Perguntei hoje para a professora sobre o porquê do Hanon. Disse que tinha a impressão de ficar para cima e para baixo com aqueles exercícios sem perceber algum avanço real. Ledo engano, ela retrucou, o Sr. Hanon traz resistência, igualdade, agilidade e a capacidade de diferenciar o legatto e stacatto. Vejamos o exercício 13 por exemplo, tenho a tendência de tocar articuladamente na descida, por causa da contração do 3º dedo da mão esquerda em direção ao 4º. Apesar do salto, o ouvido não deve perceber a dificuldade da passagem entre os 3º e 4º dedos. Alcança-se a sutilidade do legatto quando os dedos adquirem capacidade de escorregar pelas teclas sem perturbar a métrica, sem saltos perceptíveis aos ouvidos.
Os estudantes de piano autodidatas têm a tendência de localizar o seu toque na zona limítrofe entre legatto e stacatto, ou seja, quase como no hip hop em que o vocalista não canta nem declama. O autodidatismo desemboca quase sempre no dedilhado frouxo, porque falta base técnica, faltam aqueles exercícios que abundam no ensino formal sob os nomes meio temíveis; Hanon, Czerny, Clementi, Bertini, Beyer, Russo, etc. São composições repetitivas que exploram as dificuldades técnicas a serem encontradas nas peças de verdade, não para torturar os pobres estudantes de piano, mas para fazer seus dedos aprendam a virtude da independência e o caminho da obtenção da separação motora entre os 3º e 4º dedos, infelizmente e fisiologicamente unidos por um tendão comum.
Quem observar atentamente verá que o Hanon destina uma carga especial às dificuldades de independência entre os 3º e 4º dedos, além da óbvia preocupação com a fraqueza do mindinho. Quanto à questão da igualdade, o piano acústico de armário, tem uma tendência de enganar neste quesito. Igualdade significa equalizar a força com que as teclas são pressionadas. E não é fácil. Depois de conhecer um pouco das artimanhas do piano. Um teste que poderia distinguir claramente o estudante com bagagem técnica e o deficiente, não precisa ser necessariamente a execução de uma peça, mas tão somente uma escala, um arpejo e um Hanon, seriam suficientes para aquilatar as diferenças dentro da hierarquia de aprendizagem de piano.
Corroborando minha teoria está um pequeno parágrafo da introdução do editor C.F. Witzmann ao Gradus Ad Parnassum de Muzio Clementi, em que ele declara que “As peças nele constantes são estudos cuidadosamente escolhidos no verdadeiro senso da palavra. Cada um deles apresenta um certo nível de dificuldade em passagens dinâmicas, acordes interrompidos, dificuldades intencionalmente interpostas e outros obstáculos que objetivam a independência dos dedos entre si, para aumentar a força e a resistência do executante, de forma que este é o espírito permeando a obra. Os estudos preparados dessa maneira habilitarão o estudante. que os tocar correta e fluentemente, a tocar passagens similares existentes nas obras de outros compositores, e o ajudarão especialmente na aquisição de precisão, clareza e domínio necessários para a execução de qualquer tipo de peça.”
Ao observar uma pessoa talentosa tocando piano, pode-se descobrir se, paralelamente à sua facilidade com os meandros do teclado, se houve estudo sério de base. Há que se observar principalmente nas peças que envolvam legatto numa mão e stacatto noutra. É a prova contundente que demonstra a destreza do intérprete em diferenciar uma coisa da outra e a sua familiaridade com os exercícios técnicos, criados não apenas para desenvolver a agilidade, mas a capacidade de desenvolver o fraseado em respeito a intenção do compositor. Um exemplo gritante do quanto é crítica esta diferenciação pode ser dada na forma como Glenn Gould, o pianista canadense que revolucionou a maneira de interpretar Bach, apesar de ter sido o mestre da execução articulada, foi deficiente nas ligaduras. Em algumas peças que exigem altas doses de ligação, as suas interpretações deixaram a desejar porque nessas, vencia a sua compulsão em articular as notas, a exemplo do 1º prelúdio do cravo bem temperado, onde a sua digitação das notas dos arpejos são é realizada em stacatto, o que mata, na minha opinião, o efeito da reverberação restauradora da melodia, sob a ação do pedal. O mesmo defeito também pode ser observado na sua versão de algumas passagens das sonatas de Beethoven, mas certamente esse mísero detalhe não chega a macular o legado da sua formidável obra.
O meu teste particular, para contornar a falta de sensibilidade o piano vertical apresenta quanto à questão da igualdade é gravar qualquer exercício de Hanon no meu teclado Yamaha DXG300. Os teclados têm alta sensibilidade ao toque, muito acima das possibilidades do mecanismo empilhado dos pianos de armário, o que põem em evidência qualquer dedo que esteja chapando desigualmente as teclas. O resultado gravado pode ser um desastroso de ser ouvido, mas a gravação é o retrato fiel do que as pessoas ouviriam numa execução de verdade.
Por: Isaias Malta
É uma pena haver tantas pessoas contra principalmente o hanon. Quanto ao Russo, que metodo é esse? Seria do William Russo? Acho que não. Como ele é?
ResponderExcluirFrancisco Russo
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