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1- Alex, um papagaio africano cinza.
Segundo sua proprietária, a psicóloga americana Irene Pepperberg, Alex “ tinha a capacidade intelectual de uma criança de 5 anos".
Ele falava mais de 100 palavras em inglês, podia identificar cerca de 50 objetos e sete cores,aprendeu os conceitos de "maior", "menor", de "igualdade" e de "ausência".
Cinco dias antes de sua morte, em 11 de setembro de 2007, aos 31 anos de idade, quando Alex foi colocado em sua gaiola, após mais um período de trabalho, disse à sua proprietária: "Seja boa, vejo você amanhã. Eu te amo" (Terra, 2007).
Alex não se intimidava diante das câmeras e participou de vários programas de TV, onde demonstrava suas habilidades intelectuais. Além disso, Irene Pepperberg pesquisou Alex, buscando responder à questão: Papagaios poderiam aprender a falar ou apenas se limitariam a imitar?
Ao falar ele era capaz de discriminar cores, formas e materiais, assim diante de um triângulo de madeira ele era capaz de falar ‘blue’ (azul) quando perguntavam sobre a cor e ‘three-corner wood’ (triângulo de madeira) quando perguntado sobre a forma. Conseguia contar e, aparentemente, somar até seis.
Além do que lhe ensinaram durante os treinamentos, ele aprendeu algumas coisas espontâneas, quando queria pedir desculpas ao ser repreendido dizia “I’m sorry” , quando estava entediado ou cansado com os experimentos e queria voltar para sua gaiola dizia “I wanna go back”.
À noite ou nas horas de folga, Alex costumava repetir palavras recém-aprendidas como se estivesse praticando.
Todavia, mesmo com Alex como tutor, outros papagaios cinzentos admitidos no laboratório de Irene Pepperberg, não conseguiram os mesmos resultados e uma interação privilegiada com o ser humano.
2- Nim Chimpsky, um chimpanzé.

Nim foi “adotado” ainda bebê, com apenas 15 dias, pelo pesquisador Herbert S. Terrace, para testar se um primata que fosse criado como um bebê humano poderia aprender a linguagem e chegar a inventar a linguagem, assim como os seres humanos fazem. Ele foi tratado desde o início como um bebê humano, usava fraldas, roupinhas e tinha a sua mamadeira.
Nim foi ensinado a falar através da linguagem dos sinais e em 4 anos, ele dominava 125 sinais, mas continuva impulsivo como qualquer chimpanzé pequeno. Mesmo tendo aprendido a comer usando talheres e se tornado asseado, indicando com gestos convencionados quando desejava ir ao banheiro.
Através de sinais ele conseguia escolher peças do vestuário, por exemplo, uma camisa e a cor, e também aprendeu a pedir objetos como uma xícara, escova de dentes, etc.
Os cientistas que trabalhavam com Nim agiam como se ele fosse uma criança normal, conversando com ele e entre si, usando a linguagem dos sinais. Na casa onde o chimpanzé morava, as condições iram ideais, os professores tomavam conta dele o tempo todo, filmando.
Porém após quatro anos, por falta de verbas e outros contratempos Terrace teve que devolver Nim à sua reserva. No começo ele ficou de quarentena e chorava, pois desde os quinze dias de vida não convivera com outros chimpanzés. Porém, um ano mais tarde Terrace foi visitá-lo, mas ficou esperando perto de uma árvore no trajeto do passeio. No momento em que Nim o avistou deu um salto no ar de alegria. Terrace começou a falar com ele usando sinais, coisa que já não acontecia há um ano e ele respondeu, voltando a usar sinais sempre que se aproximava.
3- Outros chimpanzés famosos foram as fêmeas Washoe e Lana.
Washoe inclusive ensinou outros três chimpanzés (Loulis, Tatu e Dar) a usar sinais.
4- Sofia, uma cadela SDR (sem raça definida).
Sofia tem quatro anos e usa um tipo de teclado (um painel de 15 x 30 centímetros com oito teclas) para se comunicar. Ela foi selecionada de uma ninhada de sete filhotes, sendo separada de sua mãe quando tinha 50 dias, quando foi cirurgicamente esterilizada. Seu treinamento começou aos 2 meses de idade, em outubro de 2001. Pela equipe coordenada pelo etólogo César Ades.
Ela tinha 4 meses quando começou a ser treinada para usar o teclado e 17 quando fez o teste final desta fase da pesquisa, em fevereiro de 2003.
Porém, segundo os pesquisadores, só era possível realizar os testes quando ela estava motivada - caso contrário, era impossível contar com sua colaboração.
O treinamento foi feito com base no reforço positivo: respostas corretas eram seguidas por um clique e, quando Sofia voltava para perto da experimentadora, recebia um petisco acompanhado de carinho e elogios verbais. Respostas incorretas eram seguidas por um não e pela repetição do comando até que ela o executasse de forma correta (ECA-USP).
Apesar de sua incrível inteligência estes animais não conseguem transmitir a cultura aprendida aos seus pares no seu ambiente natural. Mesmo Washoe tendo conseguido ensinar outros chimpanzés ela fez isso no contexto humano como uma forma especial de adaptação, pois os treinamentos sempre são baseados em recompensas dadas aos animais, quando cumprem as tarefas requeridas.
O que impede a socialização das aprendizagens individuais em espécies não humanas é a ausência de uma cultura elaborada. Os animais não desenvolvem uma cultura elaborada capaz de estrapolar suas próprias existências, porque simplesmente não necessitaram disso para sua adaptação ao ambiente.
Esse é o principal diferencial dos seres humanos: nossa sobrevivência dependeu de uma cultura elaborada, através da qual compartilhássemos conhecimentos. Os aprendizados humanos têm sido socializados através de mecanismos de transmissão social, desde as pinturas pré-históricas até a linguagem, incluindo-se nesse contexto: arte, filosofia, ciência e misticismo.
Nossa linguagem resultou dessa capacidade ou mesmo necessidade de cultura e comunicação. A inteligência humana é essencialmente linguística, por isso é muito preocupante ver que a Escola não prioriza a leitura e escrita.
É torturante observar que nas festas os jovens não costumam escutar músicas com melodias e letras elaboradas, que no lugar de cantar emitem apenas uns gritos semelhantes a uivos, ao escrever substituem as palavras por aglomerados de letras, numa perspectiva exclusivamente fonética, esperando que os leitores lhes atribuam algum sentido.
A educação necessita, com urgência, se contrapor a este estado de coisas, para que continuemos humanos e saibamos manter viva uma cultura capaz de transmitir às demais gerações muito mais do que células e genes.
Leituras complementares:
Cérebro, Genes, Linguagem e Inteligência.
Percepção de Mundo e Educação do Olhar.
A relação social e o Pensamento simbólico.
O macaco que quase virou gente.
Referências e Fontes das imagens:
ADES, Cesar. O papagaio-cinzento e as palavras (Resenha). Ciência Hoje. vol. 45 n. 267. Jan/Fev., 2010, p 75-76.
TERRACE, Herbert S. Entrevistas do Le Monde. In : FLAKSMAN, Sergio (Trad.) O Indivíduo São Paulo : Ática,1989.
Alex http://destaknews.blogspot.com/2007_09_11_archive.html
Alex http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1899527-EI8145,00.html
Nim http://polymath07.blogspot.com/2008_10_01_archive.html
Nim http://www.observer.com/2008/monkey-who-moved-manhattan
Lana http://people.exeter.ac.uk/bosthaus/Lecture/lanaandkanzi.htm
Washoe http://www.oddee.com/item_91222.aspx
Sofia http://www.eca.usp.br/nucleos/njr/voxscientiae/isadora31.html
Pintura rupestre http://alunosfazendohistoria.blogspot.com/2009/03/pinturas-rupestres.html
muito bom texto, muito bem escrito! Parabéns
ResponderExcluirÓtimo Post! (também tenho um cão "inteligente")
ResponderExcluirA "mensagem" final está corretíssima, mas a falta de cultura infelizmente já faz parte da nossa cultura! (???)
Quando EU era adolescente parece que as pessoas eram diferentes, queriam crescer, queriam progradir, e hoje vejo exatamente o contrário, as pessoas querem "estagnação"!
Boa parte dos problemas foi causado pelo Estatudo da Criança e do Adolescente - ECA, pois proíbe os jovens de participar de atividades de trabalho, mesmo que caseiras, lavar uma calçada, ajudar a aparar a grama, etc...
Estão criando uma nação de jovens "vagabundos"...
Impressionante a capacidade animal de aprendizado. Sempre me interessei por isso, e a cada dia fico mais surpreso.
ResponderExcluirConcordo com o comentário acima.
O texto está ótimo! Peca, é claro, no fim quando o preconceito com novas formas de cultura é manifestado, mas de forma alguma há um prejuízo na transmissão da idéia.
ResponderExcluirO estudo cognitivo de outras espécies, e o que podemos aprender sobre a nossa nesse meio tempo, é um campo fascinante da ciência.