17 outubro, 2007

Ecologia ou Pilulas

por

Redescobrir a beleza pessoal além da formatação imposta pelo mercado, requer uma nova atitude ante às pressões cada vez maiores da estilização corporal.

De Blogpaedia

Voltemos a falar sobre a ecologia do corpo, que parte de um ponto de vista sistêmico, em que o organismo é considerado em seu conjunto e em funcionamento, como um ecossistema móvel a que devem ser aplicados os conceitos sobre equilíbrio e remediação de ecossistemas.

Discuti anteriormente que o “PASSO UM” da dieta ecológica consiste na redescoberta da beleza, fugindo de modelos padronizados e explorando a beleza pessoal e individual. Lembro muito bem de uma ex-colega de trabalho, quando trabalhei no Banco do Brasil, que era gordinha mas encantadora, usava umas roupas muito interessantes e coloridas, ela era uma daquelas pessoas para quem gostávamos de olhar. Porém, nos últimos tempos em que convivemos, ela havia começado uma dieta e perdido vários quilos, com eles perdera também grande parte de sua beleza, o rosto perdera o viço e os olhos a alegria, as roupas se tornaram mais sóbrias e ela já passava mais desapercebida. Não sei no que redundou o processo, porque eu me transferi de agência e perdi contato com ela, mas nunca mais me esqueci desse fato, que foi uma prova viva de que a magreza e a beleza não são, necessariamente, sinônimos. A beleza é o resultado de um estado de PAZ entre a mente e o corpo, que deve acompanhar os processos de modificação que se dão ao longo do tempo. Não quero defender aqui a idéia de que as pessoas obesas devem permanecer assim, pelo contrário minha busca é pela saúde, pelo equilíbrio, mas tanto a saúde quanto o equilíbrio de um ecossistema se relacionam a mudanças graduais e contínuas e não a processos rápidos e radicais. Estes processos estão mais relacionados a outros desequilíbrios, talvez até mais graves, que no caso dos obesos tendem a levá-los aos estados mais agravados da doença.


Como enfatizei anteriormente, não podemos esperar mudar para atingir uma beleza possível, se não soubermos explorar nossos tesouros desde já, estaremos sempre em busca de um pote de ouro no final do arco-íris e vivendo um estado de guerra com nosso organismo, assim vamos ao próximo passo!

PASSO DOIS: devemos construir um estado de PAZ com o nosso corpo. Isso começa pela exploração da beleza e segue pela convicção de o corpo têm uma inteligência própria e poderá atingir seu estado ideal de equilíbrio e forma. A paz, a que me refiro, segue na contra-mão da busca por uma forma pré-estabelecida e por um peso “idealizado” por nós. Ou seja, devemos confiar que o nosso corpo é inteligente e saberá atingir a forma e o peso ideais para nossa saúde.
Nossa tarefa passa a ser então criar as condições ideais para que ele trabalhe de forma mais eficaz e possa atingir seu próprio equilíbrio. Neste contexto, os próximos passos da dieta ecológica vão se relacionar às ações que deveremos empreender para criar as condições necessárias ao equilíbrio do nosso ecossistema móvel ou corpo.

Intervenções quimicas: emagrecendo hoje, engordando amanhã
Antes de avançar para o passo três vou fazer um relato pessoal dos períodos de guerra e paz que mantive com meu corpo e dos resultados colhidos a partir destes dois estados psicológicos. Eu fui uma criança normal, nem magra nem gorda, fruto de um padrão de alimentação saudável em um tempo onde a maioria dos alimentos era elaborada em casa pela minha mãe, pois praticamente não havia produtos industrializados e com isto não faziam parte da alimentação cotidiana aditivos conservantes, flavorizantes, corantes, reforçadores de sabor, acidificantes, etc. Assim, eu podia comer de tudo e nada me era proibido, a não ser alimentos gelados porque sofria de asma brônquica. Além da falta de aditivos químicos nos alimentos havia as brincadeiras infantis que envolviam movimento ao ar livre e, mesmo não podendo acompanhar meus irmãos e amigos em todas as correrias, eu fui uma criança ativa. Neste período vivi uma paz plena com meu corpo, embora sem ter consciência disso.

Porém veio a adolescência e meu corpo assumiu formas de moça e não mais de menina. A beleza mudou, mas como este processo aconteceu em um espaço muito curto de tempo, entre os onze e meio e os doze e meio anos de idade. Logo, passei a ouvir com muita freqüência as frases: “Nossa, como tu engordaste!” “Puxa, como a Gladis está gorda!” E, como qualquer adolescente jovem e imatura de mais, comecei a me sentir culpada por isso. Meu corpo passou a ser um inimigo e a alimentação deixou de ser um ato para a existência assumindo um papel de protagonista, quando deveria ser apenas um coadjuvante e em vez de comer para viver, passei a viver em função do ato de comer.

Através das fotografias antigas, percebo o quanto as pessoas estavam equivocadas, pois eu continuava normal, nem gorda nem magra. Apenas a beleza, que é mutável, tinha adquirido novas possibilidades. Infelizmente, tanto eu, quanto meus próximos, não tínhamos meios conceituais para lidar adequadamente com esta questão, eu por imaturidade e eles por pura e cristalina ignorância. Assim, sem conhecimento de causa, ao guerrear com meu corpo e negar minha beleza, desequilibrei totalmente esse ecossistema, assumindo dietas equivocadas e, de fato, engordando. Depois que engordei muito, ficando com oito quilos acima do que seria o meu peso “NORMAL”, fiz uma dieta rígida, com acompanhamento médico, e, por não perder a quantidade esperada de perda de peso nas duas primeiras semanas, acabei utilizando moderador de apetite (receitado pelo médico!), emagreci mais de dez quilos em oito meses e atingi o meu peso “IDEAL”.

Porém, quando deixei de utilizar o moderador de apetite, eu fiquei sem sensação de saciedade, por cerca de uns três anos, nada que eu comesse me dava uma sensação de ser o suficiente! Meus familiares passaram a vigiar minha alimentação, controlando as quantidades com que eu me servia e, também, os tipos de alimentos que eu consumia. Eu passei a odiar meu corpo, me sentir horrível e isso redundava em mais fome! Assim comecei a comer escondida e isso só fazia minha culpa e conseqüentemente meu apetite aumentarem! Minha fome era infinita e, nestes três anos, dos dezessete aos vinte, além de recuperar os dez quilos perdidos a duras penas, engordei vinte outros! Até que foi pouco, em números absolutos, mas como eu tenho apenas um metro e cinqüenta e quatro centímetros de altura, isso me afetou muito. Apesar disso, a quantidade de quilos a mais não se tornou incontornável, atribuo isto à qualidade dos alimentos que ingeria, pois eles eram, principalmente, não industrializados. Porém eram refinados e já contavam com os aditivos dos temperos prontos os famosos caldos de galinha e de carne!

Aos vinte anos resolvi tomar uma decisão importante>: NÃO COMERIA MAIS ESCONDIDO! Em certa medida isso se caracterizou como um primeiro acordo de paz com meu corpo, pois eu acataria e defenderia sua sensação de fome, na frente de todos e CONTRA todos, se preciso fosse. Inexplicavelmente, meu apetite reduziu e, ainda mantendo o mesmo padrão de tipos de alimentos, perdi dez quilos até os vinte e um anos de idade. Assim, ao iniciar uma caminhada em direção à paz com o organismo, descobri o próximo passo da dieta ecológica!

PASSO TRÊS: Jamais utilize moderadores de apetite! Nem com prescrição médica! Os moderadores de apetite afetam o funcionamento cerebral e acabam desregulando a sensação de saciedade. Ao parar de utilizar um moderador de apetite não sentimos mais saciedade, pois esse estímulo não estava vindo através das rotas normais que são diversos sinais enviados pelo organismo, mas através de substâncias químicas que atuavam diretamente nos neurônios sem ligação com o estado real de homeostase ou equilíbrio corporal. Se meu médico tivesse se mantido firme, em não me receitar qualquer moderador e tivesse dado tempo ao meu corpo a dieta equilibrada que ele havia me prescrito teria dado os resultados. Certamente levaria mais tempo e os efeitos seriam menos expressivos, pois eu não teria atingido o peso “ideal” de tabela, mas teria atingido e permanecido com o peso normal, pois com o moderador eu, confesso que, passei a comer menos do que ele havia me receitado levando meu corpo a um estado de fome fisiológica. Desse modo, ao cessar o estímulo de falsa saciedade, comecei a sentir uma fome fisiológica que somada ao estresse emocional da culpa se tornou incontrolável. A fome fisiológica é um problema que afeta mais às pessoas propensas a ganhar peso facilmente do que àquelas propensas a perder peso facilmente e saber contornar este problema será a direção que tomaremos para construir nossa dieta ecológica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails