Os elementos de transposição têm a capacidade de se inserir no DNA como "estranhos no ninho", podendo se transferir de um local a outro. Sua movimentação pode afetar a organização vital e produzir mudanças, do mesmo modo que os educadores devem desencadear a transformação dos educandos.
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Bárbara McClintock |
A teoria piagetiana permite uma utilização de informações obtidas pela Biologia no sentido de compreendermos mais profundamente os processos cognitivos, cujo desenvolvimento se apresenta como um caso particular dos processos gerais observados na organização
vital.
Uma fonte de variabilidade, encontrada no genoma de todos os seres vivos são os elementos de transposição ou transposons, que se inserem no genoma e podem se transferir de um local a outro. Os movimentos dos elementos de transposição ou transposons dependem da manutenção de sua autonomia, a qual está relacionada com a codificação de proteínas específicas denominadas transposases e que são responsáveis pela sua mobilização.
A descoberta destes elementos se deveu aos trabalhos clássicos de Bárbara McClintock, que pesquisava desde a década de 1940 a instabilidade de certos cromossomos do milho. A pesquisadora demonstrou, através de análise genética, que certas porções do cromossomo, as quais denominava de elementos controladores, podiam se mover no genoma. Sua descoberta foi bastante revolucionária, pois a análise genética clássica trabalhava apenas com a concepção de que os genes ocupavam lugares específicos nos cromossomos, os locos gênicos, e que não podiam se mover.[1]
Estudos com diversos organismos, incluindo bactérias, fungos, vermes nematódios, insetos, plantas e mamíferos, sugerem que os elementos transponíveis estão espalhados entre procariontes e eucariontes, apresentando considerável variação em estrutura e função.[1]
Segundo Gardner, Simmons e Snustad (1991), no gênero Drosophila, por exemplo, muitos tipos de transposons foram identificados e estima-se que cerca de 15% do seu DNA seja móvel. Há fortes indícios de que estes elementos possam ser transmitidos de uma espécie à outra, por transferência horizontal mediada por um ácaro parasita destas espécies [2]. Neste caso, o elemento passaria da mosca para o ácaro e deste para outra espécie de mosca. Logo, ao inserir-se nos cromossomos de uma espécie, se pode dizer que um pouco mais de meio começou a fazer parte desta espécie.
Talvez a maior importância dos elementos transponíveis, no nosso ponto de vista, seja o "ferramental" que eles representam, como vetores de transformação, pois sua inserção não apenas altera a estrutura dos genes, mas pode também alterar sua regulação [3].
Ao comparar semelhanças e diferenças entre proteínas de espécies aparentadas, supõe-se que as alterações na regulação da expressão gênica foram mais importantes para evolução morfológica do que alterações nas regiões que codificam a informação para síntese protéica.
Se a inserção de um elemento transponível conferir novos padrões regulatórios e ocorrer na linhagem germinativa, o padrão de expressão alterada pode ser herdável e se constituir em matéria prima para a troca evolutiva. Caso um elemento de transposição se inserisse num cromossomo de forma a ficar próximo de um gene produtor de hormônio ou responsivo a ele, poderia afetar todo o desenvolvimento de um organismo.
A inserção ou a movimentação de elementos de transposição no genoma de um organismo poderia, em nível biológico, representar o papel dos processos de desequilíbrios e reequilibrações do desenvolvimento da inteligência, gerando tensões e modificações evolutivas.
Uma estrutura cognitiva organizada está para as suas sub-estruturas, do ponto de vista do encaixe, da mesma forma que as estruturas biológicas estão para os processos de organização vital. De modo que, as estruturas cognitivas se inter-relacionam de forma a atingir um equilíbrio, assim como os genes, por exemplo, estabelecem entre si intrincados processos regulatórios necessários para manutenção da organização vital. Um elemento de transposição pode produzir um desequilíbrio que redunde numa transformação evolutiva dos organismos, na busca de sua reequilibração.
A manutenção da organização ou o equilíbrio se contrapõe aos avanços e transformações tanto em nível biológico quanto cognitivo. As mudanças biológicas são complexas e arriscadas para serem realizadas em curto espaço de tempo, mas a transposição deste conhecimento biológico pode desafiar os educadores a buscarem metodologias que privilegiem os processos de reequilibração cognitiva a partir de desequilíbrios.
Em relação aos educandos, cada educador deverá atuar como um elemento de transposição, se inserindo e movimentando e com isto provocando as mudanças que levem à autonomia.
Para tanto, devemos proporcionar diversificadas formas de interação entre o sujeito e os objetos, sem nos deixar abater pela comodidade da rotina. Ao desacomodar-se o educador também será continuamente afetado pelo processo educativo avançando sempre e tornando-se um estudioso do ato de educar, produzindo conhecimentos e avanços nessa área.
Referências:
[1] GARDNER, E. J. ; SIMMONS, M. J. ; SNUSTAD, D. P. ; Principles of genetics , 2 ed., New York : John Wiley, 1991.
[2] HOUCK, Marilyn A. et al. Possible Horizontal Transfer of Drosophila Genes by the Mite Proctolaelaps regalis. Science. New York, v. 253, p. 1125-1129, 1991.
[3] PURUGGANAN, Michael D. Transposable Elements as introns: Evolutionary Connections. Trends in Ecology & Evolution. Elsevier, v. 8, n. 7, p. 239-243, July, 1993.
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