Depois que descobri os seres de luz, a minha vida mudou completamente em função deles. Meu anseio é encontrá-los e depois das experiências, me vejo enclausurado na escuridão da existência comum.
E vieram os dois anjos a Sodoma
à tarde, e estava Ló assentado à
porta de Sodoma; e vendo-os Ló,
levantou-se ao seu encontro, e
inclinou-se com o rosto à terra.
GÊNESIS 19,1
E vieram os dois anjos a Sodoma
à tarde, e estava Ló assentado à
porta de Sodoma; e vendo-os Ló,
levantou-se ao seu encontro, e
inclinou-se com o rosto à terra.
GÊNESIS 19,1
Fui agraciado com o dom para descobrir as criaturas “especiais” que andam incógnitas nas ruas. E não são tão raras como se pensa. Amiúde os encontro praticamente levitando no meio da multidão, todos dotados da mesma alvura de pele e gestos silenciosos e grandes buracos luminosos à guisa de olhos. Quando me percebem, provocam um estalo na minha cabeça como torvelinho de imagens bizarras. Então me viciei na experiência como se fosse uma droga. Abandonei os meus projetos de vida para encontrá-los, minha nova rotina são longas caminhadas de espreita até alcançar a luz. Quando vejo sóis estranhos e planetas gigantescos e humanidades remotas na poeira dos mundos, ao longo de um tempo indefinido, até que me largam como quem se enfada com uma formiga e desaparecem. Sim, eles realmente se desintegram no ar. Mesmo que seja em espaço público, eles tanto se materializam, como se desintegram. Nenhum dos transeuntes percebe esses grandes acontecimentos, nem a luz que brota deles criando um efeito bolha de mais de 10 metros de extensão ao seu redor.
Paulatinamente fui entendendo um pouco sobre a missão deles. São scanners de almas que perambulam espionando o interior das pessoas, é tudo que sei, não sei se vieram de outros planetas, nem se pilotam discos voadores. Nunca vi um disco voador, não que me falta vontade de vê-los, mesmo que fique à noite vigiando o céu estrelado na expectativa de achar qualquer luz que se mova de maneira errática.
Ainda não sei qual foi o motivo que me fez encontrá-los pela primeira vez, só sei que caí num estado especial de consciência que me permitiu enxergar além da trama de pensamentos. Muitas perguntas permanecem sem resposta e eles não as satisfazem diretamente, o que não impede que eu vá juntando as peças do quebra-cabeça que se tornou a minha vida.
E disse mais: não poderás ver a minha
face, porquanto homem nenhum verá
a minha face, e viverá.
Disse mais o Senhor: eis aqui um lugar
junto a mim; ali te porás sobre a penha.
E acontecerá que, quando a minha glória
passar, te porei numa fenda da penha,
e te cobrirei com a minha mão, até que
eu haja passado.
E, havendo eu tirado a minha mão, me
verás pelas costas; mas minha face não
se verá. Êxodo,33,20-23
Na outra vida (antes de encontrá-los), eu tive os meus sonhos. Hoje o meu mundo se reduziu a vagar numa sucessão de dias na busca de novas visões. A cada visita, eles me doam um pedaço de luz que preenche uma lacuna por vez. No ato de perscrutar a minha alma, eles me envolvem com sua luz arrebatadora e me transportam à plenitude das loucas correrias da infância, aos longos verões sob as árvores na cachoeira. Vejo em detalhes o arco íris se desenhando contra as gotículas das nuvens de vapor, mergulho nas águas límpidas do córrego, brincando sob altares recobertos de lâminas de ouro, me vejo voando entre folhagens e contemplando os raios de sol dourando a mata, enquanto o manto de sombra é estendido sobre o caminho crepuscular, pavimentando a tenra noite que se aproxima.
Cada vez que eles me contemplam, experimento o êxtase, em instantes ou horas, transportado a mundos de felicidade tomando contato com outros substratos de vida alternativos ao estado vulgar de consciência. Por isso reduzi a minha vida às atividades mínimas de sobrevivência, para poder me dedicar integralmente à caça. No meio da multidão amorfa, eventualmente surge um deles. Quando sua aparência é feminina, é como se fosse o resultado de todas as belezas das mulheres no seu auge surgindo como um sol na paisagem de milhares de rostos esmaecidos. Quando se parece homem, representa a síntese angelical das figuras entre humano e divino que se vê nos quadros renascentistas. Ao escapar ileso de cada encontro, fico com a sensação de ter visto a face de Deus, mas findada a explosão luminosa, parece que fico reduzido à treva existencial, em que qualquer outra luz é escuridão.
CONTINUA...
Por: Isaias Malta
Amei, muito bom. Parabéns!!!!!!!!
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