A fim de que fosse preservada a individualidade das diferentes espécies e os sistemas biológicos com sua complexidade estrutural e funcional, a vida se estruturou mantendo genes altamente conservados. Tais genes altamente conservados, paradoxalmente, mantêm aparentados os diferentes seres vivos. Com isso, fechou-se e, ao mesmo tempo, abriu-se uma importante janela para a variabilidade e as trocas com o meio, uma vez que se ampliou a rota natural de transmissão vertical da informação genética dos pais aos descendentes, através da reprodução sexual limitada aos indivíduos de uma mesma espécie, com a possibilidade da transmissão horizontal de DNA entre organismos não relacionados, incluindo outras espécies ou mesmo reinos diferentes.
A transmissão entre diferentes espécies de bactérias através do processo de conjugação, mesmo quando ocorrem grandes distâncias evolutivas, é aceita sem controvérsias. Os genes ‘viajam’ entre espécies diferentes de bactérias mais freqüentemente do que se imagina (Miller, 1998)[1]. Por outro lado, os casos mais exóticos de transferência horizontal entre procariontes e eucariontes, como bactérias e leveduras, são vistos com maior ceticismo, mas a comparação entre diferentes seqüências de DNA sugere episódios de transferência seguidos de divergência evolutiva dos organismos envolvidos. Além disso, experimentalmente, verificou-se que os mesmos mecanismos envolvidos na transferência horizontal entre as bactérias podem ser estendidos às trocas entre bactérias e espécies eucariontes de leveduras (abaixo um esquema de cojugação entre bactérias -2).
Graças a tais transferências horizontais, os organismos receptores do DNA podem dar um ‘salto’ evolutivo, uma vez que herdam novos genes já estruturados, que poderão servir como matrizes para novas características. Desse modo, no lugar de uma mutação pontual capaz de mudar apenas um aminoácido de uma proteína, é possível construir uma proteína completa totalmente nova (Sprague Jr., 1991)[3]. Para entendermos mais esta questão precisamos levar em conta que os genes para funcionar precisam, além da informação sobre a seqüência de aminoácidos da futura proteína, conter sinais na forma de determinadas seqüências nos seus pares de bases, que identifiquem seu começo e fim para que possam ser copiados. A informação hereditária na molécula de DNA pode ser comparada à informação contida em um texto. Para escrever uma mensagem não basta enfileirarmos letras, precisamos de sinais gráficos como espaços, vírgulas, pontos e tabulações que indiquem onde as palavras, frases e parágrafos começam e terminam. A estrutura gramatical é fundamental para preservar o sentido. Assim como a estrutura do gene é essencial para preservar a informação genética.
Há fortes suspeitas de que bactérias como a E. coli, que podem trocar informações com fungos e plantas com os quais são ecologicamente relacionadas, sejam também capazes de conjugar com outras espécies de eucariotos. Dada a estreita relação ecológica entre E.coli e Homo sapiens será especialmente interessante descobrir se um processo semelhante poderia ocorrer entre estas duas espécies, pois o número de células de E.coli no intestino de cada ser humano excede ao número de humanos que já viveram no planeta (GOULD, 1994)[4]. Poderia ser esta uma das causas da concentração de eventos evolutivos em curtos momentos da história, observados ao longo de todo o tempo geológico?
Se uma espécie diferente pode se constituir como meio, mais uma vez, uma concepção inspirada na teoria lamarckista de que o meio pode desencadear mudanças na informação genética dos indivíduos deixa de ser descabida e passa a merecer atenção e, neste caso, a visão darwinista da evolução, embora brilhante, se torna insuficiente, se for interpretada de forma a desconsiderar a “implantação” de novidades genéticas pelo meio. Convém, então, revisitar tais concepções, face às novas evidências da biologia, especialmente, os conceitos de meio e de indivíduo devem ser aprofundados a fim de compreendermos seus papéis nos processos evolutivos. Devemos substituir a interpretação mecanicista pela sistêmica, desse modo, indivíduo e meio, deixam de apresentar limites claros e definidos e passam a possuir uma fronteira de sobreposição, onde as tensões e trocas podem ser mais efetivas. Nesta sobreposição entre ambos se situam as “interações” entre sujeito e objeto, enfatizadas por Piaget como essenciais ao desenvolvimento da inteligência e do conhecimento humano.
Referências:
[1] - MILLER, Robert V. Bacterial gene swapping in nature. Scientific American. New York, p. 47-51, Jan., 1998.
[2] - Libertária
[3]- SPRAGUE Jr., George F. Genetic exchange between kingdoms. Current Opinion in Genetics and Development. Oregon, n.1, p. 530-533, 1991.
[4]- GOULD, Stephen J. The evolution of life on the Earth. Scientific American New York, v. 271, n. 4, p. 63-69, Oct., 1994.
Imagem inicial: Dance conforme a música (22 dicas para alcançar o sucesso profissional)
A transmissão entre diferentes espécies de bactérias através do processo de conjugação, mesmo quando ocorrem grandes distâncias evolutivas, é aceita sem controvérsias. Os genes ‘viajam’ entre espécies diferentes de bactérias mais freqüentemente do que se imagina (Miller, 1998)[1]. Por outro lado, os casos mais exóticos de transferência horizontal entre procariontes e eucariontes, como bactérias e leveduras, são vistos com maior ceticismo, mas a comparação entre diferentes seqüências de DNA sugere episódios de transferência seguidos de divergência evolutiva dos organismos envolvidos. Além disso, experimentalmente, verificou-se que os mesmos mecanismos envolvidos na transferência horizontal entre as bactérias podem ser estendidos às trocas entre bactérias e espécies eucariontes de leveduras (abaixo um esquema de cojugação entre bactérias -2).
Graças a tais transferências horizontais, os organismos receptores do DNA podem dar um ‘salto’ evolutivo, uma vez que herdam novos genes já estruturados, que poderão servir como matrizes para novas características. Desse modo, no lugar de uma mutação pontual capaz de mudar apenas um aminoácido de uma proteína, é possível construir uma proteína completa totalmente nova (Sprague Jr., 1991)[3]. Para entendermos mais esta questão precisamos levar em conta que os genes para funcionar precisam, além da informação sobre a seqüência de aminoácidos da futura proteína, conter sinais na forma de determinadas seqüências nos seus pares de bases, que identifiquem seu começo e fim para que possam ser copiados. A informação hereditária na molécula de DNA pode ser comparada à informação contida em um texto. Para escrever uma mensagem não basta enfileirarmos letras, precisamos de sinais gráficos como espaços, vírgulas, pontos e tabulações que indiquem onde as palavras, frases e parágrafos começam e terminam. A estrutura gramatical é fundamental para preservar o sentido. Assim como a estrutura do gene é essencial para preservar a informação genética.
Há fortes suspeitas de que bactérias como a E. coli, que podem trocar informações com fungos e plantas com os quais são ecologicamente relacionadas, sejam também capazes de conjugar com outras espécies de eucariotos. Dada a estreita relação ecológica entre E.coli e Homo sapiens será especialmente interessante descobrir se um processo semelhante poderia ocorrer entre estas duas espécies, pois o número de células de E.coli no intestino de cada ser humano excede ao número de humanos que já viveram no planeta (GOULD, 1994)[4]. Poderia ser esta uma das causas da concentração de eventos evolutivos em curtos momentos da história, observados ao longo de todo o tempo geológico?
Se uma espécie diferente pode se constituir como meio, mais uma vez, uma concepção inspirada na teoria lamarckista de que o meio pode desencadear mudanças na informação genética dos indivíduos deixa de ser descabida e passa a merecer atenção e, neste caso, a visão darwinista da evolução, embora brilhante, se torna insuficiente, se for interpretada de forma a desconsiderar a “implantação” de novidades genéticas pelo meio. Convém, então, revisitar tais concepções, face às novas evidências da biologia, especialmente, os conceitos de meio e de indivíduo devem ser aprofundados a fim de compreendermos seus papéis nos processos evolutivos. Devemos substituir a interpretação mecanicista pela sistêmica, desse modo, indivíduo e meio, deixam de apresentar limites claros e definidos e passam a possuir uma fronteira de sobreposição, onde as tensões e trocas podem ser mais efetivas. Nesta sobreposição entre ambos se situam as “interações” entre sujeito e objeto, enfatizadas por Piaget como essenciais ao desenvolvimento da inteligência e do conhecimento humano.
Referências:
[1] - MILLER, Robert V. Bacterial gene swapping in nature. Scientific American. New York, p. 47-51, Jan., 1998.
[2] - Libertária
[3]- SPRAGUE Jr., George F. Genetic exchange between kingdoms. Current Opinion in Genetics and Development. Oregon, n.1, p. 530-533, 1991.
[4]- GOULD, Stephen J. The evolution of life on the Earth. Scientific American New York, v. 271, n. 4, p. 63-69, Oct., 1994.
Imagem inicial: Dance conforme a música (22 dicas para alcançar o sucesso profissional)
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