A necessidade de maiores graus de expressividade demandou aos lutiers a construção de instrumentos que satisfizessem às necessidades de dinâmica e volume, fator determinante da decadência do cravo como instrumento solista a partir do exaurimento composicional perpetrado pelos gênios barrocos.
Instrumentos que deram vida ao barroco e à música de Bach
A espineta foi criada em 1503, por um italiano chamado Giovanni Spinnetti. Produzia um som pouco mais forte que o do c1avicórdio e, por isso mesmo, tomou-se um instrumento bastante popular em sua época. Além do mais, podia ser fabricada em diferentes tamanhos, e as pequenas, portáteis, facilitaram a sua difusão. Colocada em cima de uma mesa, a espineta soava ainda mais forte. Tinha, entretanto, uma limitação bastante evidente: não permitia variações na totalidade de suas notas, mal se podia obter acordes, e a música era sempre executada no mesmo volume. Ou seja: todos os instrumentistas tocavam de uma maneira muito parecida. Emitia um som metálico, seco, limitado.
Na eterna busca de maior volume, mais variedade nos tons e recursos, os músicos e fabricantes de instrumentos continuaram trabalhando milito. E assim surgiu aquele que foi, durante muitos anos, o rei dos instrumentos de teclado: o Cravo. Com ele, tornou-se possível, mais do que nunca, obter sonoridades variadas. Grandes compositores da época (séculos XVI e XVII) puderam transformar idéias em sons e sentir que estavam sendo efetivamente traduzidos.
O instrumento foi mudando de tamanho e, por volta de 1600, surgiram cravos com teclados em dois andares e três cordas para cada nota, o que permitia uma variedade ainda maior de sons. Alguns cravos chegavam a ter quase cinco metros de comprimento, o que os tomava muito parecidos com os pianos de cauda atuais. Além disso, os fabricantes tentavam de tudo - aumentavam o número de cordas, por exemplo - para dar aos instrumentos o volume e a sonoridade esperados pelos instrumentistas e compositores.
Limitações no instrumento impediam a diferença entre os intérpretes
Todo o apogeu da música barroca ergueu-se sobre dois instrumentos, o órgão e o cravo. O auge de Domenico Scarlatti, por exemplo, Ocorreu por volta de 1670, e sua música escrita para cravo é essencial para que se entenda a importância do instrumento. Aquele que é considerado o mais completo compositor de todos os tempos, o alemão Johann Sebastian Bach, escreveu toda a sua obra para cravo. Na época, o instrumento permitiu que Bach revolucionasse a música, mas ainda tinha graves limitações: não permitia aos instrumentistas interpretações mais sensíveis ou inovações. E este foi, possivelmente, um dos fatores que determinaram o fim do império do cravo e o nascimento de uma nova era para a música: a chegada do pianoforte.
Curiosamente, foi a música de Bach, fazendo uso do cravo em todas as suas potencialidades, que acabou condenando o instrumento ao seu fim. Bach era Um gênio acima de qualquer parâmetro, e só ele conseguiria extrair do cravo toda aquela imensa variedade de resultados. Na época, o piano havia dado seus primeiros passos, ainda extremamente tímidos, mas parecia oferecer mais recursos. Como ninguém conseguiria igualar-se a Bach no cravo, o piano ganhou espaço. A confirmação de que nascera um novo e poderoso instrumento se deu quando a própria música de Bach foi transposta do cravo. Com isso, suas peças ganharam ainda mais fulgor e, por volta de 1750, o piano havia assumido o centro das atenções.
Por: Isaías Malta
Fonte: Três Séculos de Música para Piano – Caras
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