19 outubro, 2007

Profissão: falso político!

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O público confunde apaticamente os personagens dos escândalos políticos, percebendo Todas as figuras que aparecem na TV como políticos, até um grande publicitário, cujo maior feito foi ter produzido o ganhador da corrida presidencial de 2002.

Estava eu fazendo supervisão de um grupo de estagiárias em uma Escola de Ensino fundamental, numa turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA), quando, durante um momento em que os alunos faziam um exercício, comecei a passear os olhos pelos cartazes expostos nas paredes da sala e me deparei com um cartaz sobre profissões.

Era um cartaz feito com colagens em um papel pardo com cerca de 80 cm de largura e mais de 1 m de comprimento. Comecei a analisar o cartaz e vi que a primeira profissão arrolada era a de “Político”, que estava escrita sob a foto de, pasmem, DUDA MENDONÇA.

Esta era a primeira vez que eu visitava tal Escola e estava na sala havia uns 15 min quando vi esta “preciosidade”, então concluí que para as turmas e para os professores que usam a sala este fato não incomodava. Especialmente, não incomodou ao professor ou professora que havia conduzido a atividade dos alunos. Neste caso, atribuir ao Duda Mendonça a profissão de político, parece ser de senso comum.

Desse ponto de vista, nos deparamos com uma face oculta das CPIs, a “mistura homogênea” entre os “sabatinados” e os “sabatinadores”, ou seja, a tendência das pessoas colocarem como iguais tanto os “corruptos” que estão sob investigação quanto os “homens de bem” que estão realizando a investigação.



Daí, nós podemos entender as manifestações costumeiras das pessoas entrevistadas nas ruas, que afirmam peremptoriamente: “Todo político é corrupto!” ou ainda “Todo político é ladrão!”

Esse desalento se deve em parte ao que esperamos de um político, pois no misticismo indu a política está relacionada a Ganesha o deus elefante da prosperidade, da prudência e da sagacidade, que em um de seus diversos braços porta um machado para cortar todo o mal. 


Pobres políticos que acreditam piamente que ao aparecerem, o mais possível, durante as CPIs estão mostrando ao povo que são políticos sérios, preocupados com a ética e a moral! Mas, ao tentar mostrar que estão “limpando” o país, transformaram a política em profissão e o Duda em seu representante.

Irônico! Mas num país em que atores e atrizes são confundidos com os personagens que representam, mesmo em novelas de época, isso não é inusitado.

A maioria dos brasileiros não assiste as CPIs via TV câmara ou TV senado e se abastece das informações através dos telejornais, onde em imagens rápidas aparecem os “questionado” sentados na mesma mesa que o presidente, secretário e relator da respectiva CPI. Assim acaba valendo o dito popular “Diga-me com quem andas que eu te direi quem és!”

Neste caso, as CPIs deveriam se preocupar em colocar os “sabatinados” em um espaço próprio com uma “tarja” explicativa do tipo: “Duda Mendonça, publicitário sob investigação” ou então, “Duda Mendonça, publicitário e testemunha importante”, quando fosse o caso!

Por outro lado, este tipo de fato evidencia aos professores de Filosofia ou Sociologia, que é importante trabalhar o conceito de política e de profissão, partindo das percepções que os educandos trazem do seu cotidiano, mas desconstruindo os saberes advindos do senso comum e construindo um olhar mais fundamentado no conhecimento acadêmico-científico, para que a Escola se aproprie da devida importância.

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