29 janeiro, 2010

Experimentação com seres humanos

por
Apotecario de PietroLonghi
A pesquisa de medicamentos precisa de uma etapa experimental com seres humanos, até que ponto isso fere a ética?

Muitas pessoas se chocam quando se fala nesse assunto, todavia, desde tempos imemoriais experimentam-se tratamentos novos em pacientes que apresentam sintomas incomuns ou não respondem aos tratamentos convencionais.

Por mais que se desenvolvam experimentos com cobaias, o efeito do tratamento em humanos só pode ser completamente testado no próprio homem.
Com razão muitos temem o abuso como ocorreu nos campos de concentração nazistas, mas impedir tais experimentos não é a solução. Deve-se discutir mais, regulamentar melhor e controlar mais estes processos.

Para refletir, nada melhor do que um pouco de história...

Você sabe como se chegou às vacinas?

Na antiguidade, muitos experimentos foram feitos para evitar a varíola, cujas epidemias dizimavam as populações. Os chineses costumavam colocar crostas de pústulas no nariz de pessoas sãs. No oriente médio, utilizavam o "método do grego" que consistia em desenhar cruzes no queixo e bochecha das pessoas sãs com agulhas molhadas no líquido das lesões, porém tais métodos não se mostravam eficazes.

No início do século dezessete é que Edward Jenner, um médico inglês, conseguiu imunizar um menino inoculando-o, em maio de 1796, com líquido da varíola de gado. Em julho do mesmo ano quando inoculou o menino com varíola humana, ele não desenvolveu a doença. De posse destes dados Jenner publicou seu trabalho em 1798.

Pasteur conseguiu atenuar o vírus da raiva injetando, sucessivamente, fragmentos de cérebro de cães raivosos em cães sadios. Após passar por uma série de cérebros o vírus se atenuava e quando inoculado em cães, coelhos e cobaias os imunizava contra a raiva. Antes de aplicar em seres humanos Pasteur, que conhecia D. Pedro II, sugeriu que o Imperador comutasse a pena de morte dos condenados brasileiros que decidissem experimentar a vacina, mas o imperador brasileiro recusou a ideia por julgar esse tipo de experimento perigoso. Enfim em julho de 1885 Pasteur usou a vacina no menino Joseph Meister, com êxito.

Também foram experimentos com seres humanos que levaram ao uso de gás hilariante (óxido nitroso) e éter como anestésicos.


A necessidade de combater o mosquito da febre amarela só foi descoberta quando Carlos Juan Finlay convenceu cinco pessoas a se deixarem picar por mosquitos que haviam picado pessoas doentes. Como estas cinco pessoas contraíram a febre amarela, Finlay expôs em Budapeste, no ano de 1894, que o mosquito deveria ser combatido, mas não lhe deram atenção. Os mesmos experimentos foram retomados em 1900 com resultados idênticos e foram comparados com pessoas que dormiram em lençóis sujos com vômito e fezes de pessoas que haviam morrido de febre amarela, porém nesse caso eles não contraíram a doença. Assim em fevereiro de 1901 o mosquito foi considerado o agente de propagação da febre amarela, passando a ser combatido.

A eficiência da vacina Salk contra poliomielite também foi efetivamente confirmada a partir de um experimento realizado em escolas, onde foi, com a autorização dos pais, aplicada em crianças, que foram comparadas com outras que apenas recebiam um placebo de soro fisiológico.

Os exemplos acima indicam que experimentos com seres humanos podem trazer inegáveis benefícios sociais, mas eles transcendem os limites de uma categoria profissional e devem ser abertamente discutidos por profissionais de diversas áreas como Direito, Filosofia, Sociologia, Medicina, Estatística, etc.

Nesse sentido, para evitar os abusos, todo e qualquer projeto de pesquisa com seres humanos, desde os procedimentos mais simples como aplicação de entrevistas, até utilização de medicamentos ou procedimentos experimentais, devem ser submetidos e aprovados por um comitê de ética independente, além de obter o consentimento livre e esclarecido dos sujeitos a serem investigados.

Referências:
HOSSNE, William S. ; VIEIRA, Sonia. Experimentação com seres humanos. Ciência Hoje, São Paulo, v.07, n. 37. p. 46-51, 1987.

Fonte das imagens:
1- CAMINHOS DA MEDICINA: AS MAIS BELAS PINTURAS SOBRE TEMAS MÉDICOS
2- Experimento de Edward Jenner: Duke Magazine
3- combate ao Mosquito da Febre Amarela: O Globo

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