24 outubro, 2010

Reflexões sobre a “EDUCAÇÃO DE CORPO INTEIRO” de João Batista Freire


"Alguns dirão, com razão, que, nessa questão do movimento, a atual geração infantil de apartamento movimenta mais os dedos num videojogo e num sintonizador de televisão do que o corpo como um todo. Outras crianças, como as de favela, não brincam, trabalham para sobreviver. Mesmo essas, no entanto, no espaço que lhes sobra, exercem o movimento e a fantasia típicos da infância”(J.B.FREIRE, 2002).

Este parágrafo sintetiza o problema que vem ocorrendo com as diversões eletrônicas. Ainda não temos uma série de anos muito grande para a análise científica e estatisticamente indubitável sobre os malefícios que o sedentarismo infantil ocasiona nas crianças. Mas, considerando-se que o corpo delas está em desenvolvimento e pleno de saúde, necessitando do movimento como uma tenra planta necessita de água, é lícito pensar que as sequelas deste tipo de comportamento serão sentidos no futuro.

Que futuro teremos a partir de crianças nascidas e crescidas trancadas em apartamentos e apartadas dos movimentos e correrias ao ar livre?

A referência quase obrigatória é a obra “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley. Numa paródia infeliz entre ficção e vida real, lá se encontram as classes menos privilegiadas, criadas dentro de um contexto genético-comportamental, já com seu destino previamente determinado. Tais e tais indivíduos serão trabalhadores de baixo nível, aqueles que executarão tarefas braçais, são a população “Y”.

A forma como as crianças da classe média estão sendo criadas nos grandes centros urbanos do nosso tempo, faz-nos pensar inquietantemente na população “Y” de Huxley. Crianças já sedentárias desde a primeira infância, afeitas apenas aos exercícios de dedos sobre controles deslizantes ou “joysticks”: transformar-se-ão em cidadãos ativos? Questionadores? Pensantes? Ou, ao contrário, serão apáticos e, facilmente, moldáveis? Enfim, mais peças para a grande massa humana cinza e amorfa que os políticos tanto adoram nas eleições?

É esta relação que quero estabelecer entre o mundo das crianças e o futuro cidadão que participará dos destinos do planeta. Gente que nunca subiu numa árvore, nunca correu de pés descalços pelas poças de água, nunca pulou, dançou e gritou na chuva, não sabe que o leite vem da vaca. Gente que não estabelece relações de causa e efeito entre o que vê nas prateleiras dos supermercados e a produção rural. Esta gente será capaz de respeitar a natureza? Que natureza?

Por este caminho vão as minhas preocupações e elucubrações porque não sei até que ponto os filhos das classes dominantes, os futuros dominadores não estão no mesmo caminho. É uma visão um tanto pessimista da realidade que está posta aí e que, se não for mudada, poderá trazer consequências graves para o futuro, talvez bem recente, do ser humano.

Por Isaías Malta (1996, atualizado).

Leituras complementares:
Jogos Inafantis e o Desenvolvimento Cerebral.
Combatendo uma Cultura de Corpos Semi-imóveis.
Brinquedos Assassinos.

Referências:
João Batista Freire da Silva. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e Prática da Educação Física. 3Ed. 224 páginas. Scipione. 2002 (link)

Equipe FENATRACOOP. Jogos eletrônicos podem trazer notas boas na escola.

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