Quando participamos de uma audição de piano temos que lidar com fortes emoções. Tocar música em público é uma das coisas mais difíceis de se fazer na vida, especialmente para os adultos. Vários alunos que se apresentavam desde crianças, ao atingirem a idade adulta, não conseguiram mais se apresentar por não suportarem mais o estresse de serem assistidos por uma platéia de mais de trezentas pessoas.
Em grande medida, essa é uma injustiça cometida com uma platéia, que é muito compreensiva e solidária, pois está composta por amigos e familiares, os quais conhecem a dedicação e o esforço dos alunos que estão se apresentando e sabem que eles conseguem tocar bem melhor em casa.
Assim, os adultos que conseguem ser tão dedicados e competentes em suas vidas profissionais têm imensas dificuldades revelar suas fragilidades de aprendizes, que tremem e erram na execução de peças exaustivamente estudadas. Os dedos tão treinados e exercitados não conseguem repetir sua performance e apertam as teclas erradas. As mãos tremem e não conseguem ser controladas pela vontade consciente, até parece que adquiriram vida própria. Aliás, uma vida imprópria aos nossos anseios!
Porém essa não é uma realidade absoluta. Pois há os alunos que sobem ao palco sentam ao piano e encantam a platéia com execuções perfeitas. Sua performance é o resultado de uma grande dedicação e estudo, mas que não é maior do que a de muitos daqueles que tropeçaram, erraram e deixaram o palco frustrados.
Ou seja, não é a disciplina e dedicação que diferencia as execuções perfeitas das tremeluzentes: é a BOLHA! Certas pessoas conseguem construir uma bolha “invisível” que as envolve e ao piano e as transportam para um mundo privado, uma dimensão extraordinária, que não consegue ser atingida pelos sons da platéia e os movimentos dos fotógrafos e cinegrafistas à sua volta!
Essa bolha cria uma dimensão além do tempo e do espaço, onde a conexão entre intérprete e instrumento é a única realidade que subsiste. Ao final do recital um dos possuidores de uma bolha disse-nos que ao pisar no primeiro degrau que leva ao palco ele esquece até mesmo de quem é e só volta a si quando está engolindo o bombom, já sentado em sua cadeira após a apresentação e os aplausos.
Esse então é o segredo: criar essa bolha de concentração no puro ato de tocar, sem a perspectiva de fazer algo que seja bem feito ou de agradar ao público, simplesmente executar o que ensaiou dedicadamente no limite técnico atingido. Entregar-se ao instrumento de forma plena sem buscar ir além dos ensaios, pelo contrário, admitir um menor desempenho, sem culpas.
Descoberto o segredo advém a pergunta: Como se pode adquirir essa bolha?
Ela não pode ser comprada em nenhum lugar, mas deve ser construída por cada um através da ação e repetição. Ou seja, é preciso persistir nas apresentações, conformar-se com os erros e déficits de performance, brindando o público com a coragem de voltar a cada ano!
Fonte da Pintura de Carl Larsson "Menina ao Gran Piano" que serviu de base para a ilustração:
Art Browser\ Realism\ Carl Larsson Gallery http://www.artst.org/realism/carl_larsson/
hehehehehehehe
ResponderExcluirBom dia, Gladys!
ResponderExcluirOlha eu aqui de novo!
Estudo piano desde os quatro anos. Formei-me no IBA,da URGS e continuo a estudar. Infelizmente não o faço por mais de uma hora por dia - o que não é coisa alguma - devido ao trabalho e outros afazeres. O que narraste é verdade. Ocorreu comigo muitas vezes, mas jamais havia considerado (ou sabido) que é conhecido como 'bolha' o tal sentir. Como eu, muita gente também deve não saber. Irei copiá-la no site que te indiquei ontem ao comentar sobre teu trabalho sobre a evolução do homem. Peço-te desculpas.
Pensei que eras uma estudante - e de Portugal... bem, 'estudantes'("alunos da Vida"), todos somos. Quanto a seres portuguesa, foi uma ilação que não sei justificar.
Não te preocupes, pois ontem mesmo respondi ao referido 'comentarista'.
Uma excelente PÁSCOA para ti, com muita Luz e Paz!
Mirna Cavalcanti de Albuquerque
Mirna,
ResponderExcluirO termo bolha é de cunho próprio, apenas uma figura para representar um estado de concentração que promove um alheamento do entorno, possibilitando uma melhor execução. Concentrar é preciso.
Se consegues estudar uma hora por dia és uma felizarda! Atualmente pelos compromissos, consigo estudar duas a três horas POR SEMANA apenas, mas sabe de uma coisa, vale muito à pena.
Não tenho pressa em vencer os "conteúdos" sigo em frente como posso. O fato é que a cada dia sinto que minha percepção musical se aguça e isso é fantástico.
Sobre achares que eu era portuguesa deve ter sido em função da fonte que referi, que é de um estudante português. Por sinal um material muito bom disponibilizado por ele, já que a maior parte do meu material é impresso, ao referí-lo minha intenção foi disponibilizar um texto para consulta.
Também enviei um comentário no teu blog, mas tive que resumir pois há um limite de caracteres.
Obrigada pelos comentários.
Gladys!
ResponderExcluirÉs criativa - e bastante... pois pensando, parece mesmo como se estivéssemos isoladas de tudo e de todos. É algo maravilhoso. A música é, para mim, a mais elevada das artes, pois não importa a lingua que falamos - ou mesmo - não falamos, em qualquer parte do mundo que estejamos, sentados lado a lado com os nativos: russoa, chineses, finlandeses, etc... podemos comunicarmo-nos. As palavras são desnecessárias. Fala sempre mais alto e mais forte, "a voz do coração"(em sentido figurado). As almas sensíveis conseguem tocar-se, o olhar revela a alma e em uníssono ocorre a compreensão. Só ao entrar em um Teatro, qualquer teatro onde a Música é apresentada por anos (como o Municipal do Rio,por exemplo),já se sente uma energia vibrando diferente, elevando-nos a parãmetros de sensibilidade que, por vezes, parece-nos estarmos a levitar.
Gladys, tu és um ser especial. Gostaria, se concordares, de enviar-te o que escrevo, trocar idéias contigo, coisas assim . Para tanto, escrevo abaixo meu e-mail:
mirnacavalcanti@gmail.com
Abraços,
mirna Cavalcanti
Mirna.
Parabéns pelo blog. Gosto muito daqui porque quando leio seus posts a vontade que sinto de estudar piano cresce ainda mais. Eu fico muito feliz de você poder estudar piano porque é isso que eu quero fazer!
ResponderExcluirAbraços.
Viagem secular,
ResponderExcluircomeçe o quanto antes pois é uma longa, mas fascinante jornada!