23 janeiro, 2009

COMPORTAMENTO HUMANO E LINGUAGEM SEGUNDO A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET.

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Segundo Piaget o comportamento adquirido constitui a manifestação das possibilidades biológicas, em que o conteúdo de cada esquema de ação depende em parte do meio e dos objetos ou acontecimentos a que se aplica, mas isto não significa que sua forma ou funcionamento sejam independentes de fatores internos.

Para Piaget, as ações do sujeito sobre os objetos não derivam dos objetos em si, mas da adaptação dos esquemas cognitivos do sujeito a estes objetos. Neste sentido, os esquemas cognitivos constituem um aspecto particular dos sistemas reguladores, por meio do qual o organismo no seu conjunto conserva sua autonomia e resiste às degradações entrópicas.



É possível definir que os dois constituintes fundamentais da vida são a energia, que torna possível os processos dinâmicos e a informação, que coordena e reproduz, modificando ou não o uso da energia.

A própria noção de vida depende da existência de informação. Para haver informação tem que haver uma linguagem. A molécula de DNA armazena informação através de uma linguagem atômico-molecular. Segundo Mascarenhas, neste contexto, a organização é essencial uma vez que os sistemas desorganizados possuem menos informação, isto é, aumentos de entropia equivalem ao decréscimo de informação [1].

Na teoria piagetiana o comportamento é entendido como a própria organização da vida aplicada ou generalizada a um setor mais amplo de trocas com o meio. Desse modo, como qualquer tipo de organização, contém regulações cuja função é controlar as acomodações e as assimilações construtivas. Para isso, essas regulações se apóiam nos resultados obtidos no decurso da ação ou das antecipações.

Para Piaget, as relações entre a biologia e as ações do sujeito iniciam a partir das estruturas hereditárias que possibilitam a construção dos esquemas elementares, que se coordenam em sistemas. Estes sistemas permitem as primeiras “classificações” e “seriações” sensoriais motoras.


Em continuidade, essas classificações e seriações possibilitarão o aparecimento do comportamento inteligente operatório, que se manifesta nas estruturas de classes e relações inerentes às brincadeiras e jogos infantis. Ramozzi-Chiarottino[2] explica que este período, denominado por Piaget de “lógico-concreto”, se caracteriza pela presença de uma lógica, ainda não verbalizada que precede a lógica verbal de classes e relações própria do pensamento adolescente e adulto. Ou seja, neste período as crianças identificam os problemas, interpretam e encontram soluções, mas não são capazes de verbalizar suas ações e desse modo muito pouco dessa vivência consegue ser resgatado da memória consciente. Porém, são essas ações que constituirão as “fundações” da inteligência e, assim como as fundações de um prédio, ficarão no subsolo, invisíveis aos leigos.

Ao observar uma criança antes e depois da aquisição da linguagem, tem-se a impressão de que a origem do pensamento lógico se encontra na linguagem. Antes dela, a criança está limitada por seu campo perceptivo, através da linguagem ela se liberta do presente e insere os objetos e fatos num quadro conceptual, fazendo-nos crer que começa verdadeiramente a conhecê-los. Todavia, Piaget constatou em suas pesquisas, que não é a linguagem que explica essa transformação. Suas observações mostram que a linguagem aparece mais ou menos ao mesmo tempo em que o brinquedo simbólico e a imitação diferida, que implicam a existência de uma função simbólica [2].

Piaget[3] enfatiza que a função simbólica é mais ampla que a linguagem por incluir, além dos signos verbais, os símbolos. Os signos são em geral abstratos enquanto o símbolo é individual, ambos constituem os dois pólos, individual e social de uma mesma elaboração de significações. Assim, o sentido varia no processo histórico enquanto o significado está preso ao momento, reunindo sentido e significado obtém-se a significação, que sempre vai depender do processo histórico de cada indivíduo.

A função simbólica é a capacidade de construir significantes e a linguagem se constitui numa forma particular dessa função. Pensar pode ser traduzido como a ação de interligar significações. Dessa forma, o pensamento precede a linguagem, a qual irá, por sua vez, transformá-lo profundamente, ajudando-o a alcançar suas formas de equilíbrio, por uma esquematização mais acentuada e uma abstração mais móvel [4].

Em outras palavras, com o aparecimento da função simbólica estabelecem-se entre o indivíduo e o seu meio, relações que enriquecem e transformam seu pensamento, sobretudo pela aquisição da linguagem. Contudo, uma vez de posse desta última, as crianças não chegam imediatamente às operações implícitas em suas estruturas, será necessária toda uma série de atividades e novas interações antes que isto ocorra.

A linguagem transmite ao indivíduo um sistema pronto de classificações e relações, ou seja, um amplo potencial de conceitos, mas a transmissão verbal destes conceitos só será assimilada à medida que certas estruturas forem sendo elaboradas no campo das ações. Assim sendo, embora favorecendo o aparecimento das operações, é certo que a linguagem não consegue transmiti-las exclusivamente pela via lingüística.

Pode-se concluir que a maturação do sistema nervoso abre uma série de possibilidades e sua não-maturação acarreta uma série de impossibilidades. Porém, este fato se constitui apenas numa condição necessária à lógica, mas não suficiente, pois as estruturas lógicas se formam aos poucos, no decurso do desenvolvimento da criança, em conexão com a linguagem e, sobretudo, com as trocas sociais.

Nosso sistema nervoso, com sua maturação tardia, limita-se assim, a abrir certo campo de possibilidades, no interior do qual se formarão determinado número de condutas, relativamente poucas, considerando-se o número de possibilidades abertas. Todavia, a formação de condutas supõe certas condições de experiência física e relações sociais, que determinarão aquilo que a maturação apenas torna possível [4].

Em síntese, as estruturas cognitivas se elaboram num contexto em que a atividade e o exercício desempenham um papel tão importante quanto a estruturação e a maturação biológica das coordenações nervosas. Nesse contexto, a aquisição da linguagem possibilita a intensificação das interações sociais e assim deixa de ser apenas mais um resultado de um intrincado processo de fenocópias cognitivas, tornando-se fonte de novas fenocópias.

Em outras palavras, a linguagem marcou o ser humano como um animal simbólico e possibilitou uma ampliação imensurável das capacidades do seu comportamento, redundando no surgimento da arte, filosofia, ciência e mística que não são observáveis em nenhuma das outras espécies biológicas da Terra.

Referências:
[1]-MASCARENHAS, Sérgio. Biofísica da informação e evolução da Inteligência. Ciência e Cultura. São Paulo, v. 30, n. 4, p. 405 - 414, 1978.
[2]- RAMOZZI-CHIAROTTINO, Zélia. Piaget: modelo e estrutura. Rio de Janeiro : Livraria José Olímpio Editora , 1972.
[3]- PIAGET, Jean. [1945]. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho; imagem e representação. Rio de Janeiro : Livros Técnicos e Científicos S.A., 1990.
[4]- PIAGET, Jean. [1964]. Seis estudos de psicologia. 20 ed. Rio de Janeiro : Forense Universitária, 1994.

11 comentários:

  1. A epistimologia genetica de Piaget nos deixa como aprendezado o estudo do comportamento humano e as fases deste comportamento; tais como o desenvolvimento cognitivo de cada seres e que serve também como campo de estudo do sistema nervoso de cada um deles.

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  2. Piaget acredita que a experiencia ativa com o mundo é essencial para o crescimento cognitivo. De acordo com Piaget as crianças constroiem seu mundo ao ordenar o material bruto adquerido atraves de suas visões,sons etc...

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  3. Piaget foi muito feliz na sua escolha, de optar por seres humanos como seu campo de pesquisa. Baseando-se no seu própio desenvolvimento cognitivo quando criança, seu primeiro trabalho científico surgio aos 10 anos: depois de públicae artigos ciêntificos sobre moluscos com o tema zoológicos afins. Intessava-se pelo campo da religião, da biologia, da sociologia e dafilosofia. Aos 21 anos obteve o título de licenciatura em Ciências Naturais e, no ano seguinte,o de Doutor en Ciências.Isso tudo foi fruto de um desenvolvimento cognitivo de uma criança convicta de que o ser humano ara compo perfeito para pesquisar as capacidades de inteligências de acordo com cada fase construída no aspecto afetivo de cada um.

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  4. 3Isso veio acalhar embasamento para mediação de trabalhos em sala de aula com crianças e, em seguida com séries posteriores.

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  5. Prezada Universitária, seus comentários acrescentam ao texto a personalidade de Piaget, que desde muito cedo se dedicou à pesquisa baseada na observação criteriosa. Ele foi uma das primeiras pessoas a perguntar como as crianças aprendem e como o pensamento evolui desde a infância até a idade adulta. Também destaca a importância de linguagem para a inteligência, como uma transformação e alargamento das possibilidades cognitivas. Depois da construção da linguagem não conseguimos mais pensar sem esta mediação, nem memorizamos informações que não sejam linguísticas.
    Fico muito feliz com teu interesse por este autor desde o início do teu curso.
    Atualmente as critícas que são feitas a Piaget não levam em conta que antes dele nem se cogitavam tais críticas, pois não se sabia o que ele descobriu.
    Ainda hoje ele é o principal teórico do interacionismo.
    desejo sucesso.

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  6. DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
    Apsicologia sócio-hiatórica, que temcomo base a teoria de Vygotsky, concebe o desenvolvimento humano a partir das relaçõea sociais que a pessoa esteabelece no decorrer da vida.Nesse referencial, o processo de ensino-aprendizagem também se constitui dentro de interações que vão se dando nos diversos contextos sociais

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  7. A psicologia sócio-histótica traz em seu bojo a consepcão de que todo homem se constitui como ser humeno pelas relações que estabelece com os outros.Ddesde o nosso nascimento somos socialmente dependente do outroe estamos em processo histótico que,de um lado, nos oferaece os dados sobre o mundo e visões sobre ele e, de outro lado, permite a construção de uma visão pessoal sobre este mesmo mundo.

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  8. O ponto de partida desta nossa reflexão encontra-se no grande valor que a teoria Vygotskyana dá ao processo de interação e, em nosso caso específico,como educadores,às intervenções pedagogicas e ao ensino na construção do conhecimento.

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  9. Segundo Paulo Freir, ler é a forma de pronunciar o mundo e decodificá-lo, para no final conhecer a si mesmo.

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  10. Segundo Paulo Freir, ler é a forma de pronunciar o mundo e decodificá-lo, para no final conhecer a si mesmo.

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  11. prezada universitária, não trabalhei com Vygotsky, pois não me aprofundei no campo da psicologia, mas sim na biologia do conhecimento.
    Sobre a questão social utilizei o cnceito de Processo Civilizador de Norbert Elias. No campo da filosofia o conceito de animal simbolicum de Ernest Cassirer. Assim a tríade utilizada foi: Piaget, Elias e Cassirer.
    Trabalho o conceito socio-histórico no texto "os filhos do seu tempo" :Através de uma análise histórica das transformações dos costumes, pode-se dizer que os indivíduos ou sujeitos são "filhos do seu tempo" se comportando de acordo com seu contexto social em interação com sua condição biológica básica.
    acesse através do link.
    http://diversae.blogspot.com/2009/03/os-filhos-do-seu-tempo.html

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