma ser estudado em partes e com diferentes abordagens. O funcionamento cerebral é como um imenso quebra-cabeça que está sendo montado por diferentes grupos de pessoas, em diferentes locais, mas há ainda muitas peças faltando...
Porém, a partir do que já é sabido, muito se pode fazer em prol do melhor desempenho cerebral, tal como: realizar atividades criativas, não estabelecer rotinas muito estritas e repetitivas, evitar drogas e álcool, praticar exercícios físicos e mentais, dormir bem, dormir bastante, não deixar a curiosidade morrer, cultivar o bom humor e, talvez o ato mais heroico: amar o próximo e as demais formas de vida.
Leituras complementares
Generalidades do Sistema nervoso humano.
Quantos bytes ocupa o cérebro de um gato?
O problema cérebro mente segundo Miguel Covian.
Outras Referências e links:
1- FREUDENRICH, Craig. Como funciona o cérebro. UOL – Como tudo funciona.
2- MITCHELL, Kevin. Connecting Left and Right. Wiring the Brain, 7 Maio 2010. Disponível em: http://wiringthebrain.blogspot.com/2010/05/connecting-left-and-right.html
Jamais havia encontrado explicações tão belas e fáceis de serem entendidas;pena que a rigor quase ninguem se interesse ou queira se aprofundar num assunto tão relevante e primordial, pois a humanidade padece de ignorancia e não lê e não entende o que lê porque acha que só apreender o B a Bá é o suficiente.A meu ver...teríamos que voltar ás salas de aulas e começar tudo de novo e fazer como era nos anos 50 onde voçê era obrigado a aprender até o latim que já era lingua morta, mas abria a cabeça e o raciocinio de então./ Rubão768.
ResponderExcluirRubão,
ResponderExcluirFico muito feliz com seu comentário, pois o objetivo deste blog é facilitar o conhecimento e linkar textos mais complexos para aprofundamentos.
Sobre o interesse por novos conhecimentos este é um aspecto bastante individual, mas confio que se as informações forem mais inteligíveis este interesse tende a crescer.
obrigada pelo incentivo!