Uma releitura do Gênesis bíblico que avança um pouco além da simbologia, abordando o caos decorrido depois que os edeanos se fascinam com o poder criador, e passam a exercer eles próprios a prerrogativa da reprodução.
No início só existia a desordem, o mundo não tinha forma e as coisas se confundiam. Então o Pai criou o Fogo, a terra, a Água e o Ar, e colocou-lhes em movimento. Depois povoou a Terra com toda espécie de plantas e animais que ali habitaram por um tempo que não se conta. Faltava algo, e o Pai mandou seu Primogênito para que colocasse ordem em todas as coisas. E assim foi feito, o mundo estava completo e funcionava na mais perfeita harmonia, o Pai estava sempre presente em todos os momentos. Havendo necessidade de avanço, o Pai ensinou ao Filho os poderes sobre o Fogo, e disse-lhe que ele não poderia trabalhar sozinho com esse elemento, para isso deu-lhe uma esposa, para que juntos trabalhassem na Forja, e nela poderiam criar tudo, menos o que fosse da competência do Pai, ou seja, outros homens e mulheres, pois isto ainda não o podiam fazer.
O domínio sobre o Fogo foi ficando cada vez maior, e podiam criar maravilhas, mas chegou um tempo em que isto não lhes pareceu suficiente e, desobedecendo, começaram a criar homens e mulheres, e esses também auxiliavam a ampliar a povoação, o Pai se afastou e as coisas todas mudaram, sem a sua presença direta o casal primogênito assumiu um comando independente, e a multiplicação aumentou. Os novos filhos, mesmo sem a presença direta, sentiam a força do Pai, o que atrapalhava os planos daqueles que cada vez mais se afastavam, fascinados com a própria criação e com o poder que parecia ilimitado. Como os novos nascidos ficavam divididos entre a Força do Pai e o comando dos criadores, esses distribuíram poderes e criaram muitas distrações, e a maioria se encantou, e sentiam cada vez menos a Grande Força, com exceção de uns poucos que não se deixavam ludibriar, e buscavam o caminho do Pai.
Passado um tempo, as coisas estavam piores, o Pai em sua ira fez sobre a terra grandes cataclismos, obrigando os primogênitos e muitos de seus comandados se afugentar nas profundezas escuras da terra, não dando a eles mais o direito de ver a Luz. Mas mesmo sem a sua presença, continuou havendo sua influência sobre cada filho dos seus filhos nascidos naquele mundo, porque continuavam com poderes, e esses cada vez mais escuros e perversos. Apegados aos filhos e toda sua descendência, lutavam incansavelmente pela sua posse. Aos filhos, porém, é dada a escolha, podem seguir livres o caminho que desejarem. Mas por mais longe que estejam, os primogênitos reconhecem a hierarquia do Pai, mas permanecem na escuridão devido a contínua desobediência, insistem em continuar com a sua própria criação, com sua própria obra, e na verdade são eternamente frustrados, pois gostariam que ela fosse aprovada pelo Pai. Isto faz com que a rebeldia aumente e mergulhem cada vez mais na escuridão.
Para renovar a ordem, o Pai faz nascer na terra o seu segundo Filho, colocado e nascido do ventre de uma Mãe pura de Coração e Espírito, veio para dar uma direção a todos os que na terra haviam. E todos que Nele acreditavam, passavam a perceber novamente a Força do Pai e preferiam a Luz à escuridão. Como o novo Filho também nasceu na terra, teve a influência do primogênito, que reconhecendo seu poder, ofereceu-lhe todo o seu reino e todo o poder que quisesse, mas Esse de natureza diferente, pois era Obediente ao Pai, não aceitou a proposta do irmão mais velho e seguiu o seu caminho, despertando aos que dormiam pos onde passava.
PORQUE É DIFICIL MORRER EM SI MESMO?
Porque nós somos o primogênito, eu, você, todos nós. Eu em minha identidade, com todas as coisas que eu gosto e tudo que gostam em mim. O primogênito é o satã, ou seja, a personificação dos nossos defeitos. Ele tem o poder e a capacidade de orar e construir templos ao Pai, ele é devoto, é bonzinho, é coitadinho. Ele não pode ser ruim, como é que posso eliminá-lo? Como é que eu posso querer morrer se também sou um filho. Gostaria que o Pai me abençoasse em tudo o que eu faço. Eu também tenho esse direito. Como é que posso negar a mim mesmo??? Isso é iimmmmpppoooossssíííííííível. Como é que vou sair de onde estou e dar lugar ao mais novo? O queridinho do papai. Como é que eu posso rasgar a minha identidade? A minha melhor foto, o que eu tenho de melhor? É mais fácil eu tentar adormecer e fascinar aquela essência rebelde e fazer ela escolher por mim e não pelo meu irmãozinho.
É como se um Pai dá o carro ao filho mais velho para que ele realize as tarefas pertinentes, mas ele se encanta e passa a não obedecer os sinais, as velocidades, os caminhos. Até que se afasta tanto que não consegue mais voltar para casa, e até se esquece dela. Então o pai manda o seu outro Filho, para que assuma a direção e traga o carro e o irmão para casa. Mas é preciso ter humildade, confiança e reconhecimento pela autoridade do Pai para entregar a direção, ou seja, entregar aquilo que mais se gosta.
O que parece interessante é que desde o principio o Pai sabia dos riscos que corria o Filho mais velho, é como se o tivesse mandado em uma missão perigosa, muito arriscada. Porque escolhendo o caminho que escolheu, ele pôde tomar consciência do lado escuro. E o segredo é o de não se acomodar no mal, de mesmo estando nele, reconhecer a autoridade do Pai, ter humildade para entregar a direção, deixar os prazeres, as dores e as ilusões para trás. Reconhecer o Irmão e a sua missão, que é tão difícil e dura quanto a do mais velho. O que permite a consumação de todos esses acontecimentos e o retorno a casa do Pai com consciência plena é o AMOR, que é a lei única, que rege todas as outras, que é o próprio Pai em ação.
Por: Marcus Franck
Imagen internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário