16 outubro, 2007

O ecossistema do corpo

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A busca incessante do enquadramento nos modelos industriais de beleza em nada tem a ver com saúde, porque afronta a constituição biológica de cada um.

William Etty-King of Lydia Shows his Wife


Uma das atuais epidemias na Terra é a obesidade. Até mesmo no Brasil que é um país pobre e possui um imenso contingente de miseráveis a obesidade adquire configuração epidêmica. No rebote dessa doença surgem os inúmeros paliativos de dietas, medicamentos e cirurgias plásticas dos mais variados feitios.


Os problemas dos paliativos é a alta periculosidade com que estão se revestindo, pois ao lado de sistemas autorizados e competentes surgem, também, dietas sem controle ou supervisão, praticadas de forma “autodidata”, medicamentos ilícitos e cirurgias perpetradas por médicos despreparados. Especialmente, surgem os sujeitos que se submetem a tais perigos, desnecessariamente, porque ao lado da doença da gordura em excesso temos o falso modelo de saúde da magreza excessiva, pois, ao que parece, a normalidade é um padrão que perdeu seu sentido, infelizmente!


Como fica a ecologia do corpo nesse contexto?

 
Bem em primeiro lugar quero definir o conceito de ecologia do corpo. Ele parte de um ponto de vista sistêmico, em que o organismo é considerado em seu conjunto e em funcionamento, é considerado como um ambiente e não uma coisa. Ou seja, deve ser considerado como um ecossistema móvel e a ele devem ser aplicadas os conceitos sobre equilíbrio e remediação de ecossistemas. Assim se um ecossistema está em desequilíbrio ele é considerado doente, em contrapartida se uma pessoa está doente significa que está em desequilíbrio.


Em relação ao corpo, vemos que atualmente o que mais interessa é a aparência do que o equilíbrio, de forma que as pessoas não se constrangem em se submeterem às cirurgias estéticas, mesmo quando estão saudáveis, sem levar em conta os riscos inerentes a qualquer tipo de intervenções invasivas. Com a perspectiva de adquirirem uma determinada aparência, entregam-se destemidamente aos cirurgiões, sem considerarem que os processos de cicatrização podem produzir um resultado muito diferente do esperado, mesmo que tudo o mais dê certo.


Miseravelmente, a grande busca atual, metamorfoseada como luta pela saúde, passa longe de uma busca pelo equilíbrio orgânico e se direciona, quase que exclusivamente, a uma forma, um modelo, que, na maioria das vezes, não se ajusta à constituição biológica desse ou dessa buscadora.


Através dessa crônica, eu quero iniciar um movimento pelo equilíbrio do “ecossistema-corpo humano”, dividindo minhas experiências e sucessos, pois já fui obesa e asmática, mas atualmente mantenho estas duas doenças sob controle através de uma dieta ecológica, que consiste em mudar hábitos, recusando-se a sofrer. Esta caminhada envolve muitos passos, já precisei retroceder e refazer alguns caminhos, assim quero dividir o roteiro construído ao longo de 26 anos.


PASSO UM: devemos começar pela redescoberta da beleza. Sem mudança alguma, todos possuímos uma beleza pessoal e individual. Essa beleza se modifica ao longo do tempo, mas está sempre presente e devemos valorizá-la ajustando nossas roupas, corte de cabelos, adereços, gestuais e humor. Um bom exemplo de valorização da beleza individual é o Jô Soares, que consegue ser elegante, apesar de não ter o modelo de corpo, nem a idade, que são padronizadas pela mídia como significado exclusivo de beleza. 


Não quero afirmar que seja ruim ser jovem, alto e magro, mas quero enfatizar que também pode ser bom ter vivido mais tempo, ser bem humorado e saber usar as roupas certas para o tipo físico de que dispomos. Enfim, não podemos esperar mudar para atingir uma beleza possível, se não soubermos explorar nossos tesouros desde já estaremos sempre em busca de um pote de ouro no final do arco-íris.

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