13 outubro, 2007

A percepção do "tempo natural"

por
De Blogpaedia
A necessidade de compreender as questões ambientais é amplamente reconhecida, pois estamos vivendo uma condição de acelerado aquecimento global sem outro registro igual na história da nossa civilização. Assim, o entendimento e a mudança de atitudes são requisitos básicos para a construção de uma vida mais digna. Mas, para a apropriação deste conhecimento é preciso que as pessoas aprendam a observar e interpretar os fenômenos naturais.

Nesta perspectiva, o ensino de ciências, que se destina a formar cidadãos com informações suficientes para acompanhar de forma crítica o impacto das novas tecnologias, não se resume ao recebimento de informações acabadas. Ele requer a perspectiva da descoberta pessoal, através de situações pedagógicas que viabilizem vivências construtivas, ou seja, que possibilitem o envolvimento pessoal de cada educando na descoberta do mundo.As metodologias envolvidas para esta finalidade devem empregar um conjunto de estratégias, tais como: observação, organização, descrição, investigação e análise crítica, como ocorre através de práticas investigativas.

A realização de experimentos durante a educação básica possibilita que o ensino de ciências atinja os objetivos de capacidade de avaliação e de crítica e, além disso, permite a construção do conceito do “tempo natural”, pela descoberta de que na natureza os eventos não acontecem na velocidade com que são representados nos filmes de ficção ou mesmo em documentários.Qualquer ação humana para mudança de um quadro global instaurado deverá contemplar a educação ambiental que não poderá se resumir a um código de normas a ser decorado e recitado de memória. É necessário um envolvimento emocional e racional, uma descoberta da beleza e das características do ambiente natural. Isto não acontece quando trabalhamos apenas com a distância, com as imagens projetadas, com alguém que nos fala, pois o sentido das imagens e falas depende da capacidade de ver e ouvir.

O envolvimento emocional pode e deve ser construído através da educação formal, especificamente, da educação básica e obrigatória, pois é através dela que se podem contrapor conceitos equivocados advindos dos equipamentos de lazer como cinema, televisão e jogos eletrônicos. Tais equipamentos fornecem às crianças e jovens uma noção acelerada de tempo, bem como um conceito de possibilidades de retomar uma vida perdida, que não existem na natureza. O tempo de reconstituição de um ambiente degradado não é um click! Compreender isso é essencial. Possibilitar esta compreensão é um dos papéis da Escola.O espaço privilegiado para isto é o ensino de ciências, pois as atividades de pesquisa proporcionam situações de aprendizagem que levam o indivíduo a atitudes de respeito à vida e de preservação do ambiente, transcendendo a visão antropocêntrica de mundo, evidenciando que os diferentes seres vivos desenvolveram variadas estratégias de sobrevivência e desempenham papéis fundamentais para qualidade de vida nos ecossistemas.

Trabalhar com a ciência está ao alcance de quem desejar, pois é um aprendizado possível a qualquer pessoa e deve ser utilizada como um recurso didático no ensino de ciências. Independentemente do organismo utilizado, através de experimentos podem ser obtidos alguns conhecimentos que melhorem a vida dos seres humanos. Além disso, a prática investigativa proporciona condições para o nosso desenvolvimento como indivíduos responsáveis e capazes de respeitar o conhecimento produzido pelos outros, pois estabelece situações que incentivam vivências solidárias, participativas e cooperativas. Alguns organismos são fáceis de pesquisar e podem servir como modelos básicos para esclarecer características de vários outros seres vivos. Entre eles, podemos destacar muitas espécies de plantas. Ao cuidar de uma planta e acompanhar seu desenvolvimento e crescimento os educandos vão se conscientizando do tempo e das condições necessárias para esta espécie, ao repetir um mesmo trabalho com outra espécie descobrirão que os seres vivos não são todos iguais, tornando-se mais capacitados de compreender as informações sobre a complexidade das relações ecológicas.

Assim o tempo escolar destinado aos experimentos se revela um investimento que resultará numa capacidade maior para compreender as informações teóricas, pois permitirá a compreensão profunda de questões essenciais para a vida, criando um arcabouço crítico consistente e cumprindo com o papel essencial da educação básica que é o de estabelecer as bases para o desenvolvimento do pensamento e do comprometimento que se quer dos indivíduos adultos. A realização de experimentos simples contribui decisivamente para a construção do conhecimento em ciências e uma mesma experiência poderá ser adaptada para diferentes séries, respeitando-se o desenvolvimento individual próprio dos educandos. Além disso, a realização de um experimento sempre nos coloca novos questionamentos aguçando nossa curiosidade sobre os temas tratados e outros que lhes são afins, qualificando a prática docente e tornando o ensino de ciências mais construtivo e agradável. Com essa perspectiva eu e uma colega elaboramos um manual com o objetivo de instrumentalizar os professores de ciências para realização de atividade práticas de pesquisa com biologia vegetal na escola. Nele são apresentadas e discutidas 17 atividades práticas experimentais em biologia vegetal, sendo que muitas delas poderão ser desenvolvidas mesmo em escolas simples que não disponham de laboratórios equipados com instrumentação cara e de difícil manuseio, porque podem utilizar materiais alternativos ou de fácil obtenção.




Os experimentos descritos são considerados de domínio público, porém poucos são encontrados em linguagem e com explicações destinadas ao ensino fundamental e médio. Assim, fizemos uma compilação e adaptação de experimentos, acrescentando explicações e comentários para tornar o texto acessível e fácil de ser utilizado por professores e alunos que se interessam em ensinar ou aprender a fazer pesquisa. Cada prática descreve de forma clara e detalhada os materiais e procedimentos utilizados em cada experimento, e, ao final, são acrescentadas questões e sugestões desafiadoras para realização de outras investigações a partir de variações de alguns itens do procedimento. Assim, as práticas não se reduzam aos 17 experimentos e podem ser ampliadas.Além disso, cada prática é introduzida por uma breve discussão dos temas aos quais se relaciona, explicando alguns conceitos básicos de difícil compreensão, que os experimentos propostos ajudarão a compreender. Além do texto, há várias ilustrações, que auxiliam a execução das experiências ou a compreensão de alguns conceitos.

As mudanças de atitude em relação ao modo de vida devem partir da conscientização. A conscientização é uma aquisição própria, individual e intransferível. O papel da Escola neste processo é o de criar condições para que cada educando se torne consciente acerca de questões essenciais à sua própria sobrevivência. Entre estas questões destaco a noção de tempo. Como compreender o que são dez ou vinte anos, quando se pode fazer passar cinqüenta ou cem de um capítulo a outro em uma novela, ou entre uma cena e outra de um filme? Como compreender que a vida é preciosa se podemos fazer um personagem ressuscitar diversas vezes em um jogo? Nossas crianças e jovens devem ter a oportunidade de trabalhar com seres reais para vivenciarem as reais condições da vida e da morte, que existem no mundo natural.

Para os interessados os dados da publicação são: BIOLOGIA VEGETAL: manual de práticas escolares; Autoras: Liane T. Dorneles & Gladis F. da Cunha; Ano: 2005. Editora: EDUCS ISBN – 85-7061-337-7.

2 comentários:

Related Posts with Thumbnails