Uma simples ida ao banco pode suscitar idéias que vão desde a deliciosa paródia entre os agentes smiths do filme Matrix e os habitantes dos centros urbanos, à constatação de que a roupa contemporânea está chegando próxima da funcionalidade das malhas apertadinhas dos filmes de ficção científica.
Chegando a um banco, me deparo com uma imagem emblemática da interação homem-máquina: a fotografia publicitária de uma mulher deitada na relva em plena natureza, de olhos fechados em êxtase ouvindo algo nos seus fones auriculares. Como a espera nos bancos costuma testar a paciência, resolvi prestar atenção aos mínimos detalhes. A razão disso pode ser chamada de atividade de “passa-tempo”, antídoto contra ambientes fastidiosos. Assim, quando me deparo com os motivos gráficos das propagandas do local, gosto de me deliciar lentamente com cada um deles. Geralmente dá certo, porque o poder da contemplação exige tempo para "aquecer", o tempo necessário para as coisas se resolverem, porque o mundo descarta rapidamente aqueles que não tenham se deixado submergir no estresse.
Terminada a minha peregrinação pelos intestinos bancários, no outro dia estando em casa numa manhã luminosa, eis que entrevejo pela janela a mulher do caseiro passando em sua caminhada matinal, usufruindo da alameda guarnecida por ciprestes decanários formando um túnel verde... portando os mesmos fones auriculares da moça do banco. Então não pude me furtar a traçar analogias entre a propaganda bancária e a figura em carne e osso passível de contemplação. Desconfio que o antigo conceito de vestuário, como sendo uma pele postiça sobre o corpo para conferir certo conforto térmico, já esteja ultrapassado. A roupa atual integra além da pele artificial, câmera de foto/vídeo, mp3 player, telefone, acesso à internet, chave USB e baterias recarregáveis para mantê-la em funcionamento.
O esforço dos fabricantes de alta tecnologia para suprir um aparelho que integre definitivamente todos os dispositivos de interconexão é o reflexo da tendência unificadora entre o vestuário e os dispositivos eletrônicos pessoais. A realidade do filme “Jornada nas Estrelas” está chegando, não tanto à moda bichesca da malha apertadinha do capitão Kirk apertando o peito para pedir um teleporte, mas como uma roupa que não serve apenas ao vestir, pois além entretenimento e da necessidade compulsiva de conexão, está se configurando como interface indispensável na relação homem-natureza. A Apple já lança o Iphone, que é um hardware integrativo e o Google lança o Android, que um é sistema operacional para gerir roupas digitais. Qualquer aproximação entre a nossa realidade e a malha do Capitão Kirk não terá sido mera coincidência.
Palavras-chave: eletrônica, vida moderna, matrix, ficção científica, roupa cibernética, conectividade, síndrome de abstinência conectiva.
Por Isaías Malta
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