06 janeiro, 2008

Na antesala do exame de Piano

por

A cada semestre, os estudantes de piano enfrentam um exame de proficiência, os que triunfam na audição, saem com a sensação de ter superarado mais um desafio no percurso de crescentes dificuldades.

Nesse exame, nós somos avaliados por uma professora que não nos acompanhou durante o semestre e temos uma só chance para mostrar todo nosso desempenho em cada um dos exercícios ou peças solicitadas.
Uma vez, uma estudante de piano (bem mais adiantada do que eu) comentou que durante o exame ela procurava descobrir se a examinadora estava gostando, olhando para o reflexo do rosto dela no piano, enquanto tocava.

Eu sempre me lembro disso quando sento ao piano nos dias de exame, felizmente, utilizamos um piano de meia-cauda, enquanto aquela moça estudava em um piano de armário em sua escola. Assim, eu não preciso me preocupar com a expressão da examinadora, apenas com todo o resto...

Para que servem estes exames?

Eles nos dão uma medida ou um parâmetro para sabermos onde estamos e como estamos avançando. Além disso, servem para definir metas e gerar certo nível de estresse, estabelecendo alguns desafios possíveis, os quais nos impelem para frente.

Os avanços no curso são medidos a cada semestre. Assim, de acordo com o Instituto Verdi(Porto Alegre) começamos a estudar numa etapa denominada “Iniciação”. Se no primeiro semestre de estudos tivermos atingido as metas desse semestre podemos fazer o exame da “iniciação parcial” e no semestre seguinte fazemos o exame da “iniciação final”. A segunda etapa é chamada de “Preparatório” e após o preparatório começa o Primeiro Ano; Segundo Ano; e sucessivamente até o Oitavo Ano, ao final do qual conclui-se o curso básico de Piano.

O tempo em que estes “semestres” oficiais são completados varia de aluno para aluno, algumas pessoas completam a iniciação e o preparatório em um ano apenas ou até em menos tempo. Eu iniciei o curso em agosto de 2005 e em dezembro de 2007 me submeti ao exame do “Primeiro ano Final”. Já um colega de 14 anos, que iniciou seus estudos em maio de 2004 estava prestando exames para o “Sexto ano Final” neste mesmo dia. Fomos aprovados, mas acredito enfaticamente que a nota dele deve ter sido bem melhor, pois ele prestou exame antes de mim e eu pude escutá-lo e adorei o que ouvi.

Este colega começou tocando com sua prima uma versão para piano a quatro mãos da Quinta Sinfonia de Beethoven. Foi tão maravilhoso que eu não resisti e aplaudi suavemente na “sala-de-espera”, então ouvi aplausos vindos do interior da sala, ou seja, a própria examinadora não resistiu e teve que aplaudir, foi lindo.

Coloquei a expressão “sala-de-espera” entre aspas porque, na verdade a escola funciona num pequeno prédio comercial, que possui duas salas comerciais por andar (a da escola fica no sexto). No dia dos exames a professora coloca algumas cadeiras no saguão junto à janela, onde ficamos esperando a nossa vez de enfrentar o desafio. Desse modo, a não ser o aluno do primeiro horário, podemos escutar o colega que nos precede.

À medida que progredimos perdemos a noção dos nossos próprios avanços e temos a sensação de estamos ficando piores, isso porque os exercícios e as peças vão se tornando mais complexos e exigentes, por isso os exames servem como um incentivo, pois quando somos aprovados nos damos conta que conseguimos avançar.

Por outro lado, acredito que uma reprovação seria um desastre e desestímulo, por este motivo nossa professora só permite que preste exame quem tenha condições de ser aprovado. Quem não atinge os requisitos mínimos para receber nota setenta deverá estudar por mais um semestre e se ainda não tiver atingido a meta continuará estudando até tornar-se apto ao exame.

A preparação para o exame nos impõe uma disciplina de estudo e um ritmo de avanço, mas exige empenho e isso gera estresse. É importante sabermos dosar este estresse para que ele seja produtivo, ou seja, devemos fazer o esforço possível e respeitar nosso ritmo individual, pois o importante é persistir, já que a música nos oferece alegrias genuínas.

Saber tocar um instrumento é um pequeno milagre! Perceber que estamos conseguindo fazer coisas que não éramos capazes de imaginar é muito prazeroso e faz valer a pena todo o trabalho, a dedicação e até um certo medo da examinadora, da qual, felizmente, não consigo ver o rosto durante o exame. Mas é graças a ela que eu hoje sei que estou apta a iniciar o Segundo Ano! Quando estarei apta a concluí-lo? Bem, essa resposta eu não tenho, só sei que no momento certo vou preparar a lição e estarei sentada na “sala-de-espera” ouvindo o colega que estiver prestando exame antes de mim, torcendo para que ele se saia bem!

Palavras-chave: exercícios de piano, Instituto Verdi, exames de piano, disciplina de estudo, piano para adultos, curso de piano

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails